UNIFAL-MG marca presença na COP30 em Belém com estudante do campus Varginha

Estudante do BICE representa UNIFAL-MG na COP30 em Belém (Foto: arquivo pessoal)

A Conferência das Partes (COP) é o principal fórum global sobre mudanças climáticas. Criada pela Convenção‑Quadro das Nações Unidas, ela reúne todos os países signatários para decidir como implementar os compromissos assumidos e é considerada a cúpula anual dos líderes nas negociações climáticas. A 30ª edição, realizada em Belém (PA) de 10 a 21 de novembro de 2025, contou com a participação do estudante Ianque da Silva Oliveira, do campus Varginha da UNIFAL‑MG.

Experiência e impactos

Entre os dias 17 e 21/11, Ianque integrou a delegação oficial do Brasil e vivenciou uma rotina intensa entre zonas de negociação e mobilizações da sociedade civil. No ano anterior, ele havia participado da COP29 em Baku, no Azerbaijão, mas a experiência amazônica acrescentou uma nova dimensão. “Discutir o clima pisando no solo que regula o clima do planeta trouxe um peso de responsabilidade e urgência muito maior”, relatou. Para o discente, a COP30 evidenciou que o encontro não é apenas um evento diplomático, mas o espaço onde se define “a fronteira entre a sobrevivência e o colapso, em que a ciência confronta interesses geopolíticos e se pressiona por financiamento climático justo e por uma transição energética voltada ao Sul Global”. Ele destaca que a tensão das negociações se somava à potência da sociedade civil, conectando a realidade local com diretrizes globais.

(Foto: arquivo pessoal)

A vaga na delegação foi conquistada por meio de um processo seletivo internacional, no qual competiu com jovens lideranças do mundo todo. O processo considerou engajamento prévio, capacidade de articulação e proposição técnica. “Foi uma honra conquistar esse espaço, provando que a juventude brasileira, especialmente a que vem da universidade pública e do interior, tem competência e legitimidade para estar na linha de frente global”, afirmou. A presença de um estudante da UNIFAL‑MG, segundo ele, reforça a ideia de que conhecimento e participação política caminham juntos.

Na conferência, Ianque desempenhou um papel multidimensional. Pela Climate Cardinals, traduziu o “tatiquês” das negociações para uma linguagem acessível, garantindo que jovens que não falam inglês acompanhassem os debates. Pela Rede Perifa Ativa, defendeu que as soluções climáticas considerem as periferias e favelas, evitando que fiquem invisíveis. Com a Nature Now International, atuou na mobilização de juventudes e no lobby direto por políticas de preservação que incluam os jovens nos processos decisórios. Em suas falas, deixou claro que a presença da juventude preta não é mero enfeite: “Nossa presença não é favor, é reparação histórica e estratégia de sobrevivência”. Ele denunciou o racismo ambiental, o tokenismo e o colonialismo climático, defendendo a necessidade de participação real: “Não aceitamos mais que decidam o futuro dos nossos territórios sem a nossa caneta na mesa”.

(Foto: arquivo pessoal)

Segundo ele, dois aspectos marcaram sua experiência. O primeiro foi a autoridade moral das comunidades indígenas, cuja presença nas plenárias reforçou a centralidade da Amazônia nas discussões. O segundo foi acompanhar de perto as negociações: “Foi ali, observando onde os textos travavam e onde os assuntos caminhavam, que entendi a complexidade do consenso global e a importância de estarmos vigilantes a cada vírgula aprovada”. A imersão também provocou reflexões pessoais: ele concluiu que “neutralidade é cúmplice da barbárie e que a técnica sem consciência de classe serve apenas para manter o status quo”. “A luta é coletiva, mas a responsabilidade de furar a bolha é individual e intransferível. Não estamos lutando apenas para ‘salvar o planeta’, mas para derrubar um sistema econômico predatório que lucra com a destruição”, completou.

Aluno de Economia, Ianque encarou a conferência como um laboratório prático. Além de acompanhar debates sobre precificação de carbono, bioeconomia e falhas de mercado, viu na COP a oportunidade de compreender como recursos são alocados em escala global e como interesses econômicos moldam a política ambiental. Pós-evento, ele segue como coordenador de projetos na Climate Cardinals, dedicando-se a traduzir os resultados da conferência em ações locais e articulando a criação de pontes entre a UNIFAL‑MG e o debate climático global. Sua meta é trazer para dentro da universidade a discussão sobre uma economia verde e inclusiva e incentivar mais estudantes a se engajarem.

Ao final da entrevista, o estudante deixou um recado para a comunidade acadêmica: “Não peçam licença, ocupem! A diplomacia internacional foi desenhada para nos excluir, vestida de ternos caros e linguagens difíceis para nos manter afastados. Mas o futuro que eles negociam é o nosso. Organizem-se, estudem e disputem as narrativas. Se não estivermos sentados à mesa, estaremos no cardápio, e nós nos recusamos a ser consumidos”, conclui.

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