“O principal é tomar logo uma decisão e focar todo o seu potencial”: o ex-aluno de Farmácia e professor da UNIFAL-MG, Eduardo de Figueiredo, fala sobre sua trajetória até a conquista da Medalha Janusz Pawlyszyn

Eduardo Costa de Figueiredo é professor e pesquisador da UNIFAL-MG, vinculado à Faculdade de Ciências Farmacêuticas. (Fotos; Ivanei Salgado/Dicom)

Durante o Encontro Nacional de Química Analítica realizado em Belém/PA, o professor Eduardo Costa de Figueiredo, da UNIFAL-MG, foi agraciado com a Medalha Janusz Pawlyszyn. Em entrevista ao Jornal UNIFAL-MG, o pesquisador falou sobre a importância do prêmio, suas principais contribuições na área de preparo de amostras e os projetos em andamento no Laboratório de Análises de Toxicantes e Fármacos (LATF).

A imagem mostra uma montagem com duas fotos da Medalha Janusz Pawliszyn, apresentando uma foto de Januz Pawliszyn, um homem de meia idade e óculos, ao centro e a descrição da medalha no verso com os dizeres: O Comitê permanente do WARPA confere ao Prof. Eduardo Costa de Figueiredo a Medalha Dr. Janusz Pawliszyn pela sua relevante contribuição prestada na área de Preparo de Amostras. Belém, 15 de setembro de 2024.
Medalha Janusz Pawlyszyn é concedida à pesquisadores de referência na área de química analítica. (Foto: reprodução)

 Qual é o significado da Medalha Janusz Pawlyszyn? Pode explicar a importância e o prestígio desse prêmio na área de Química Analítica?
Eduardo de Figueiredo: Esta medalha foi instituída pelo Comitê Organizador do WARPA (Workshop sobre Avanços Recentes no Preparo de Amostras) a partir de 2016, com o intuito de reconhecer a excelência de pesquisadores que deram contribuição relevante na área de preparo de amostras. Ao mesmo tempo em que homenageia os pesquisadores que recebem a premiação, o Comitê Científico do WARPA também reconhece a enorme contribuição do Prof. Janus Pawlyszyn da University of Waterloo (Canadá)

Quais foram os critérios para a seleção dos premiados? Como foi o processo de seleção e quem fez parte do júri?
Eduardo de Figueiredo: O júri foi composto pelo comitê permanente do Workshop sobre Avanços Recentes no Preparo de Amostras. Profa. Maria Eugênia Queiroz Nassur (FFCLRP-USP), Prof. Fernando Mauro Lanças (IQSC-USP), Prof. Renato Zanella (Departamento de Química, UFSM), Prof. Fábio Augusto (IQ-Unicamp). A escolha foi embasada na contribuição recente do pesquisador na área de preparo de amostras.

“O trabalho do nosso grupo hoje margeia a fronteira do conhecimento em preparo de amostras. Os materiais e técnicas desenvolvidas podem facilitar a análise de rotina de diversas moléculas e íons metálicos em muitas áreas do conhecimento”, destaca.

Qual foi a sua reação ao saber que foi o ganhador da Medalha Janus Pawlyszyn? Como se sentiu ao receber essa notícia?
Eduardo Figueiredo: No dia 17 de julho, recebi a ligação da Profa. Maria Eugênia dizendo que eu havia sido escolhido. Fiquei muito contente e honrado com a premiação.

