Tratamento com medicamento chamado rimonabanto recupera a memória e a sensação de prazer em ratos submetidos a estresse leve

Estudo realizado na UNIFAL-MG aponta potencial terapêutico do fármaco para pesquisas ainda a serem feitas com humanos
A imagem é ilustração digital de uma rede neural estilizada. A composição remete à representação artística de sinapses ou interações celulares.
Imagem ilustrativa. (Foto: Reprodução/Canva Education)

Pesquisadores da UNIFAL-MG identificaram o papel do medicamento rimonabanto na reversão significativa da anedonia, que é a incapacidade de sentir prazer ou interesse em atividades do dia a dia, e da perda de memória induzidas pelo estresse em modelos animais. Os resultados lançam para a comunidade científica uma nova alternativa de tratamento para problemas cognitivos associados com depressão e doenças degenerativas, devendo esta estratégia ainda ser confirmada por estudos realizados em humanos, chegando de maneira segura ao alcance da sociedade. 

Luana Chagas – acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Biociências Aplicadas à Saúde e autora da pesquisa, e Silvia Ruginsk Leitão – orientadora. (Fotos: Arquivo Pessoal)

A pesquisa é parte da tese de doutorado da discente Luana Aparecida Chagas, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Biociências Aplicadas à Saúde (PPGB) da UNIFAL-MG. O estudo conta com a orientação da docente Silvia Graciela Ruginsk Leitão, do Departamento de Ciências Fisiológicas do Instituto de Ciências Biomédicas da UNIFAL-MG, com a participação de pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) Lucila Leico Kagohara Elias e José Antunes Rodrigues, e das estudantes do curso de Medicina Jessica Cristine Trentini Penna e Julia Forchero Gonçalves. Os resultados foram publicados em artigo no periódico científico Behavioural Brain Research em outubro (2) deste ano. 

Na pesquisa, foram utilizados 74 ratos Wistar machos adultos, os quais foram submetidos a um protocolo leve e indolor de contenção física, com duração de 1h/dia, durante 7 dias. O estresse gerado pela contenção física induziu a anedonia, um comportamento semelhante à depressão e reduziu a capacidade de reconhecer objetos, indicando prejuízo da memória. Ao final do protocolo de estresse, os pesquisadores administraram uma única dose (3 mg/Kg) de rimonabanto, um antagonista do receptor canabinoide tipo 1 (CB1), por via intraperitoneal. Os efeitos da administração aguda de rimonabanto foram avaliados sob aspectos comportamentais, neuroendócrinos e funcionais.

Como novidade, o estudo mostra que os efeitos do estresse leve de contenção física estavam ausentes nos ratos que foram tratados com o fármaco. Esses efeitos estão relacionados aos níveis aumentados de cortisol, o “hormônio do estresse”, no sangue e ao aumento da massa relativa da adrenal, a glândula produtora de cortisol. Desse modo, os ratos tratados com rimonabanto apresentaram desempenho de memória parecido com o de animais não estressados. Além disso, o tratamento farmacológico ​​demonstrou ter um efeito benéfico na redução da anedonia.  

No texto, os pesquisadores reforçam que extrapolar os resultados obtidos com modelos animais para condições humanas é bastante razoável e representativo no contexto do estudo. “Mesmo que a participação dos receptores CB1 em quadros depressivos e na retenção de memória ainda necessite de maiores esclarecimentos, as descobertas da pesquisa sustentam um potencial benefício do tratamento com rimonabanto no gerenciamento da função cognitiva”, descrevem os autores no artigo publicado. A expectativa dos autores é de que estes resultados sirvam ainda de base para subsidiar o uso de canabidiol, que é um derivado da planta Cannabis sativa que sabidamente produz efeitos neuroprotetores relacionados à ativação de receptores CB1 do cérebro. A partir destes resultados, os pesquisadores também se inseriram em pesquisas que visam esclarecer o papel do canabidiol na função cerebral em uma outra condição muito relevante para a sociedade, que é o abuso de crack/cocaína.

O presente estudo foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG): bolsa de pesquisa número RED-00103-22 para Silvia Graciela Ruginsk Leitão, e bolsa individual de doutorado para Luana Aparecida Chagas.

Para ler o resumo do artigo, acesse aqui

Vitoria Gabriele Souza Geraldine é acadêmica do curso de Medicina da UNIFAL-MG e bolsista do projeto +Ciência, cuja proposta é fomentar a cultura institucional de divulgação científica e tecnológica. A iniciativa conta com o apoio da FAPEMIG por meio do Programa Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia para desenvolvimento.

*Texto elaborado sob supervisão e orientação de Ana Carolina Araújo

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