Tarifaço de 50% dos Estados Unidos e o impacto nas exportações de café em Alfenas-MG

(Foto: Arquivo/Flamarion Alves)

Os recentes movimentos políticos impostos pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos exportados pelo Brasil, têm causado incertezas a produtores, empresas e trabalhadores em geral em diversos setores da economia, com o tarifaço de 50%.

Essa medida, que entrará em vigor em 6 de agosto de 2025, excluiu uma lista de 694 produtos brasileiros que são exportados, entretanto, o café não está na lista e será taxado com 50% do preço do produto.

No contexto global, em 2022 foram produzidos 9,2 milhões de toneladas de café, e isto está associado a dimensão da área plantada, as técnicas utilizadas, variedades de espécies, tipos de solos, clima, mão-de-obra e outros fatores interferem na produtividade. Nesse caso, o Brasil ocupa o primeiro lugar com 3.019 milhões de toneladas, seguido do Vietnã com 1.460 milhões de toneladas, Colômbia com 745 mil toneladas e Indonésia com 639 mil toneladas, estes 4 países concentram 63,6% da quantidade produzida de café no mundo (Alves, 2024).

O Brasil é o maior produtor de café do mundo com 32,8% em 2022, e o Estado de Minas Gerais produz quase 55% desse total e a região do Sul de Minas Gerais é responsável por quase 25% da produção nacional (IBGE, 2017). Diferente de outras commodities produzidas no país, que estão baseadas nas médias e grandes propriedades rurais, no Sudoeste de Minas Gerais a pequena propriedade e os agricultores familiares correspondem a quase 75% dos estabelecimentos rurais produtores de café (Alves e Lindner, 2020; Alves, 2021; Alves, 2023).

Considerando as exportações de café do Brasil, de janeiro a junho de 2025, os Estados Unidos é o principal destino do grão, representeando 16,3% totalizando 1,2 bilhões de dólares (Comexstat, 2025). Entretanto, as regiões produtoras do café podem variar nessas relações de exportações com outros países, tendo maior ou menor dependência dos Estados Unidos.

Considerando a Região Imediata de Alfenas, que é composta por 13 municípios, o impacto do tarifaço será sentido em todos os municípios, pois o café é comercializado em diferentes municípios, como Alfenas, Varginha, Machado, entre outros (Mapa 1).

Mapa 1 – Quantidade produzida e exportações de café da Região Imediata de Alfenas – MG, 2021-2022. Organização: Flamarion Dutra Alves. Fonte: Alves (2023, p.194)

Ademais, as exportações de café representaram 98,6% do que é exportado na Região Imediata de Alfenas (Alves, 2023), totalizando 869 milhões de dólares, ou seja, evidencia-se uma dependência dessa commodity.

O café produzido na Região Imediata de Alfenas tem como principais destinos Alemanha (23%), Estados Unidos (18,3%), Bélgica (9,2%), Itália (8,7%) e Japão (8,4) (Mapa 2).

Figura – Mapa das exportações do café da Região Imediata de Alfenas em 2022. Organização: Flamarion Dutra Alves. Fonte: Alves (2023, p.196)

Considerando o município de Alfenas, destaca-se como um importante território na cadeia produtiva do café e está conectado em redes globais, tanto no que diz respeito a produção, armazenamento, processamento e comercialização, contando com empresas nacionais e multinacionais.

A evolução das exportações do café de Alfenas para os Estados Unidos, oscilou entre 1997 a 2024, tendo um pico em 2014 com 174 milhões de dólares e voltando a crescer o comércio exterior pós-pandemia da Covid-19, atingindo 130 milhões de dólares em 2024 (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Exportações de café, do município de Alfenas, para os Estados Unidos (US$) – 1997-2024.
Fonte: Comexstat, 2025. Organização: Flamarion Dutra Alves.

Se observarmos 2023 e 2024, os Estados Unidos se firmaram como grande parceiro comercial de Alfenas, dobrando as exportações de café. Isso teve um impacto importante para o ano de 2025, pois de janeiro a junho deste ano, os Estados Unidos passaram a ser o principal parceiro, com 23,9% das exportações de café (Gráfico 2).