A foto mostra 14 pessoas, sendo 13 estudantes da UNIFAL-MG e o professor Eduardo de Figueiredo, em frente ao Pavilhão Central de Aulas, do campus sede, em Alfenas-MG.
Professor Eduardo de Figueiredo com a equipe do Laboratório de Análises de Toxicantes e Fármacos (LATF). (Foto: Arquivo/UNIFAL-MG)

Quais foram as suas principais contribuições na área de preparo de amostras que levaram à premiação? Pode citar alguns exemplos de pesquisas ou projetos específicos?
Eduardo de Figueiredo: Tenho trabalhado com preparo de amostras no Laboratório de Análises de Toxicantes e Fármacos (LATF) da UNIFAL-MG desde 2009. Neste tempo, desenvolvemos diversos materiais inéditos denominados de sorventes inteligentes, capazes de promover a captura de moléculas específicas ou íons metálicos com boa seletividade, eliminando interferências da matriz. Conseguimos analisar diversas moléculas em matrizes complexas como sangue, plasma, carne, leite, sucos, amostras ambientais, dentre outras. Cabe destacar o trabalho do grupo com materiais denominados de restricted access molecularly imprinted polymers (RAMIPs) e restricted access carbon nanotubes (RACNTs), para extrações diversas em que as proteínas da amostras são excluídas.

Em 2021, nosso grupo desenvolveu a técnica denominada Direct Magnetic Sorbent Sampling Flame Atomic Absorption Spectrometry (DMSS-FAAS) para análise direta de metais usando extração com sorvente magnético e análise direta em espectrometria de absorção atômica. Em 2024, o grupo também desenvolveu a técnica denominada Magnetic Particle Spray Mass Spectrometry (MPS-MS) para extração de moléculas orgânicas de amostras diversas, seguido de análise direta por espectrometria de massas por ionização ambiente. Ambas as técnicas foram patenteadas e publicadas em revistas de alta relevância internacional. Desde 2009, nosso grupo publicou cerca de 70 trabalhos sobre preparo de amostras para aplicações diversas, formando 18 alunos de mestrado e 9 alunos de doutorado pelos Programas de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas e Programa de Pós-Graduação em Química da UNIFAL-MG, além de diversos outros alunos de iniciação científica.

Como essas contribuições impactaram a comunidade científica e a sociedade em geral? Houve algum caso de aplicação prática dessas pesquisas?
Eduardo de Figueiredo: O trabalho do nosso grupo hoje margeia a fronteira do conhecimento em preparo de amostras. Os materiais e técnicas desenvolvidas podem facilitar a análise de rotina de diversas moléculas e íons metálicos em muitas áreas do conhecimento.

Em relação a patentes? Qual é o benefício para a universidade e para o pesquisador serem detentores de patentes?
Eduardo de Figueiredo: O deposito de patente protege a inovação tecnológica desenvolvida.  Assim, o inventor tem o direito de impedir que outras pessoas produzam, usem ou coloquem à venda o produto objeto da patente. Neste caso, a tecnologia somente pode ser usada/comercializada mediante pagamento aos inventores. A cultura de proteção tecnológica ainda é muito pouco disseminada no meio Universitário.  Muitos pesquisadores ainda optam por publicar os trabalhos antes de realizar a proteção por meio do depósito de patentes. Uma vez publicada, e não patenteada, a tecnologia cai no domínio comum e os direitos de criação são perdidos.

Eduardo de Figueiredo apresentou as pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Análises de Toxicantes e Fármacos (LATF). (Foto: Ivanei Salgado/Dicom)

Pode nos contar um pouco sobre sua trajetória profissional e acadêmica até chegar ao ponto de receber esse prêmio? Quais foram os marcos mais importantes da sua carreira?
Eduardo de Figueiredo: Iniciei minha graduação em farmácia na UNIFAL-MG em março de 2000, e concluí meu curso em 2003. Durante este tempo, realizei iniciação científica sob orientação do Prof. Pedro Orival Luccas, a quem sou muito grato por ser meu grande influenciador e me conduziu aos caminhos da pesquisa e pós-graduação. No Instituto de Química da Unicamp, realizei meu mestrado (2003-2005) e doutorado em Química Analítica (2005-2009), sob orientação do Prof. Marco Aurélio Zezzi Arruda, a quem também sou muito grato por todo o aprendizado. Realizei ainda pós-doutorado no Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas do IQ Unicamp, sob supervisão do Prof. Marcos Eberlin. Em agosto de 2009, assumi o cargo de professor Adjunto I na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNIFAL-MG, para atuar em pesquisa, extensão e ensino, nas disciplinas de Toxicologia e Análises Toxicológicas. Em 2010 ingressei como docente orientador no Programa de Pós-Graduação em Química e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UNIFAL-MG. Desde então, desenvolvo pesquisa no Laboratório de Análises de Toxicantes e Fármacos em parceria com as Profs. e amigas Isarita Martins Sakakibara e Vanessa Bergamin Boralli Marques.

