O Programa Construindo Cidadãos, coordenado pelos professores Paulo Henrique de Souza, do curso de Geografia, e Denis da Silva Moreira, da Escola de Enfermagem, mobilizou a comunidade acadêmica e parceiros para promover o I Congresso TEA – Transtorno do Espectro Autista, realizado em 02/08. A ação teve apoio da Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência de Alfenas (FCDA), do Ministério das Possibilidades da Associação Mineira Sul e da Rede Adventista de Apoio às Famílias com Autismo (RAAFA) e reuniu cerca de 120 pessoas no Espaço Novo Tempo da Igreja Adventista do 7º Dia, em Alfenas. A transmissão ao vivo contabilizou mais de 1.100 acessos em tempo real, evidenciando o interesse da sociedade no tema.
O congresso recebeu juristas, profissionais de saúde, educadores e familiares para discutir, em rodas de conversa e painéis, temas como os direitos das pessoas com TEA, comorbidades associadas e estratégias terapêuticas baseadas em evidências. Na abertura, o professor Denis Moreira destacou que a ampla participação digital mostra a necessidade de fortalecer a rede de apoio e ampliar o acesso às políticas públicas inclusivas.

Debates, direitos e experiências em foco
No painel “O Transtorno do Espectro Autista (TEA): direitos garantidos por leis e políticas públicas”, a jurista Carla Bertini explicou a evolução legislativa em favor da inclusão. Ela ressaltou que a Lei nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana) instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA, assegurando acesso à saúde, educação, assistência social e ao trabalho, em complemento ao Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), que reconhece o autismo como deficiência. Apesar dos avanços, a jurista alertou para obstáculos na efetivação dos direitos, como a carência de profissionais especializados, de centros de atendimento e o cumprimento integral das normas em âmbito municipal.
A advogada também conduziu a roda de conversa “Pais que fazem mais!”, compartilhando vivências como mãe de dois filhos autistas. Em ambiente acolhedor, famílias deram testemunhos sobre o enfrentamento de preconceitos e burocracias, destacando a importância da informação, da união e do site “Autismo Legal”, apresentado como ferramenta de orientação.

A complexidade do autismo associado a outros transtornos foi tema da mesa “Transtorno do Espectro Autista e comorbidades: quando o autismo não vem sozinho”, mediada pela pedagoga e psicopedagoga Daiana Neves Silva Schelk e pela psicóloga e neuropsicóloga Lívia Helena S. Ferreira. As especialistas abordaram a presença frequente de TDAH, TOD, ansiedade, epilepsia e dificuldades sensoriais, defendendo diagnóstico precoce e planos terapêuticos interdisciplinares que considerem a singularidade de cada pessoa e contemplem as comorbidades que impactam a qualidade de vida das famílias.
Para suporte prático a cuidadores, a especialista em Análise do Comportamento Aplicada Crébia Teixeira apresentou o painel “Gestão de birras e comportamentos desafiadores: estratégias baseadas em evidências para famílias e profissionais”. Entre as orientações, destacou reforço positivo, estruturação do ambiente e ensino de habilidades alternativas para lidar com birras, agressividade, crises sensoriais e resistência a mudanças, sempre a partir da compreensão da função do comportamento.

Um dos destaques foi a tenda sensorial, experiência imersiva que permitiu aos participantes vivenciar, por instantes, a sobrecarga sensorial comum no espectro: sons intensos, luzes intermitentes, texturas variadas e estímulos visuais desorganizados. A iniciativa foi elogiada por profissionais e familiares e, segundo o professor Denis Moreira, favoreceu uma postura mais compreensiva e a reflexão sobre ambientes mais acessíveis e acolhedores.
Ainda de acordo com o docente da UNIFAL-MG, ao final do dia, a equipe organizadora celebrou o êxito da iniciativa e reforçou o compromisso de realizar novas edições. “O engajamento presencial e on-line confirma a importância de espaços de formação continuada, informação, acolhimento e mobilização social sobre o autismo”, afirmou.
Fotos: arquivo Denis Moreira