Contrabando de poesia

Escritores criativos dificilmente fazem sucesso. A voltagem do texto de invenção é para poucos. De vez em quando, uma grande editora se engraça com um deles, ou porque precisa nobilitar seu catálogo excessivamente mercantil, ou porque pressente que o dito autor está em vias de tonar-se notório – ganhou, por exemplo, algum prêmio literário. Nenhum … Ler mais

A encarnação do intertexto

Mineiro de Cruzília, Caio Junqueira Maciel se define como um “escritorzinho das encruzilhadas” sempre atacado de “coceira peterpânica”, a qual lhe permite nunca deixar extraviar a criança que um dia foi. Seu livro mais recente, Dia das mãos (2022), evidencia as razões do escritor (o diminutivo é modéstia para cingalês ver) ao sublinhar sua consideração … Ler mais

Vacas a tiracolo, inclusive

Mostra-se pela espessura do volume, que chega perto de igualar-se à do Ulysses de James Joyce, a pretensão da autora de A república dos sonhos (1984). Nélida Piñon parece ter pensado, com esse romance, estar a produzir uma obra grandiosa, e não faltou quem lhe subscrevesse a hybris, tendo havido até um resenhista da Publishers … Ler mais

“Contra” a literatura, mas a favor

Primeiro dado importante: a publicação é gratuita e pode ser baixada em https://ielt.fcsh.unl.pt/contra-a-literatura/. O livro Contra a literatura (2021) resulta de um evento promovido em 2017, na Universidade Nova de Lisboa, para discutir as possibilidades do ensino de literatura à luz das recentes reformas no ensino básico português, um daqueles rearranjos periódicos que a burocracia … Ler mais

Felicidade retroativa

Apesar de ser um livro de memórias, Feliz ano velho (1982) cabe, em termos, na definição de romance-reportagem, um tipo de livro muito comum naquela época. Grande sucesso de vendas, projetou Marcelo Rubens Paiva como escritor aos 22 anos, por meio de uma fórmula em que o estilo narrativo ágil se solda à tragédia do … Ler mais

Fagundes indica

A ser verdade – e deve ser – que os livros citados na telenovela Bom sucesso, transmitida em 2019 pela Rede Globo, tinham suas vendas aumentadas, a publicação de Tem um livro aqui que você vai gostar (2020) terá tido efeito semelhante. O título do volume repete a frase que o personagem Alberto, interpretado por … Ler mais

Almas Penadas F.C.

Alfredo Bosi assegura, a páginas tantas de sua monumental História concisa da literatura brasileira, que o romance de Cornélio Pena é “um conjunto absolutamente coeso e verossímil”. Opinião excessivamente generosa: A menina morta (1954), lido com o vagar devido e até obrigatório – pois é muito enfadonho –, revela-se, isso sim, uma narrativa que perdeu, … Ler mais

Mesmo que tardia

O que faz de Tropical sol da liberdade (1988) representativo de uma época é sua evocação dos momentos mais dramáticos da ditadura militar que se abateu sobre o Brasil em 1964. Afinal, como profetiza um de seus personagens, “Quando tudo isso passar, todo mundo vai esquecer” e “quem falar nisso ainda vai passar por mentiroso”: … Ler mais

Maria Moura e as brotoejas morais

Apesar de seu volume algo assustador, 600 páginas, Memorial de Maria Moura (1992) é um livro de leitura leve. O estilo da autora de O Quinze (1930) continuava, seis décadas depois de sua estreia na ficção, pautado pela fluência e pela clareza que a fizeram tão popular. Entretanto, se nesse tempo Rachel de Queiroz avançou … Ler mais

E os piolhos dos decapitados, para onde vão?

Com As horas nuas (1989), Lygia Fagundes Telles parece ter encerrado sua experiência no romance – se não deixou, é claro, algo inédito. E terá feito muito bem, pois o livro indica um projeto romanesco esgotado, tanto que consiste, em boa medida, numa reciclagem de personagens e situações das três narrativas longas que a escritora … Ler mais

Divertida aula de história e política

Não fosse o excesso de didatismo, Erico Verissimo talvez tivesse feito sua obra-prima em Incidente em Antares (1971), conseguindo a difícil proeza de superar Caminhos cruzados (1935). Mas o último romance do escritor gaúcho – autor de uma das obras mais significativas da ficção brasileira moderna – é muito marcado pela preocupação de esclarecer politicamente … Ler mais

Outro de Pagu

Em certo sentido, toda autobiografia é precoce, exceto a de Brás Cubas, que escreveu depois de morto. Enquanto a vida existe, ao menos em teoria é sempre possível a descoberta de um novo sentido para si e para o mundo. Assim, o título desse livro de Patrícia Galvão (1910-1962) é um pleonasmo, assim como o … Ler mais