Pequeno museu de novidades

Morto no final do ano passado, Olavo Romano foi um escritor privilegiado, daqueles que só precisam escrever na medida do prazer que a atividade lhes causa e pode proporcionar a seus leitores. Mineiro nascido no distrito de Morro do Ferro, em Oliveira, trabalhou na Fundação João Pinheiro e como professor de inglês em colégios, tendo-se … Ler mais

O outro nome do Apocalipse

Platão, em seu diálogo Fedro, deplora a invenção da escrita. O filósofo associava-a à decadência intelectual, em sua opinião decorrente de os pensadores não precisarem mais decorar nada, pois que tudo podia ser conservado por meio dos textos, e em consequência as pessoas não mais saberiam o suficiente sobre o mundo e os problemas humanos. … Ler mais

Estrabuleguice araxaense

Por estranha que pareça a expressão, Grogotó (2000) é uma encruzilhada de sínteses. Não por acaso o poeta e crítico José Paulo Paes usou as palavras ideograma e epigrama para tentar definir os minicontos de Evandro Affonso Ferreira; a escrita chinesa e a inscrição lapidar grega têm em comum o caráter extremamente sintético, sendo por … Ler mais

Pronto-socorro filosófico

O escritor norueguês Jostein Gaarder propôs a si mesmo, com O mundo de Sofia (1991), um duplo desafio: contar uma história imaginária e, dentro dela, resumir toda a filosofia ocidental. Saiu-se melhor na parte mais importante, a do resumo; realmente, seu livro apresenta um verdadeiro pronto-socorro filosófico para leigos nessa matéria ao selecionar, com didatismo … Ler mais

Goiano entre aspas

O escritor goiano José J. Veiga publicou quase duas dezenas de livros de ficção, carreira iniciada em 1959 com os ótimos contos de Os cavalinhos de Platiplanto. Sua forma narrativa preferida acabou sendo a novela, de que deu à literatura brasileira exemplares notáveis como A hora dos ruminantes (1966) e Sombras de reis barbudos (1972), … Ler mais

Mágico vampiro

Dalton Trevisan, 98 anos, é o mais importante escritor brasileiro vivo. Pratica sistematicamente, em seus contos, uma cruel inversão hiper-realista dos dois temas mais batidos do Romantismo, o amor e a morte. A ficção do “vampiro de Curitiba” (apelido devido ao título de um de seus livros) é feita de poucos elementos, explorados de modo … Ler mais

Cruéis e esquisitos

Entre as misérias incalculáveis do mercado editorial brasileiro, cujo oportunismo financista tem relação com a decadência do ensino básico e o aviltamento da comunicação social nos últimos trinta e poucos anos, está o fato de ainda não contarmos com uma tradução decente dos Contos cruéis (1883). Falamos de um dos livros mais representativos do estilo … Ler mais

17 mulheres notáveis

É a própria autora quem diz, na conclusão de Histórias de mulheres (1996), não ter pretendido fazer hagiografias, e sim pequenos estudos sobre mulheres notáveis. Seu conceito de notabilidade é muito pessoal, e, no caso das 16 biografadas pela espanhola Rosa Montero nesse livro, ser uma mulher notável significou, em geral, ser infeliz. Como as … Ler mais

Novas notícias de Amadeu de Queiroz

Está na ordem do dia falar mal do “cânone” literário, mas o fato é que ele acerta cem vezes mais do que erra. Já os seus detratores, nada mais fazem do que propugnar (às vezes sem ter consciência disso) um outro cânone, mais de acordo com suas preferências afetivo-ideológicas. Mas, boa notícia: o esquecimento da … Ler mais

Olhos de chuchu e mais alumbramentos

Dizem os últimos versos da ótima antologia poética de Eustáquio Gorgone de Oliveira: “quem fica insepulto/ é aquele que espera pelos leitores”. Nesse sentido, o autor ficou um pouco mais “sepultado” com essa reunião, organizada por Edimilson de Almeida Pereira e Prisca Agustoni, de poemas tirados dos seus 22 livros publicados, o primeiro de 1974, … Ler mais

A mulher, o camundongo, a morte etc.

Dona de um estilo fluente e correto, a gaúcha Cíntia Moscovich merece os vários prêmios que sua obra lhe tem trazido. Seus méritos estão bem representados na coletânea de contos Anotações durante o incêndio (2006), que, talvez por isso mesmo, não foi nenhum sucesso estrondoso de vendas. A qualidade, decididamente, está cada dia mais fora … Ler mais

Guimarães Rosa, 52 a.Z.

Nem o húngaro-brasileiro Paulo Rónai, com os privilégios de sua erudição e da amizade com João Guimarães Rosa, arriscou-se a emitir juízos definitivos sobre Tutameia (1967). Em posfácio ao último livro do escritor, Rónai diz que “Nós, os temulentos”, um dos quatro prefácios escritos pelo próprio autor para o volume, “deve ser mais” que uma … Ler mais

Afinal, quem é o bobo?

Qualquer impulso pode explicar uma leitura atual de O bobo, publicado pela primeira vez em 1843 num semanário português, menos a intenção de divertir-se. O romance de Alexandre Herculano é excelente exemplo de um estilo que envelheceu pessimamente, se é que já não era enfadonho em sua própria época. As primeiras 30 ou 40 páginas, … Ler mais

Resgate literário

De uma bonita relação afetiva, o pouso-alegrense Fernando Henrique do Vale tirou o impulso para o importante resgate que faz no livro Amadeu de Queiroz: um imortal sul-mineiro, publicado em bem cuidada edição custeada por recursos obtidos por meio de uma lei municipal de incentivo à cultura. Se esse dinheiro existe por aí, como possibilidade … Ler mais