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“Fliperama sexual etc.”, por Eloésio Paulo sobre o livro “Os Corumbas” de Amando Fontes


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Os Corumbas é um daqueles títulos que não atraem ninguém à leitura de um livro. Isso, é claro, não se dá apenas com a obra do sergipano Amando Fontes; veja-se o caso de Quincas Borba, o de Lucíola, o de Inocência. Parece, no caso do romance de Fontes, que se vai falar de alguma tribo indígena mato-grossense ou coisa parecida. Essa deve ser uma das razões de o livro ser pouco conhecido, de raramente ser citado em aulas de Literatura Brasileira ou em exames vestibulares e quejandos.

É uma injustiça. O livro mereceria figurar entre os mais representativos da segunda fase do Modernismo, aquela em que nossa ficção havia parado de imitar a francesa e ainda não começara a imitar a norte-americana. Os Corumbas é um bom romance, bem acima da média, mesmo padecendo de sérias, embora poucas, falhas de concepção.

O enredo é muito bem conduzido, com um manejo seguro (exceto no início) do ritmo narrativo, diálogos verossímeis e emprego equilibrado (sem cair no maneirismo) da linguagem regional. O título se refere à família de Geraldo Corumba, que, tangida pela seca, deixa o interior para fixar-se num subúrbio da capital sergipana, cidade portuária e — surpreendentemente — industrial: as desventuras da família de novos operários, cada vez mais empobrecida, dão-se no caminho de ida e volta para duas fábricas de tecido. Nelas, inicialmente, trabalham o pai e os três filhos mais velhos, um rapaz e duas moças.

A perversidade do capitalismo é um dos alvos do autor, que foi funcionário público e deputado constituinte na Assembleia de 1946. É a pobreza, na tese que subjaz ao romance, a grande causa da perdição dos filhos de Corumba, à qual nenhum escapa: o único varão é preso e “exilado” em São Paulo devido a ter-se tornado líder comunista, o que, na visão dos pais sertanejos e religiosos, principalmente da mãe, significa ter sido “desencaminhado” por um amigo subversivo. Uma das filhas mais novas, Bela, morre tuberculosa, em grande parte por falta de dinheiro para comprar seus remédios. Quanto às outras…

A primeira parte do romance corre excessivamente veloz. Em pinceladas rápidas demais, o narrador dá conta, em poucas páginas, de como Geraldo Corumba e Josefa se conheceram, casaram-se, tiveram uma penca de filhos e resolveram mudar-se para Aracaju depois de passar um tempo como empregados de um engenho de cana. A ideia era arranjar trabalho para os filhos mais velhos e estudar as mais novas, que deveriam ser professoras e amparar os pais na velhice. Por conta da ligeireza dessa parte, algumas coisas ficam inexplicadas: como e por que, por exemplo, o talentoso gaiteiro Geraldo Corumba, que só entrou na história por ser músico, abandonou essa prática?

Mas a tese do autor constitui sua principal falha, o que é comum em romances de tese. Todos os vetores da narração apontam para a injustiça social como causa, mas a perdição das três filhas sobreviventes, além da obviedade que é todas as três serem enganadas por homens inescrupulosos, interessados apenas em desvirginar moças desfrutáveis, não resulta diretamente da pobreza, e sim da ingenuidade. É claro que existe essa probabilidade, mas é muito pequena, e uma obra de ficção, quando se afasta demais da probabilidade, tende a tornar-se fantástica. Isso não é bom para um romance realista.

A crer-se na exemplaridade pretendida pelo livro, a maioria das moças de famílias miseráveis terminaria prostituta, o que faria do Brasil um gigantesco lupanar. Não cola. Do jeito como foi disposta no tabuleiro narrativo, a vida da família Corumba quase se reduz a um fliperama sexual em que as moças pobres sempre perdem por dispor de uma única ficha, a virgindade. O livro de Amando Fontes é, talvez, exemplo único de bom romance estragado pelo excesso de filhas desonradas.

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