Pesquisa da UNIFAL‑MG usa inteligência artificial para enfrentar desigualdades raciais no pré‑natal

Estudo analisa registros do SUS para revelar falhas no cuidado a gestantes negras e ganha destaque em congressos internacionais
Parceria entre UNIFAL‑MG e IFSULDEMINAS aplica inteligência artificial para revelar desigualdades raciais no pré‑natal e parto (Foto: Canva Pro)

Uma pesquisa conduzida em parceria pela UNIFAL‑MG e pelo IFSULDEMINAS campus Passos, com recursos da Chamada nº 21/2023 – Estudos Transdisciplinares em Saúde Coletiva (CNPq/Ministério da Saúde), desenvolveu um modelo computacional capaz de classificar o risco de gestantes negras no pré‑natal e no parto. A iniciativa reuniu um grupo de pesquisadores composto por Simone Mara Ferreira Miranda, Yasmin Cristine Silva Alves, Patrícia Scotini Freitas, Heloísa Turcatto Gimenes Faria, Anna Paula Mendes Marques de Lima Franco, Mariana Helen Gonçalves Martins, Juliano de Souza Caliari (coordenador), Adílio Renê Almeida Miranda, Maria Clara Batista, Hiran Nonato Macedo Ferreira, Flávia Helena Pereira, Vinícius Alves Silva e Ricardo Morsoleto.

Os pesquisadores realizam encontros on-line para discutir etapas dos projetos (Foto: arquivo Patrícia Freitas)

Desigualdades persistentes e necessidade de equidade

Segundo os autores, “o objetivo foi desenvolver um modelo computacional de classificação de risco para mulheres negras durante a assistência pré‑natal e ao parto, utilizando técnicas de inteligência artificial aplicadas a grandes volumes de dados do Sistema Único de Saúde (SUS)”. Eles explicam que analisaram registros do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e do Sistema de Acompanhamento do Programa de Humanização no Pré‑Natal e Nascimento (SISPRENATAL). “Constatamos que mulheres negras ainda enfrentam piores condições de assistência no ciclo gravídico‑puerperal, reflexo de desigualdades raciais e sociais que impactam o acesso ao cuidado e resultam em maiores índices de desfechos maternos e neonatais adversos”, relatam. Para a equipe, o estudo contribui para a implementação efetiva da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, oferecendo subsídios para a reformulação de práticas assistenciais e para o combate ao racismo institucional.

Projetos derivados ampliam os resultados

Os autores destacam que o projeto original deu origem a duas pesquisas complementares. A primeira, intitulada “Assistência Pré‑Natal e Parto de Mulheres Negras no Brasil: Uma Revisão Integrativa”, foi realizada por Yasmin Cristine Silva Alves, Mariana Helen Gonçalves Martins e Anna Paula Mendes Marques de Lima Franco, com a colaboração de Heloísa Turcatto Gimenes Faria, Juliano de Souza Caliari e Adílio Renê Almeida Miranda e orientação de Simone Mara Ferreira Miranda e Patrícia Scotini Freitas. Esse levantamento revelou falhas significativas na atenção às gestantes negras, como número reduzido de consultas, ausência de orientações adequadas, restrição ao direito de acompanhante e ocorrência de violência obstétrica, além da presença de racismo institucional.

O segundo projeto, “Características Maternas e Aspectos das Assistências Pré‑Natal e Parto Associados aos Desfechos Neonatais Desfavoráveis em Mulheres Negras Brasileiras: Uma Abordagem Baseada em Regras de Associação com o Algoritmo Apriori”, conduzido por Yasmin Cristine Silva Alves e Ricardo Morsoleto, com participação de Anna Paula Mendes Marques de Lima Franco, Mariana Helen Gonçalves Martins, Simone Mara Ferreira Miranda e Patrícia Scotini Freitas, analisou mais de 1,3 milhão de registros do SINASC e evidenciou desigualdades raciais significativas entre gestantes negras e brancas.

Anna, Yasmin e Mariana no congresso em Buenos Aires (Foto: arquivo Patrícia Freitas)

Reconhecimento internacional

Os resultados da pesquisa estão sendo apresentados em eventos internacionais. As discentes Yasmin Cristine Silva Alves e Mariana Helen Gonçalves Martins, juntamente com Anna Paula Mendes Marques de Lima Franco, participaram do 13º Congresso Mundial da Sociedade Internacional sobre as Origens do Desenvolvimento da Saúde e da Doença (DOHaD), que ocorreu de 7 a 10 de setembro de 2025 em Buenos Aires; o tema do evento foi “DOHaD: A Bridge Towards One Health”, integrando as perspectivas de saúde humana, animal e ambiental.

A discente Yasmin Cristine enfatiza que participar do projeto foi uma experiência transformadora: “Trabalhar em uma pesquisa extensa, com múltiplos recortes e possibilidades analíticas, e colaborar com pesquisadores de excelência, foi extremamente enriquecedor. A possibilidade de apresentar os resultados em congressos internacionais reforça nosso compromisso com a tríade ensino, pesquisa e extensão.”

A pesquisa também será apresentada no XXV FIGO World Congress of Gynecology and Obstetrics, em Cape Town, África do Sul, de 5 a 9 de outubro de 2025. A UNIFAL‑MG será representada pela professora Patrícia Scotini Freitas e pelo docente Adílio Renê Almeida Miranda, acompanhados da bolsista Simone Mara Ferreira Miranda.

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