A UNIFAL-MG, por meio do projeto +Ciência, realizou o evento “Divulgação Científica em Pauta”, com a participação de jornalistas, divulgadores científicos, pesquisadores e estudantes. A programação colocou em pauta os desafios e caminhos da comunicação da ciência no Brasil. O evento, realizado no dia 23/04, incluiu palestras, rodas de conversa e apresentações de projetos de divulgação científica.

A abertura ocorreu às 14h, com a palestra on-line “Comunicação pública da ciência: por que divulgar artigos científicos para a imprensa — e qual é o resultado disso”, ministrada pela jornalista e pesquisadora Sabine Righetti. A palestrante atua na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é cofundadora da Agência Bori e coordena o Programa Mídia Ciência da FAPESP.
Durante sua apresentação, Sabine destacou a atuação da Agência Bori na mediação entre a produção científica e a imprensa, facilitando o acesso de jornalistas a artigos e fontes especializadas. Ela também apresentou dados sobre o impacto da divulgação científica na imprensa e como essa prática pode ampliar a visibilidade da ciência e influenciar políticas públicas. A palestra reforçou a ideia de que a ciência deve ultrapassar os limites da academia.
Em seguida, foi realizada a roda de conversa “Divulgar é preciso: mídia e a divulgação da ciência”, com a participação do jornalista e professor Lucas Magalhães Costa, doutorando em História e Culturas Políticas pela UFMG; da jornalista Ana Eliza Alvim, da Universidade Federal de Lavras (UFLA); e do jornalista Ricardo Fagundes Sangiovanni, chefe da Assessoria de Comunicação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Os convidados relataram experiências e abordaram temas como a tradução do conhecimento científico para o público geral, a escassez de recursos nas instituições e a necessidade de políticas públicas de incentivo à comunicação da ciência. O jornalista Lucas Magalhães, egresso do mestrado em História Ibérica da UNIFAL-MG, destacou a importância do Projeto +Ciência como estratégia de enfrentamento à desinformação e de promoção da pauta científica na imprensa regional. Ele também observou o contraste entre o volume de pesquisas desenvolvidas nas universidades e a baixa visibilidade dessas produções nos meios de comunicação.
Entre as soluções discutidas para ampliar o alcance da ciência brasileira, foi apontada a importância da criação de redes colaborativas entre jornalistas e universidades, o fortalecimento de núcleos de comunicação científica nas instituições e a valorização da divulgação como parte da atividade científica. Nesse ponto, a jornalista Ana Elisa compartilhou as novas frentes de comunicação científica criadas pela UFLA, para além da imprensa. “Hoje temos um projeto de educomunicação, que é extensão do projeto da FAPEMIG, com jovens do ensino médio para que eles produzam vídeos sobre Ciência. São realizadas oficinas semanais em que o intuito é orientá-los sobre a educação midiática com temas relevantes somado ao interesse deles sobre Ciência, tornando-os os produtores de informação acerca do tema”, afirma a jornalista.
Ricardo Sangiovanni defendeu que a divulgação da ciência não fique restrita à imprensa tradicional. Segundo ele, existem diversos veículos e instituições sérias também podem promover um jornalismo de qualidade, especialmente no campo da divulgação científica. O jornalista destacou a importância da atuação dos profissionais de comunicação nesse processo em conjunto com os pesquisadores.
Às 16h, o evento abriu espaço para a apresentação de projetos de divulgação científica desenvolvidos por instituições públicas e privadas. As apresentações foram realizadas em formato híbrido, reunindo diversas iniciativas voltadas à aproximação entre ciência e sociedade.

O encerramento contou com a mesa-redonda “Divulgação Científica em Pauta: a divulgação da ciência no combate à desinformação e ao negacionismo”, com a participação da jornalista Luana Teixeira de Souza Cruz (PUC Minas e INCT-CPCT); do professor Jackson Wilke da Cruz Souza (UFBA); do jornalista Ricardo Fagundes Sangiovanni (CNPq); do jornalista Lucas Magalhães Costa; e do professor Luiz Felipe Leomil, pró-reitor adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação da UNIFAL-MG.
Na ocasião, a jornalista Luana Cruz destacou as fake news como uma “realidade profundamente enraizada no tecido social”. “Hoje já compreendemos a desinformação de forma sistêmica. Ela integra o nosso sistema de comunicação — e encarar isso como parte da realidade ainda é um grande desafio”.
O professor Jackson Souza afirmou que o enfrentamento das fake news e do negacionismo continuará sendo um grande desafio enquanto os próprios produtores de informação não se aproximarem da realidade cotidiana da população. Segundo ele, uma abordagem limitada a uma perspectiva estritamente técnica ou ‘laboratorial’, dissociada da vivência concreta das pessoas, é insuficiente. Enfatizou, ainda, a importância de não apenas comunicar, mas sobretudo dialogar, escutar e compreender, antes mesmo de propor qualquer intervenção.
Em sua fala, o professor Luiz Felipe Leomil, coordenador de pesquisas da UNIFAL-MG, destacou os projetos apresentados ao longo do dia, assim como as diversas ações e iniciativas que vêm sendo desenvolvidas com o objetivo de aproximar a produção científica da comunidade. Segundo ele, trata-se de um esforço para ampliar a compreensão pública sobre o que é realizado na universidade. Entre essas iniciativas, citou a produção de podcasts, a atuação de ligas acadêmicas, programas de rádio, elaboração de materiais didáticos e a utilização de redes sociais para projetos de laboratórios, todos voltados ao fortalecimento dessa comunicação com a sociedade.
Para Ana Carolina Araújo, jornalista da Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG e pesquisadora em divulgação científica, o evento reafirmou o papel estratégico das universidades na aproximação entre ciência e sociedade. “A oportunidade de compartilhar experiências com jornalistas e pesquisadores de outras instituições me trouxe a certeza de que refletir sobre caminhos para que a ciência alcance mais pessoas é um diálogo que precisa ser permanente, e que a universidade tem um papel fundamental nesse processo”, pontuou.
A jornalista, que atua há 13 anos na comunicação da UNIFAL-MG, destacou a satisfação de vivenciar, pela primeira vez, uma ação institucional inteiramente voltada à comunicação pública da ciência promovida pela própria equipe de comunicação. “Particularmente para mim foi especialmente inspirador participar ativamente da organização e acompanhar de perto um evento tão rico em trocas e reflexões sobre o papel social da ciência”, finalizou.
O evento “Divulgação Científica em Pauta” foi realizado com recursos do Programa de Apoio a Eventos de Extensão (PAEV), da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec), da UNIFAL-MG. O projeto “+Ciência” é desenvolvido com fomento da FAPEMIG e coordenado pelo servidores Ivanei Salgado, da Diretoria de Comunicação Social, e Flaviane Faria Carvalho, professora do curso de Letras da UNIFAL-MG.
De acordo com Flaviane Faria, o evento oportunizou conhecer mais de perto pesquisas acadêmicas com foco na divulgação científica desenvolvidas na UNIFAL-MG e em outras instituições bem como os desafios enfrentados por profissionais e pesquisadores que atuam na área em diferentes regiões e instituições do país. “A pandemia evidenciou e impulsionou a demanda tanto por divulgadores científicos como por cientistas devidamente treinados para comunicar resultados de pesquisas de forma clara e acessível, seja com jornalistas, seja com o público. Nesse sentido, a universidade pode e deve assumir o compromisso com a comunicação pública da ciência no ensino, na pesquisa e na extensão”, finaliza a coordenadora adjunta do evento.
Colaboração: Mariana Cassiano Ribeiro, bolsista do projeto +Ciência.