Um estudo desenvolvido por estudantes que integram o projeto de extensão Observatório de Finanças Públicas do Sul de Minas, o OFPSUL, da UNIFAL-MG, analisou a condição financeira dos dez municípios com os maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) do Sul de Minas. O trabalho revelou que um elevado volume de riqueza econômica não é, necessariamente, sinônimo de equilíbrio fiscal e boa gestão das contas públicas.

Orientada pelos professores Cláudio Caríssimo e Kellen Rocha, a pesquisa foi feita por estudantes das disciplinas de Finanças e Orçamento Público, e Contabilidade Social, dos cursos de Administração Pública, Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia e Ciências Contábeis da UNIFAL-MG, campus Varginha.
A avaliação envolveu as cidades de Extrema, Pouso Alegre, Poços de Caldas, Varginha, Alfenas, Itajubá, Passos, Três Corações, Lavras e Guaxupé, utilizando o modelo de Brown – uma metodologia que mensura a condição financeira dos entes públicos a partir de dez indicadores relacionados à arrecadação, despesas, endividamento, capacidade de pagamento e autonomia financeira.
“A análise da condição financeira é um método que permite avaliar as finanças públicas de municípios, estados ou até mesmo países. São apurados índices e com base nestes, são determinadas pontuações ou scores que vão de -1,0 a 2. Os índices calculados evidenciam se há equilíbrio fiscal, capacidade de pagamento, endividamento, capacidade de arrecadação própria, dentre outros aspectos”, explica o professor Cláudio Caríssimo, pontuando que a análise permite ir além dos números absolutos do PIB.

Ranking da condição financeira
Com base nos dados do exercício de 2024, os municípios que apresentaram melhor desempenho financeiro foram Varginha, com 12 pontos, e Extrema, com 11 pontos. Na sequência aparecem Guaxupé, Lavras e Passos, empatados com 8 pontos, e Pouso Alegre, com 7 pontos.
Na outra extremidade do ranking estão Poços de Caldas (2 pontos), Itajubá (1 ponto), Três Corações (-3 pontos) e Alfenas, que registrou a menor pontuação da amostra, com -4 pontos.
O relatório aponta que a amplitude dos resultados evidencia a heterogeneidade fiscal entre municípios economicamente relevantes da região. Os dados mostram, por exemplo, que cidades com PIBs até três vezes menores apresentaram condição financeira superior à de municípios mais ricos, o que reforça a importância da gestão fiscal eficiente.

Arrecadação própria e equilíbrio fiscal
Entre os indicadores analisados, chamam atenção aqueles relacionados à arrecadação própria e à dependência de transferências estaduais e federais. Municípios como Varginha e Poços de Caldas apresentaram os melhores índices de representatividade da receita própria, indicando maior autonomia financeira.
Por outro lado, o estudo aponta situações de desequilíbrio fiscal, em que as despesas totais superaram as receitas, como ocorreu em Passos, Itajubá, Poços de Caldas e Pouso Alegre, segundo o indicador de cobertura das despesas.
O modelo de Brown adotado pelo grupo permite identificar fragilidades que não aparecem quando se observa apenas a arrecadação total. “O modelo Brown de análise da Condição Financeira é formado por índices que vão desde a receita per capita, dívida per capita, representatividade da receita própria, recursos para cobertura de obrigações de curto prazo, entre outros. Tais índices evidenciam capacidade de gerar receita, participação nos gastos, equilíbrio fiscal, capacidade de pagamento e capacidade de honrar a dívida pública. Dessa forma, são utilizadas contas de variados aspectos das finanças do município”, descrevem os autores no relatório.
PIB per capita, exportações e desenvolvimento sustentável
Além da condição financeira, o levantamento incorporou dados econômicos, sociais e ambientais, ampliando a compreensão sobre a realidade dos municípios analisados. Em termos de PIB per capita, Extrema se destacou com R$ 362,5 mil em 2021, impulsionado principalmente por seu polo logístico e pela baixa população.
No comércio exterior, Varginha liderou as exportações no período entre janeiro e outubro de 2025, com US$ 2,6 bilhões, ocupando a 14ª posição nacional, seguida por Guaxupé, com US$ 1,9 bilhão, ambas com forte predominância do café na pauta exportadora.
No campo ambiental e do desenvolvimento sustentável, o destaque foi novamente Varginha, que alcançou o 7º melhor Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR) do país em 2025, sendo o único município da amostra classificado com alto nível de desenvolvimento sustentável.
Transparência e accountability
Para o professor Cláudio Caríssimo, a iniciativa cumpre um papel estratégico de accountability. “A apuração destes índices, auxilia como um mecanismo de monitoramento das ações governamentais, sendo uma forma de accountability”, afirma.
O orientador do trabalho comenta que embora accountability tenha um significado amplo, pode ser entendida, de forma resumida, como prestação de contas com responsabilização. “Neste estudo, essa accountability se enquadra como vertical, que tem como função expor os atos dos gestores públicos, geralmente realizada pela sociedade civil e pelos meios de comunicação”, conclui.
O relatório completo está disponível para acesso público aqui














