Pesquisa da UNIFAL-MG revela desigualdades no pré-natal e maior risco de morte materna entre mulheres negras

Pesquisadores discutem no FIGO 2025 a desigualdade racial no cuidado pré‑natal e apresentam estudos que combinam revisão de literatura e modelos preditivos para reduzir a mortalidade materna
Docentes da UNIFAL-MG apresentam no FIGO 2025 estudos sobre desigualdades raciais na assistência pré-natal e mortalidade materna (Foto: arquivo pessoal)

O cuidado materno de mulheres negras no Brasil é marcado por desigualdades. Dados do Boletim Çarê‑IEPS mostram que a razão de mortalidade materna entre mães pretas é mais que o dobro em relação às mães brancas, apesar do aumento das consultas de pré‑natal nos últimos anos. Esses números evidenciam que racismo estrutural, falhas na assistência e barreiras socioeconômicas ainda impactam diretamente o cuidado dessas mulheres.

Registro da abertura do evento na África do Sul (Foto: arquivo pessoal dos pesquisadores)

Nesse contexto, pesquisadores da UNIFAL‑MG e do Instituto Federal do Sul de Minas (IFSULDEMINAS) vêm utilizando dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e técnicas de inteligência artificial para evidenciar e enfrentar as desigualdades raciais no pré‑natal e no parto. A equipe — coordenada pelos professores Adílio Renê Almeida Miranda, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), e Patrícia Scotini Freitas, da Escola de Enfermagem — apresentou os resultados de suas pesquisas no XXV FIGO – World Congress of Gynecology and Obstetrics, evento que reuniu especialistas de 145 países na Cidade do Cabo, África do Sul. O congresso ocorreu de 5 a 9 de outubro de 2025, no Cape Town International Convention Centre, e teve como tema central a luta contra desigualdades e iniquidades na saúde de mulheres e meninas.

O primeiro estudo apresentado por Simone Mara Ferreira Miranda e colegas, intitulado “Maternal health care for black women in Brazil: evidence and challenges”, revisou literatura nacional sobre assistência pré‑natal e parto de mulheres negras. A revisão identificou que gestantes negras têm menor número de consultas, recebem menos orientações, enfrentam restrições ao direito de acompanhante e estão mais sujeitas à violência obstétrica; a presença de racismo institucional também foi ressaltada. Segundo os autores, essas barreiras contribuem para piores desfechos maternos e neonatais e demonstram a necessidade de políticas e práticas que assegurem equidade racial no atendimento.

O segundo trabalho, “Predicting maternal mortality among black women in Brazil using sociodemographic characteristics”, foi realizado por Simone  Mara  Ferreira  Miranda, Adílio  Renê Almeida Miranda, Patrícia  Scotini Freitas e colaboradores. Usando registros de nascimentos e óbitos do SUS, a pesquisa desenvolveu um modelo computacional para classificar o risco de mortalidade materna entre mulheres negras a partir de características como escolaridade, região, ocupação, estado civil e idade. Os resultados apontaram que, em todas as fases do ciclo gravídico‑puerperal, mulheres negras morrem cerca de duas vezes mais do que mulheres brancas, com maior diferença durante o parto. O estudo também mostrou que menor escolaridade e solteirice estão associadas a maior risco; variáveis como ocupação, região e idade influenciam os desfechos.

FIGO 2025

(Foto: arquivo pessoal dos pesquisadores)

A participação no FIGO 2025 permitiu que os pesquisadores da UNIFAL‑MG compartilhassem essas descobertas em um cenário internacional dedicado à saúde da mulher. Para a professora Patrícia , a experiência foi transformadora: “Participar do XXV FIGO – World Congress of Gynecology and Obstetrics foi uma experiência extremamente significativa, tanto pessoal quanto profissionalmente. Estar em um evento que reúne especialistas de todo o mundo, discutindo as principais questões relacionadas à saúde da mulher, reforça a importância da produção científica brasileira e o papel da enfermagem obstétrica na promoção de uma assistência equitativa e de qualidade”.

O professor Adílio também enfatiza o enfoque do congresso: “As discussões no congresso, especialmente sobre as desigualdades na saúde da mulher negra, mostraram o quanto o racismo e as iniquidades sociais continuam impactando de forma direta a vida e o cuidado com essas mulheres”. Para os docentes, a oportunidade de dialogar com pesquisadores de 145 países evidenciou a necessidade de políticas públicas efetivas e de uma prática clínica centrada na equidade racial.

A apresentação no FIGO 2025 é parte de uma agenda de divulgação científica que já inclui participação em outros eventos internacionais. Em setembro de 2025, integrantes da equipe apresentaram resultados no 13º Congresso Mundial da Sociedade Internacional sobre as Origens do Desenvolvimento da Saúde e da Doença (DOHaD), em Buenos Aires. Para os pesquisadores, a difusão desses estudos busca sensibilizar gestores e profissionais de saúde sobre as desigualdades raciais e orientar a formulação de políticas baseadas em evidências.

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