Olhos de chuchu e mais alumbramentos

Dizem os últimos versos da ótima antologia poética de Eustáquio Gorgone de Oliveira: “quem fica insepulto/ é aquele que espera pelos leitores”. Nesse sentido, o autor ficou um pouco mais “sepultado” com essa reunião, organizada por Edimilson de Almeida Pereira e Prisca Agustoni, de poemas tirados dos seus 22 livros publicados, o primeiro de 1974, … Ler mais

A mulher, o camundongo, a morte etc.

Dona de um estilo fluente e correto, a gaúcha Cíntia Moscovich merece os vários prêmios que sua obra lhe tem trazido. Seus méritos estão bem representados na coletânea de contos Anotações durante o incêndio (2006), que, talvez por isso mesmo, não foi nenhum sucesso estrondoso de vendas. A qualidade, decididamente, está cada dia mais fora … Ler mais

Guimarães Rosa, 52 a.Z.

Nem o húngaro-brasileiro Paulo Rónai, com os privilégios de sua erudição e da amizade com João Guimarães Rosa, arriscou-se a emitir juízos definitivos sobre Tutameia (1967). Em posfácio ao último livro do escritor, Rónai diz que “Nós, os temulentos”, um dos quatro prefácios escritos pelo próprio autor para o volume, “deve ser mais” que uma … Ler mais

Afinal, quem é o bobo?

Qualquer impulso pode explicar uma leitura atual de O bobo, publicado pela primeira vez em 1843 num semanário português, menos a intenção de divertir-se. O romance de Alexandre Herculano é excelente exemplo de um estilo que envelheceu pessimamente, se é que já não era enfadonho em sua própria época. As primeiras 30 ou 40 páginas, … Ler mais

Resgate literário

De uma bonita relação afetiva, o pouso-alegrense Fernando Henrique do Vale tirou o impulso para o importante resgate que faz no livro Amadeu de Queiroz: um imortal sul-mineiro, publicado em bem cuidada edição custeada por recursos obtidos por meio de uma lei municipal de incentivo à cultura. Se esse dinheiro existe por aí, como possibilidade … Ler mais

Filosofia de bolso

Como todo cronista, a gaúcha Martha Medeiros tem suas teorias. É um efeito colateral do ofício: à força de falar sobre todos os assuntos e quase todos os dias, cada autor acaba desenvolvendo explicações particulares para os fatos. Martha, por exemplo, pensa que as mulheres que usam botox, falam alto demais e usam “bronzeados e … Ler mais

Bem longe do guia turístico

Ler literatura portuguesa pode trazer de volta, para quem teve uma infância leitora, aquele prazer antigo de deparar com pequenas dificuldades de entendimento do vocabulário e da sintaxe, certo estranhamento que quase nos faz sentir que estamos lendo um texto em outra língua. No caso da obra de Miguel Torga (1907-1995), esse prazer às vezes … Ler mais

A “América” vista pelo avesso

Poucos ficcionistas têm, como John Fante, tão fina noção de quanta poesia precisa conter a prosa para ser boa. Esse é um dos segredos de sua obra, capaz de continuar interessando a leitores de uma época e de um contexto social tão diferentes daqueles em que foram produzidos romances como Pergunte ao pó (1939) e … Ler mais

Boa prosa sul-mineira

Como diz o autor no prólogo, Por dentro do redemunho (1995) se compõe de “relatos orais de histórias passadas de boca em boca”, constituindo um “resgate da linguagem” falada outrora na microrregião que abrange as vizinhanças da cidade de Cabo Verde: Divisa Nova, Muzambinho, Campestre, Alfenas e Areado. Observadas essas dimensões, a obra de Victor … Ler mais

Não é tudo isso, gente

Só mesmo na confusão mental que ultimamente tomou conta, no Brasil, do que deveriam ser as classes pensantes, um escritor de recursos técnicos tão limitados poderia ser celebrado como grande autor de ficção: Torto arado, que ganhou vários prêmios importantes (Leya, Oceanos e Jabuti), serviu para catapultar em poucos anos o baiano Itamar Vieira Junior … Ler mais

A página como lugar de encontro

Em seu primeiro terço, O leitor do trem das 6h27, premiado romance do francês Jean-Paul Didierlaurent que, poucos anos depois de sua primeira edição, já interessou a editoras de 25 países, parece previsível. Ao acompanharmos o dia a dia do operário Guylain Vignolles, temos a impressão de estar diante de uma narrativa distópica cujo protagonista, … Ler mais

Contrabando de poesia

Escritores criativos dificilmente fazem sucesso. A voltagem do texto de invenção é para poucos. De vez em quando, uma grande editora se engraça com um deles, ou porque precisa nobilitar seu catálogo excessivamente mercantil, ou porque pressente que o dito autor está em vias de tonar-se notório – ganhou, por exemplo, algum prêmio literário. Nenhum … Ler mais

A encarnação do intertexto

Mineiro de Cruzília, Caio Junqueira Maciel se define como um “escritorzinho das encruzilhadas” sempre atacado de “coceira peterpânica”, a qual lhe permite nunca deixar extraviar a criança que um dia foi. Seu livro mais recente, Dia das mãos (2022), evidencia as razões do escritor (o diminutivo é modéstia para cingalês ver) ao sublinhar sua consideração … Ler mais