
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém do Pará, consagrou um novo paradigma na agenda ambiental global: a inclusão das mulheres, da juventude e do recorte racial como centrais para o desenvolvimento de políticas efetivas contra a crise do clima. Pela primeira vez, o termo “afrodescendentes” foi incluído nos documentos finais do evento, marcando uma vitória histórica para o movimento negro e colocando temas como racismo ambiental no cerne das discussões.
A conferência foi palco de discussões intensas que ampliaram o conceito de justiça climática. Para além dos acordos entre nações, a COP30 destacou que os impactos das mudanças climáticas não são sentidos de forma igualitária. A interseccionalidade entre raça, gênero e classe mostrou-se fundamental, com painéis e discussões dedicados a entender como populações vulneráveis, em especial mulheres negras, estão na linha de frente da crise e são as mais afetadas por desastres ambientais.
Enquanto pesquisadora sobre a percepção das mudanças climáticas no Sul de Minas, poder participar de debates como “Perspectivas negras e feministas para justiça climática e socioambiental” e “Políticas Climáticas Antirracistas” foi uma experiência fundamental para evidenciar a dimensão local de um problema global.
Foi muito importante para mim participar de discussões que buscaram evidenciar como os desastres climáticos afetam de forma desproporcional as mulheres negras. Pois é sabido que, quando pensamos na distribuição da população no território, as áreas de risco são ocupadas majoritariamente pela população negra. E quando analisamos os impactos na dimensão de gênero, as mulheres são as mais afetadas e vulneráveis. Incluir a dimensão racial e de gênero na discussão sobre justiça climática é fundamental para que consigamos desenvolver políticas públicas eficazes.
Ainda durante a COP30, pude testemunhar o governo brasileiro transformar o discurso em ação ao oficializar a Estratégia Transversal Mulheres e Clima. O documento, que será submetido à consulta pública em dezembro na plataforma Brasil Participativa, é o primeiro a estruturar a política ambiental nacional a partir do princípio da igualdade de gênero. A iniciativa integra um dos cinco eixos transversais do Plano Nacional de Mudanças Climáticas (Plano Clima) e foi elaborada de forma colaborativa, sob a coordenação dos Ministérios do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, das Mulheres e da Igualdade Racial.
Diante desses avanços, enxergo um momento fértil para a produção científica e ressalto a importância de a academia acompanhar e fomentar essas discussões. Estamos vivendo um momento de oportunidades políticas muito positivas e por isso é importante trazer o debate sobre este tema para a academia, para que possamos contribuir a partir da nossa produção científica. Minha participação na COP30 e o lançamento de estratégias governamentais específicas ilustram um movimento crescente: a compreensão de que não há solução para a crise climática sem justiça social, equidade de gênero e o enfrentamento ao racismo ambiental.

Raíssa Aline Pereira é engenheira ambiental pela UNIFAL-MG e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, também da UNIFAL-MG. Atua no grupo de pesquisa OIKOS, no qual estuda percepção sobre mudanças climáticas e gênero, sob a orientação do professor José Roberto Porto de Andrade Júnior. Durante a graduação, desenvolveu pesquisas relacionadas à Agricultura Urbana e à Etnobotânica. É educadora ambiental e colaboradora nas ONGs Casa da Árvore e Planeta Solidário. Atualmente, compõe também o conselho curador do Jardim Botânico de Poços de Caldas e integra Escola de Capoeira Angola Resistência (ECAR) em Poços de Caldas.
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