Na cinematografia, o documentário foi classificado simplesmente como cinema de não-ficção, constituindo um mundo à parte dos demais gêneros fílmicos. Deste modo, muita gente sabe que o cinema é uma forma de entretenimento, mas nem todos associam essa qualidade ao gênero documentário como um dos formatos audiovisuais. De um modo geral, o documentário pode ser definido como um tipo de cinema eminentemente informativo e didático, que tenta expressar a realidade de forma objetiva. Atualmente, o mundo do documentário é muito variado, incluindo filmes de natureza, viagens, científicos, educativos e, no caso de um documentário social, abordando temas como imigração, integração e conscientização.
No Brasil, o dia 7 de agosto é o Dia Nacional do Documentário Brasileiro. A data, instituída pela Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), visa reconhecer o gênero e homenagear o aniversário de Olney São Paulo, cineasta precursor da produção documental no Brasil, que foi preso e torturado durante a ditadura militar, deixando um legado de produções significativas do gênero. Ao pensar ou indicar um documentário para comemorar o Dia Nacional do Documentário Brasileiro, surgem vários nomes. No entanto, em outubro de 2017, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) publicou um livro de arte intitulado “Documentário Brasileiro – 100 Filmes Essenciais”, que reuniu ensaios sobre produções de diferentes épocas e formatos, escolhidos em votação realizada no primeiro semestre de 2017, da qual participaram integrantes da ABRACCINE e convidados. O livro também contou com 20 textos sobre personagens e movimentos importantes na história do documentário no Brasil, gênero que mais se desenvolveu nos últimos 20 anos, ampliando o número de filmes no mercado exibidor a partir do acesso à tecnologia digital.
Entre os documentários citados, em primeiro lugar, está “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), de Eduardo Coutinho, e em segundo lugar “Jogo de Cena” (2007), também de Eduardo Coutinho, que faleceu em 2014, sendo um dos mais importantes documentaristas mundiais. Em “Cabra Marcado Para Morrer” (1984), um líder camponês, João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem dos latifundiários do Nordeste no início da década de 60. As filmagens de sua vida, interpretadas pelos próprios camponeses, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Dezessete anos depois, o diretor retoma o projeto e procura a viúva Elizabeth Teixeira e seus dez filhos, espalhados pela onda de repressão que seguiu ao episódio do assassinato. O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar. Em “Jogo de Cena” (2007), 83 mulheres contaram sua história de vida em um estúdio, atendendo a um anúncio de jornal. 23 delas foram selecionadas, em junho de 2006, e filmadas no Teatro Glauce Rocha. Em setembro do mesmo ano, várias atrizes interpretaram, a seu modo, as histórias contadas por essas mulheres, borrando as tênues linhas que separam a realidade da ficção.
A tradição do documentário no Brasil nasceu com a chegada do próprio cinema, assim como no restante do mundo. Os primeiros registros eram de imagens da natureza, como a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, lá no finzinho do século XIX. Com o passar dos anos e os avanços tecnológicos, ficou cada vez mais comum a realização de documentários. No início, eram formas de registrar situações pouco percebidas pelo homem moderno, como o cotidiano de tribos no interior do país. Dessa forma, cineastas e antropólogos trabalhavam juntos, utilizando a câmera como ferramenta de documentação. Mais recentemente, o gênero documental foi ganhando novas fronteiras. Diretores passaram a brincar com o gênero de ficção dentro dos documentários, criando filmes híbridos. E com o avanço do streaming, séries e filmes documentais passaram a ser realizados em tempo recorde, para atender à demanda atual de informação rápida.
Mais informações em: Documentário Brasileiro – 100 Filmes Essenciais – ABRACCINE
Título: Documentário Brasileiro
Autor: Paulo Henrique Silva
Editora: letramento
Ano da edição: 2017
ISBN: 978-8595300286
Ítalo Oscar Riccardi Leon é professor do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UNIFAL-MG. Desde 2022, coordena o projeto de extensão cinema e leitura de imagens cinematográficas no contexto cultural étnico-racial, vinculado ao Programa NEABI da Universidade. Atualmente coordena o Subprojeto Interdisciplinar de Línguas Estrangeiras, área de Letras do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID-CAPES).