Gráfico 2 – Exportações de café de Alfenas, entre janeiro e junho de 2025. Fonte: Comexstat, 2025. Organização: Flamarion Dutra Alves.

O gráfico 2 apresenta algumas mudanças no comportamento das exportações, até o momento, os Estados Unidos se consolidaram como principal comprador do café de Alfenas, entre janeiro e junho de 2025 foram 84,1 milhões de dólares exportados. E ainda se observa a tendência de crescimento da China na compra de café, como o quarto principal comprador com 29 milhões de dólares.

Vale destacar, que aproximadamente 30% do café consumido nos Estados Unidos é brasileiro, ou seja, os impactos do tarifaço também serão sentidos pela população estadunidense.

Diante desse cenário de crescimento das exportações e valorização do preço do café, o tarifaço de 50% gera inúmeras incertezas aos pequenos, médios e grandes, e lançam-se algumas perguntas:

O café será armazenado até obter novos acordos de tarifas?

Vai ser buscado novos parceiros comerciais? Como a ampliação do comércio com a China?

Ou vai ser ampliado o comércio interno e, consequentemente, a tendência de queda no preço do produto?

São diversas dúvidas e questões que estão lançadas para os próximos meses e que os milhares de agricultores sul-mineiros e alfenenses estão atentos as políticas radicais, impostas pelo presidente dos Estados Unidos, que certamente impactará na economia brasileira.

E outra questão importante na produção da agropecuária brasileira é fortalecer a policultura e diversidade produtiva, para evitar essa dependência das monoculturas pelo mercado externo. Este episódio só reforça a necessidade de políticas agrícolas que valorizem uma agricultura diversificada.

Referências:

ALVES, Flamarion Dutra. Mundialização da cafeicultura na Região Imediata de Alfenas-MG. Caderno de Geografia, v.33, p. 186-201, 2023. https://doi.org/10.5752/P.2318-2962.2023v33nesp1p186

ALVES, Flamarion Dutra. Dinâmicas geográficas da cafeicultura no sul de Minas Gerais e as interações globais. In: Ricardo Luiz de Souza; Cláudio Umpierre Carlan; Pedro Paulo Abreu Funari. (Org.). Sul de Minas e café: convivência, prosa e cultura. 1ed.São Carlos: Pedro e João, 2024, v. 1, p. 193-216.

Alves, Flamarion Dutra. DA DIVERSIDADE AGRÍCOLA ÀCOMMODITIZAÇÃO DO TERRITÓRIO: OS EFEITOS DO AGRONEGÓCIONA REGIÃO IMEDIATA DE ALFENAS – MINAS GERAIS. Boletim Alfenense de Geografia, v. 1, p. 129-150, 2021. https://doi.org/10.29327/243949.1.2-10

ALVES, Flamarion Dutra; LINDNER, Michele. AGRONEGÓCIO DO CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAIS: territorialização, mundialização e contradições. OKARA: GEOGRAFIA EM DEBATE (UFPB), v. 14, p. 433-451, 2020. https://doi.org/10.22478/ufpb.1982-3878.2020v14n2.54246

COMEXSTAT – Consulta da Exportação do Comércio Exterior. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/home   Acesso em: 30/07/2025.

Flamarion Dutra Alves é professor do Instituto de Ciências da Natureza (ICN) da UNIFAL-MG, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO). Líder do Grupo de Pesquisa “Grupo de Estudos Regionais e Socioespaciais – GERES” da Universidade, é também professor permanente no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Integra a Rede de Estudos Agrários-REA. Possui graduação em Geografia, mestrado em Extensão Rural e doutorado em Geografia na área de concentração: Organização do Espaço. Atualmente realiza estágio de pós-doutorado na Universidad Nacional de Colombia, com bolsa FAPEMIG. Temas de interesse: Geografia Humana, Cafeicultura, cidades pequenas sul-mineiras.

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