Além das siglas: um panorama sobre o voto em Alfenas

Atualizado em 5 de fevereiro de 2024 às 19:18

Pesquisa aponta que 62% dos alfenenses não tem identificação com partidos

Kely Cássia Davi¹
Matheus Fernandes da Silva de Oliveira²

Em Alfenas, 62% dos entrevistados não se identificavam com nenhum partido e/ou ideologia partidária. Já os 38% restantes são cidadãos que se identificavam com algum partido. Desses 38%, havia 68% de esquerda, 27% de centro e 4% de direita.

No município de Alfenas, dos entrevistados que se identificavam com partidos da direita, 100% votaram em Bolsonaro em 2018, padrão também observado no Sul de Minas. Tal fato demonstra a fidelidade partidária da comunidade que se reconhece como de direita.

Fonte: Pesquisa identidade sul mineira – UNIFAL-MG, 2021.

 

Quem se identificava com a direita vota em candidatos da direita, mas essa lógica não se aplicou aos esquerdistas. Como se observa, há uma certa desorientação por parte desses, com 40% votando no Haddad, associado ao Partido dos Trabalhadores (PT), outros 40% em nenhum e 20% em Bolsonaro. Ou seja, parte daqueles que afirmam se identificar com a esquerda votaram em Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018. Também se observa que os que se identificavam com partidos de centro votaram mais em Bolsonaro e menos de 4% em Haddad.

No que se refere à relação entre religião e identificação partidária, nota-se em Alfenas o mesmo fenômeno do Sul de Minas: a maioria das pessoas não se identifica com nenhum partido, sendo o grupo “Outras” (que incluem cristãos que não são católicos ou evangélicos) o único em que a maioria das pessoas cita algum partido, e mais da metade deles são adeptos da esquerda. Em todos os grupos religiosos, a maioria dos que citaram algum partido são da esquerda.

Fonte: Pesquisa identidade sul mineira – UNIFAL-MG, 2022

 

O que se destaca mais é o grupo dos evangélicos, em que nenhum se identifica com partidos de direita e há um maior índice dos partidos de centro. Entre os evangélicos, a diferença entre os de esquerda e os de centro é de apenas 2 pontos percentuais.

Após as eleições de 2018, com a vitória do ex-presidente Jair Bolsonaro, opositores argumentaram que essa vitória ocorreu por conta do apoio das igrejas evangélicas durante as eleições, que eram em grande parte favoráveis ao candidato.

Criou-se assim, uma ideia de que os evangélicos eram os responsáveis pela vitória de Bolsonaro por serem a parte conservadora da sociedade. É importante notar, todavia, que o conservadorismo não é o único motivador para essa posição política, pois também há interferência de outros fatores, como a liberdade econômica, influenciada pela “teoria da prosperidade. Entretanto, também é importante se atentar para o fato de que as igrejas evangélicas se diferenciam muito entre si, podendo ter ideias até mesmo antagônicas entre elas, o que mostra que generalizá-las pode ser um equívoco.

 

Fonte: Pesquisa identidade sul mineira – UNIFAL-MG, 2021.

 

Ao se analisar o comportamento de cada grupo religioso de Alfenas, pode-se observar que os evangélicos realmente foram os que mais votaram em Bolsonaro, mais de 50%. Entre os outros grupos, os maiores percentuais foram de pessoas que afirmaram não ter votado em nenhum dos dois candidatos. Todavia, ao se analisar os que citaram algum candidato, percebe-se que católicos também votaram em massa em Bolsonaro, e que apenas 11% — mesma porcentagem dos evangélicos — votaram em Haddad. Esse resultado mostra que a vitória de Bolsonaro não se deve apenas a evangélicos, pois católicos também constituíram uma força na vitória da direita em 2018.

Desse modo, o que se observa é que o alinhamento a Bolsonaro pode não estar unicamente ligado ao pensamento evangélico, mas sim a ideais que aparecem em diversos grupos da população, e maiormente entre católicos e evangélicos, como se observou em Alfenas, além de também ter convencido aqueles que acreditaram na imagem de Bolsonaro como alguém externo à política, assim como outros fatores e até mesmo o episódio ocorrido em Juiz de Fora, quando o então candidato sofreu uma facada.

Com isso, o que se observou foi que ao se falar em ideologia partidária, todos os grupos tendem mais à esquerda, mas ao falar dos votos, as porcentagens mudaram e até se inverteram: nenhum evangélico declarou identificação com partidos de direita em Alfenas, mas mais da metade votou em Bolsonaro; assim como 25% dos católicos se identificaram com partidos de esquerda, mas apenas 11% votaram em Haddad. Houve simpatizantes da esquerda votando em Bolsonaro, mostrando uma menor fidelidade entre aqueles que se declararam apoiadores de partidos de esquerda.

Os dados analisados são da Pesquisa Identidade Sul-Mineira, realizada pela UNIFAL-MG, que entrevistou 1320 moradores em 20 municípios do Sul, entre os dias 14 de maio e 11 de junho de 2022. O Sul de Minas é entendido como um conjunto de 162 municípios que fazem parte das regiões intermediárias de Pouso Alegre e Varginha. Esta pesquisa tem relevância não apenas para conhecer as características regionais e aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos do Sul de Minas, como também identificar as preocupações da população para auxiliar a elaboração de políticas públicas para a população.

Acesse a pesquisa completa em: Identidade Sul-Mineira: Diagnóstico cultural, social, político e econômico do Sul de Minas Gerais”

Texto elaborado  sob a supervisão dos professores Marcelo Conceição e Luís Groppo.


 

¹Kely Cássia Davi possui graduação em Administração pelo Centro Universitário da Fundação Educacional de Guaxupé (2017) e, atualmente, é acadêmica do curso de Ciências Sociais (Bacharelado) da UNIFAL-MG e integrante do projeto de extensão “A imaginação sociológica e o Sul de Minas”.

 


²Matheus Fernandes da Silva de Oliveira é acadêmico do curso de Ciências Sociais (Bacharelado) da UNIFAL-MG e integrante do projeto de extensão “A imaginação sociológica e o Sul de Minas”.

 

 

 


(As opiniões expressas nos artigos publicados no Jornal UNIFAL-MG são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do Jornal UNIFAL-MG e nem posições institucionais da Universidade Federal de Alfenas).

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