O mercado mundial de alimentos prebióticos, especialmente de fruto-oligossacarídeos (FOS), apresenta aumentos expressivos na sua demanda em função dos benefícios que proporcionam à saúde e nutrição humana e animal. Em contrapartida, a produção industrial de FOS no Brasil é limitada por questões operacionais e econômicas. Pensando nisso, pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia da UNIFAL-MG, em parceria com a UNICAMP e o Massachusetts Institute of Technology (MIT/ Estados Unidos), estão desenvolvendo um projeto de pesquisa a fim de produzir açúcares com propriedades nutracêuticas.
O estudo teve início em junho, com a chegada do estudante de Química do MIT, Nicolás Adriel Manno, que veio ao Brasil para realizar um estágio no Laboratório de Tecnologia Enzimática e Bioprocessos da UNIFAL-MG campus Poços de Caldas, sob coordenação e supervisão do professor Rafael Firmani Perna e da pesquisadora de pós-doutorado, Ana Carolina Vieira. “Nós estamos desenvolvendo esses biocatalisadores para que a gente faça a produção dos chamados açúcares prebióticos. Os FOS apresentam diversos benefícios para a saúde e nutrição humana, por exemplo, eles não são cariogênicos, eles aumentam a absorção de cálcio e magnésio pelo intestino humano, eles podem ser seguramente consumidos por diabéticos, pois são açúcares de baixa caloria, auxiliam no tratamento de doenças cardiovasculares, previnem o câncer de cólon e estimulam a proliferação de Bifidobacterium no intestino humano, pois são agentes prebióticos” , explicou o professor Rafael.
De acordo com ele, as atividades experimentais, desenvolvidas em parceria com o MISTI-Brazil/ MIT Global Experiences, programa de excelência do MIT, estão contempladas nos projetos do grupo de pesquisa em “Tecnologia Enzimática e Bioprocessos”, sediado na UNIFAL-MG campus Poços de Caldas, e que conta com a colaboração de diversos laboratórios espalhados pelo Brasil. Tais projetos são financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “As atividades de pesquisa realizadas pelo Nicolás foram idealizadas por mim e pelo professor Everson Alves Miranda, da UNICAMP. Por quase uma década, o grupo de pesquisa vem desenvolvendo biocatalisadores a partir da imobilização de células microbianas para a produção de biomoléculas de valor agregado e de interesse industrial, sendo uma delas os FOS. A pesquisa, em parceria com o MIT/EUA, centrou-se na prospecção de um suporte de imobilização de células microbianas, com atividade enzimática, capaz de ser sintetizado a partir de diferentes monômeros e que, quando submetidos à técnica de criopolimerização, favorece a formação de macroporos interconectados”, explicou o professor do ICT.
A primeira fase da pesquisa foi realizada no Laboratório de Interação Molecular e Bioengenharia (LIMBIO) da UNICAMP, local em que ocorreu o treinamento técnico e aplicação de protocolos experimentais voltados à tecnologia de produção de suportes de imobilização à base de criogéis. O treinamento técnico foi ministrado pelo doutorando Igor Ferreira Fioravante, sob a supervisão da Profa. Sonia Maria Alves Bueno, coordenadora do laboratório. Já a segunda fase, foi a desenvolvida no Laboratório de Tecnologia Enzimática e Bioprocessos da UNIFAL-MG, local em que ocorreu a maior parte das atividades experimentais voltadas à engenharia de bioprocessos.
Segundo Nicolás, que estuda nos EUA, mas é argentino, a experiência tem sido benéfica para sua formação acadêmica. “Durante minha passagem pelo Laboratório de Bioprocessos, tive a oportunidade de explorar uma área do conhecimento que desconhecia, obtendo valiosas experiências em primeira mão devido a interdisciplinaridade. Também aprendi algumas novas técnicas experimentais, como a preparação de criogel e a inoculação de fungos. Essa experiência me possibilitou conhecer nossa nação irmã, o Brasil, e seu povo encantador, além de me ajudar a desenvolver minhas habilidades de pesquisa”, contou o estudante do 3º ano de Química do MIT.
Para o Prof. Rafael, a vinda do Nicolás ao Brasil envolveu diversos desafios profissionais, como adaptar-se à rotina de trabalho intensa do grupo, sintetizar um suporte de imobilização específico e se dedicar, integralmente, às atividades experimentais focadas na Engenharia de Bioprocessos. “Os desafios foram superados com maestria, consequência de muito trabalho, dedicação e seriedade em um intervalo de tempo relativamente curto (três meses). Seu envolvimento com alunos do nosso grupo foi super agregador e muitas experiências foram compartilhadas, quase que diariamente, entre todos os envolvidos no projeto. Os resultados gerados representam, sem dúvidas, o início de uma sequência de estudos sobre a imobilização de células microbianas em criogéis monolíticos para a produção enzimática dos FOS. Representa, também, o início de uma relação de cooperação frutífera e longínqua com o MISTI Brazil, programa de excelência do Massachusetts Institute of Technology (MIT/ EUA)”, disse.
Já o Prof. Everson, da UNICAMP, destacou os benefícios do intercâmbio acadêmico, tanto para o Nicolás quanto para os pesquisadores nacionais que o acolheram. Para ele, “o dia a dia dele no laboratório em Poços e em Campinas lhe permitiu uma percepção de pesquisas feitas no Brasil, assim como propiciou a nós brasileiros uma percepção do que é o mundialmente famoso MIT. Sendo o Nico – como é carinhosamente chamado o Nicolás – estrangeiro tão perto de nós (ele é argentino) um pouco do Brasil será levado tanto para os EUA como para a Argentina. Desta forma, desde o aspecto científico ao social e cultural, este estágio estreita a relação entre povos, contribuindo para um mundo, não só mais tecnológico, mas também mais humano.”
A pesquisadora Ana Carolina, integrante do grupo de pesquisa em Tecnologia Enzimática e Bioprocessos, finaliza ressaltando a colaboração científica e cultural do estudo realizado por Nicolás. “A pesquisa desenvolvida agregou ao grupo uma nova tecnologia de suporte para imobilização de células microbianas com atividade enzimática que apresentou ótimas perspectivas para ser aplicado junto a estudos de outros pesquisadores. As informações de hábitos tanto do ambiente de pesquisa quanto acadêmico trouxeram novos olhares para os membros do grupo, além de gerar o interesse em ampliar cada vez mais esse intercâmbio”. Para ela a experiência foi gratificante: “essa troca é extremamente importante para aproximar pessoas para desenvolvimento de parcerias em prol do crescimento profissional e pessoal dos pesquisadores, independente da fase acadêmica que estejam”.