Em defesa das pesquisas eleitorais

Como toda atividade científica, as pesquisas eleitorais partem da pretensão de se generalizar conclusões, de se compreender o todo analisando-se apenas uma parte. 

Em Belo Horizonte e São Paulo, os institutos Quaest e Datafolha estimaram com precisão os resultados do primeiro turno das eleições municipais de 2024. Suas pesquisas de boca-de-urna aproximaram-se bastante dos resultados da apuração.

As urnas cumpriram as estimativas amostrais. Qual o espanto? Por que a pesquisa e a apuração não convergiriam, se afinal são expressões do mesmo eleitorado? 

Enquetes são instrumentos eficientes de análise social. Seguem critérios técnicos rigorosos, desde a construção do formulário até a coleta, para, a partir de uma amostra, inferir-se sobre a população total (Agresti, 2012; Almeida, 2008; 2009;  Barbetta, 2007; Laville; Dionne, 1999; Triola, 2005). Consagram-se como bons preditores da política, como mostram as tabelas acima e inúmeras outras que poderiam ser geradas da mesma forma. Veja-se que as investigações nas duas capitais e as respectivas votações convergem. 

As pequenas variações encontradas entre ambos os institutos e entre estes e a apuração devem-se a fatores como erro amostral, mudanças súbitas de comportamento do eleitorado, mentiras eventualmente ditas às pesquisadoras durante a aplicação, a parcela de votantes indecisos, os vieses amostrais involuntários e contingências operacionais. Tratamos de cada um deles em outro artigo, por aqui. Por ora, adiantamos que pequenas variações são uma boa notícia: os resultados de ambas sondagens são bastante semelhantes, análogos, sistemáticos e predisseram com precisão o resultado das urnas. Enquetes não são bolas de cristal; são termômetros. 

Pesquisas eleitorais são um mapa dos votos. Captam com precisão a distribuição dos perfis de eleitores pelas candidaturas. Pequenas oscilações e variações entre seus achados e a apuração oficial são previsíveis e aceitáveis, caso a campanha transcorra com tranquilidade, isto é, com níveis toleráveis de embates, factóides, notícias virais (falsas ou não), trocas de acusações, difamação e cadeiradas, eventualmente (pois é: na política, isso é um dia normal).


Referências

AGRESTI, Alan. Métodos estatísticos para as ciências sociais. 4. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.

ALMEIDA, Alberto Carlos. A cabeça do eleitor: estratégia de campanha, pesquisa e vitória eleitoral. Rio de Janeiro: Record, 2008.

ALMEIDA, Alberto Carlos. Erros nas pesquisas eleitorais e de opinião. Rio de Janeiro : Record, , 2009.

BARBETTA, Pedro Alberto. Estatística aplicada às ciências sociais. 7. ed. rev Florianópolis: Ed. da UFSC, 2007.

G1 – O portal de notícias da Globo. ([s.d.]). G1. Recuperado 14 de outubro de 2024, de https://g1.globo.com/

LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre; BH: Artmed: Ed. da UFMG, 1999.

TRIOLA, Mario F. Introdução à estatística. 9.ed Rio de Janeiro, RJ: LTC, 2005.



Thiago Antônio de Oliveira Sá é professor do curso de Ciências Sociais do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG. Dedica-se às áreas de Teoria Sociológica, Sociologia da Educação e Pensamento Social Brasileiro.

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