
Egressa e discentes da UNIFAL-MG participaram do Encontro Nacional dos Comitês de Cultura, realizado no SESI Lab – Espaço de Arte, Ciência e Tecnologia, no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios, em Brasília/DF, entre os dias 16 e 19/11. O evento, marcado por representatividade, teve como ponto central a assinatura do novo Plano Nacional de Cultura (PNC) 2025-2035 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pela Ministra da Cultura Margareth Menezes.
A iniciativa foi realizada pelo Ministério da Cultura (MinC) e contou com rodas de conversa, exposições artísticas, oficinas, plenárias com ministros e cerimônia solene de assinatura do novo PNC. Estiveram presentes Jenifer Passos, egressa de Geografia da UNIFAL-MG e trabalhadora terceirizada na Coordenação de Cultura da Universidade; Yasmin Pinheiro, indígena guarani mbya, discente de Ciências Sociais da UNIFAL-MG; e Renata Neiva, discente de Medicina da UNIFAL-MG. Essa participação foi viabilizada por meio do Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC).
Todas atuam como agentes territoriais de cultura bolsistas pelo Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC) na região imediata de Alfenas/MG, que abrange os municípios de Alfenas/MG, Alterosa/MG, Areado/MG, Campo do Meio/MG, Campos Gerais/MG, Fama/MG, Carvalhópolis/MG, Conceição da Aparecida/MG, Divisa Nova/MG, Machado/MG Paraguaçu/MG, Poço Fundo/MG e Serrania/MG.

“O plano ainda não foi aprovado e encontra-se em tramitação no Congresso Nacional”, afirma Jenifer Passos, que também obteve destaque nacional ao ser selecionada para integrar uma rede estratégica de comunicadores populares.
Durante o evento, o MinC promoveu um espaço de troca, aprendizado e construção coletiva, ao reunir agentes territoriais, comitês de cultura, sociedade civil e representantes do Governo Federal. “Resultado de um trabalho que nasce nos territórios, das periferias às comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas, o encontro consolidou-se como uma rede nacional de participação social, capaz de conectar experiências locais ao Governo Federal na formulação de políticas culturais plurais e transformadoras”, afirma a agente cultural.
A programação iniciou no dia 15/11 com o 1º Encontro Nacional de Comunicadores Populares, atividade vinculada ao Programa Nacional dos Comitês de Cultura (PNCC), em parceria com o Laboratório Digital da UFPR. O Encontro demarca a criação da Rede Comunica Cultura.
Depoimentos

“Participar deste encontro histórico como bolsista de um programa com essa perspectiva representa um marco simbólico e fortalecedor. O PNCC tem transformado vidas ao abrir oportunidades onde antes havia exclusão, reafirmando a cultura como direito e como política pública essencial. E que o processo democrático se construa a partir dos territórios, do chão que a gente pisa, e se fortaleça pela escuta ativa das comunidades. Minha trajetória é exemplo do impacto das políticas públicas: sou cria delas. Iniciei meus passos na cultura na UNIFAL-MG, onde essa caminhada foi consolidada. Minha formação em Geografia me deu lentes para enxergar além, um olhar crítico e sensível sobre as vivências humanas e os territórios. Cada espaço revela histórias, memórias, culturas e ancestralidade, tornando-se cenário vivo de experiências que nos conectam e nos transformam. Aprendo com o território onde atuo, e ele me sorri de volta. Levo essa bagagem atuando de forma coletiva na construção de políticas públicas culturais nos nossos municípios, em Minas Gerais e agora, dialogando nacionalmente. Estar no Palácio do Planalto neste momento de renovação do compromisso do Estado com a Cultura não é apenas simbólico. Representar nossa região neste diálogo nacional nos dá a grande responsabilidade de trazer essas discussões para a base e fortalecer nossas redes locais. Este é o nosso papel – reconstruir os vínculos, produzir sentido e colocar a cultura como pauta central para projetar um futuro em que a Reparação e o Bem Viver sejam uma realidade para todas, todos e todes. Após uma década tão tensa, marcada pelo golpe, pela pandemia, pelos retrocessos das reformas previdenciária e trabalhista, pelo novo ensino médio e pelo desmonte sistemático do Estado, ser corpo presente nesta reconstrução é um ato de resistência e esperança. Seguiremos tecendo este amanhã com o fortalecimento das nossas redes. A caminhada é longa, mas é coletiva. Viva a democracia popular! Viva o povo brasileiro e as culturas do Brasil. Paulo Freire dizia que comunicação é diálogo, e diálogo é saber falar, mas, principalmente, saber escutar. Frei Betto lembrava que ‘a cabeça pensa onde os pés pisam'”, destaca Jenifer Passos

