Principais problemas são vivenciados e sentidos de forma diferente por homens e mulheres, é o que aponta pesquisa da UNIFAL-MG
Marcelo Conceição¹
Alessa Lopes²
Se a violência foi o principal problema para os homens, a saúde era o que mais preocupava as mulheres.
Foi bastante destacada a diferença das percepções apresentadas por homens e mulheres acerca do principal problema do município. O gráfico abaixo indica que as questões de saúde (26,4%) foram a principal preocupação para as mulheres. Já para os homens, a violência (28%), seguida pelo desemprego (23,2%), eram os causadores de preocupações.
De acordo com essas indicações, alguns elementos podem ser apresentados parta discutir as diferenças. O cuidado das mulheres com os demais membros familiares, as coloca mais próximas aos serviços de atendimento e também à vida das demais pessoas da casa onde vivem.
Para os homens, ainda permanece a questão do sustento como seu dever, o que pode indicar maior preocupação com o desemprego, mas também com a violência, que foi o problema mais destacado por eles.
As transformações sociais em relação às formas de vida de homens e mulheres têm produzido novas forma de organização das famílias e das inserções com os demais aspectos da vida como trabalho, lazer e direitos e deveres.
O gráfico abaixo indica a quantidade de cada problema citado pelos 250 entrevistados no município de Alfenas.
Em termos de percentual, foi dessa maneira:
– Violência – 22,8%;
– Desemprego – 20,8%;
– Saúde – 18,8;
– Não tem problema – 8,0%;
– Políticos – 4,8;
– Custo de vida alto – 4,4%;
– Ausência de planejamento – 4,0%;
– Drogas/tráfico – 4,0;
– Mobilidade urbana – 3,2;
– Obras – 2,8;
– Saneamento básico – 2,8%;
– Educação – 1,2%.
Alfenas e Poços apresentaram a violência como principais problemas, mas para o Sul de Minas e Varginha o desemprego é mais sentido.
Há, também, diferenças entre outros segmentos populacionais, como:
- a violência foi o problema para quase 31% dos entrevistados entre 35 e 44 anos; a saúde, como para as mulheres, é a maior preocupação dentre os que tem mais de 60 anos, 25%;
- mais de 31% com ensino médio e mais de 26% com ensino superior apontaram a violência como principal problema, e quase 30% dos que não têm instrução indicaram a saúde como maior problema;
- a violência preocupava mais aqueles que ganhavam entre cinco e dez salários mínimos, 32,5%, já a saúde era o principal problema para quase 26% dos que ganhavam até dois salários mínimos;
- violência, 23,4%, e desemprego, 21,3%, foram mais destacados por moradores da zona urbana, e a saúde, 33,3%, por moradores da zona rural;
- os pretos indicaram preocupação com o desemprego de forma mais acentuada, 33,3%, já para os brancos a violência foi mais destacada, 28,5%.
Todas essas diferentes percepções são importantes a serem melhor analisadas e discutidas. Para tanto, é preciso analises e reflexões sociológicas que relacionem, por meio da identificação de categorias com as citadas acima (sexo, renda, local de moradia, faixa etária, escolaridade, raça/cor) de forma a compreender como membros de diversos grupos sociais são afetados de forma e em grau diferente pelos principais problemas sociais, e como os identificam de acordo com suas necessidades, visões de mundo e posições que ocupam em diversos setores da vida como família, trabalho, vizinhança, movimentos sociais (políticos, profissionais, esportivos, etc.).
Além disso, cabe destacar a necessidade de o poder público traçar estratégias, por meio de polípticas públicas específicas, que visem atender às necessidades apresentadas pelos cidadãos.
Marcelo Conceição é sociólogo, mestre e doutor em Educação: História, Política, Sociedade. Professor do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG, atua na área de Sociologia, principalmente nos seguintes temas: teoria social, métodos e técnicas de pesquisa, racionalização e estatísticas sociais. Lidera o grupo de pesquisas “Sociedade Industrial: processos e teorias sociais” e o projeto de extensão “A imaginação sociológica e o Sul de Minas”.
Alessa Lopes é acadêmica do curso de Ciências Sociais (Bacharelado) da UNIFAL-MG e bolsista de iniciação científica do projeto de pesquisa “A Identidade Sul-Mineira – Diagnóstico cultural, social e político do Sul de Minas Gerais”, integrando também o projeto de extensão “A imaginação sociológica e o Sul de Minas”.
(As opiniões expressas nos artigos publicados no Jornal UNIFAL-MG são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do Jornal UNIFAL-MG e nem posições institucionais da Universidade Federal de Alfenas).