Ao analisar o impacto das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) – como prontuário eletrônico, inteligência artificial e telessaúde – no cotidiano da enfermagem, pesquisadoras da UNIFAL-MG evidenciaram que, apesar de não substituir o cuidado humano, o uso desses recursos digitais pode conviver com a humanização do atendimento, desde que os enfermeiros mantenham o olhar atento às necessidades dos pacientes.


Intitulada Entre o humano e o digital: humanização do cuidado de enfermagem frente às Tecnologias de Comunicação e Informação, a pesquisa é parte da tese de doutorado da discente Quevellin Alves dos Santos Francisco, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UNIFAL-MG, desenvolvida sob a orientação da docente Maria Regina Martinez.
Ainda em desenvolvido, o estudo é de natureza qualitativa – ou seja, busca interpretar a realidade e não apenas quantificá-la – e foi estruturado em duas etapas principais. Na primeira etapa, as pesquisadoras efetuaram uma revisão de escopo, para mapear o que já foi publicado na literatura científica sobre TICs e humanização. Já na segunda etapa, foram realizadas entrevistas com enfermeiros que atuam na prática clínica, as quais foram analisadas com apoio do software NVivo.
O objetivo das autoras é compreender as percepções, as experiências e os desafios relatados pelos profissionais frente ao uso das tecnologias digitais no cuidado. Com essa finalidade, os relatos foram analisados com base na Teoria da Complexidade de Edgar Morin – a qual propõe que os fenômenos são constituídos por elementos conectados e interdependentes – permitindo integrar múltiplas dimensões do cuidado, do humano ao digital, em uma visão mais ampla e sistêmica.
“Antes, o debate sobre o tema era polarizado: via-se a tecnologia como uma ameaça à humanização ou como uma solução milagrosa. A pesquisa em andamento traz um avanço importante, ao mostrar que não se trata de excluir ou substituir, mas de integrar: a humanização pode se manter e até se fortalecer quando o enfermeiro domina as ferramentas digitais e continua valorizando o contato humano”, observa Quevellin Francisco.
Conforme ela, esse olhar dialoga com os princípios da Teoria da Complexidade de Edgar Morin, como a dialógica (conviver com os contrários), a recursividade (entender que os efeitos podem influenciar as próprias causas) e a incerteza (aceitar que nem tudo pode ser previsto).
Embora a pesquisa ainda não tenha sido concluída, os resultados parciais já indicam que pacientes podem ter atendimentos mais ágeis, seguros e personalizados, sem perder o vínculo humano, o que significa que enfermeiros podem usar as TICs como aliadas para facilitar registros, tomada de decisão e monitoramento dos pacientes. “A sociedade ganha com um sistema de saúde mais eficiente e resiliente, sem abrir mão do cuidado humanizado”, ressalta a pesquisadora.
Os próximos passos do estudo incluem concluir a análise das entrevistas com os enfermeiros, produzir publicações científicas e apresentá-las em congressos e desenvolver protocolos e orientações práticas para o uso ético e humanizado das TICs em enfermagem.
“A expectativa é que o estudo resulte em uma tese e em artigos científicos nos próximos anos. Além disso, a pesquisa e outros conteúdos relacionados à enfermagem, tecnologias digitais e humanização têm sido massivamente divulgados por meio da produção de conteúdo no LinkedIn”, conclui Quevellin Francisco. Para a pesquisadora, tal estratégia busca ampliar o alcance social e acadêmico da pesquisa, além de gerar debates e aproximar diferentes públicos interessados.

Vitoria Gabriele Souza Geraldine é acadêmica do curso de Medicina da UNIFAL-MG e bolsista do projeto +Ciência, cuja proposta é fomentar a cultura institucional de divulgação científica e tecnológica. A iniciativa conta com o apoio da FAPEMIG por meio do Programa Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia para desenvolvimento.
*Texto elaborado sob supervisão e orientação de Ana Carolina Araújo