“Meu nome é Yasmin. Sou indígena guarani mbya, cientista social pela UNIFAL-MG e agente territorial de cultura pela IFRJ. Moro na zona rural desde antes de entrar no programa. Digo isso porque é esse caminho que norteou toda a minha trajetória. Naturalmente, como uma “menina do mato” (como a minha mãe costuma dizer), sempre fugi um pouco dos holofotes e das zonas às quais não me encaixo. E, pela minha surpresa, descobri que muitos agentes da cultura sentem a mesmíssima coisa. Meus trabalhos começaram em ações pequenas, mas capazes de mudar perspectivas. Ensinei oficina de artesanato de grafismo indígena em panos de prato para mulheres de Fama/MG, depois lecionei uma oficina interativa com alunos da zona rural do município, ensinando o significado de alguns grafismos e nossas histórias. Após, realizei roda de viola na comunidade do Matão, zona rural da cidade, além de participar do “Abril Indígena” da UNIFAL-MG, com a proposta de realizar uma exposição sobre a história de algumas tecnologias revolucionárias que vieram da nossa ancestralidade indígena. Paralelamente, em um edital de intercâmbio cultural, consegui visitar parentes Mapuche na Patagônia, Argentina, mais precisamente em Puerto Madryn, para realizar um documentário sobre a cultura e a luta dos povos indígenas na América Latina. A previsão de lançamento é em fevereiro de 2026. Como projeto pessoal, conclui a escrita de dois livros autorais, um de poesias e outro de Fantasia baseada no folclore brasileiro. Tratando-se de literatura, acho importante aqui dizer que um livro conjunto está em desenvolvimento com a comunidade rural a qual pertenço, de modo a eternizar saberes e trajetórias de grandes pessoas que tive o prazer de conhecer. Como agente territorial de cultura, também ofereço suporte a toda zona rural e comunidades indígenas de todo Brasil para a escrita de projetos culturais. Estar presente em Brasília com meus parentes foi uma honra e eu só tenho a agradecer ao programa por nos dar essa oportunidade. Hoje, nós indígenas, temos grupo próprio e podemos nos articular muito melhor para defender nossas pautas. Viva a cultura!”, declara Yasmin Pinheiro.

“Entusiasmo. Diversidade. Troca. Admiração. Luta. Resistência. Essas são as principais palavras que norteiam e sintetizam esse importante encontro. Pessoas de todas as regiões do Brasil, dos mais longínquos territórios de nosso país, se uniram nesse propósito cultural, trazendo seus costumes, crenças e sotaques até a capital, Brasília. Rodas de conversa, exposições artísticas, plenária com Margareth Menezes, Guilherme Boulos e o encontro com o presidente Lula no palácio do Planalto… Momentos que ficarão guardados em minha memória com carinho e firmeza de que só a luta muda a vida e que a cultura é da gente porque a gente é da cultura! As trocas de saberes com outros agentes e os projetos que intercalam e agregam nossas trajetórias são fundamentais. Sigo articulando com fazedores artísticos locais na produção de portfólios e projetos de maneira gratuita por meio do presente programa, além de atuar na curadoria e no desenvolvimento de ações estruturadas, sobretudo, com sarau literário e produção de artesanatos. Portanto, me encontro com ainda mais vontade de promover, expandir, abarcar e abraçar nossas culturas. Assim como a etimologia da palavra cultura significa cuidar, agradeço pela oportunidade de ter esse cuidado em difundir nossos projetos desde o Ministério da Cultura até a ponta onde estão nossos artistas mineiros”, enfatiza Renata Neiva.