Você, ex-aluno do curso de Farmácia da UNIFAL-MG, é um exemplo da possiblidade de construir uma carreira sólida como professor do ensino superior e pesquisador. Pela sua vivência e experiência, qual dica aos universitários e para aqueles que desejam cursar um curso superior?
Eduardo de Figueiredo: O principal é tomar logo uma decisão sobre o que realmente pretende fazer e focar todo o seu potencial para a área que quer atuar. Seja na pesquisa/pós-graduação ou no mercado de trabalho. Quanto antes esta decisão for tomada, mais tempo você terá para ser preparar para a área escolhida.

Como foi participar do Encontro Nacional de Química Analítica em Belém do Pará? Quais foram os destaques do evento para você?
Eduardo de Figueiredo: O evento foi muito bom, com participação efetiva de muitos pesquisadores da área de química analítica e suas aplicações. Destaca-se ainda a participação de diversos pesquisadores internacionais. Foi uma ótima oportunidade de rever amigos e me atualizar sobre o que tem sido feito de mais moderno em química analítica e suas aplicações.

Há algum projeto em andamento que gostaria de destacar?
Eduardo de Figueiredo: Sim, temos vários projetos em andamento, principalmente sobre o desenvolvimento e aplicação de materiais inteligentes inéditos, com destaque para trabalhos em que empregamos sorventes modificados para preparo de amostras para depleção de proteínas majoritárias do sangue, ou na extração de fármacos de amostras ambientais e de alimentos, ou de metais em amostras ambientais. Além disso, estamos trabalhando em um sensor à base de um polímero de impressão molecular capaz de promover o diagnóstico diferencial de dengue e zika, bem como em estudos de nanotoxicologia e nanomedicina empregando sorventes inteligentes.

“O principal é tomar logo uma decisão sobre o que realmente pretende fazer e focar todo o seu potencial para a área que quer atuar. Seja na pesquisa/pós-graduação ou no mercado de trabalho. Quanto antes esta decisão for tomada, mais tempo você terá para ser preparar para a área escolhida”, ressaltou Eduardo de Fiqueiredo.

Gostaria de deixar uma mensagem para seus colegas, alunos e a comunidade acadêmica? Algum conselho ou reflexão sobre a importância da pesquisa científica?
Eduardo de Figueiredo: A educação e o desenvolvimento científico/tecnológico são bases para o desenvolvimento do país. Acho que pesquisa e formação de novos cientistas precisam de investimento, e o cientista precisa de liberdade e tempo para desenvolver sua pesquisa. Hoje temos pouco dinheiro e pouco tempo, porque estamos envolvidos em uma burocracia acadêmica/social infinita. O governo, as agências de fomento e a Universidade precisam repensar um pouco sobre isso. Também gostaria de dedicar este prêmio a todos os meus alunos, ex-alunos e colegas do Laboratório de Análises de Toxicantes e Fármacos da UNIFAL-MG.

Currículo do pesquisador
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9819015829001124

Confira algumas publicações

Magnetic particle spray mass spectrometry for the determination of beta-blockers in plasma samples
Acesso em: https://doi.org/10.1007/s00604-024-06698-2

Magnetic Particle Spray Mass Spectrometry
Acesso em: https://doi.org/10.1021/acs.analchem.3c05680

Direct magnetic sorbent sampling flame atomic absorption spectrometry (DMSS-FAAS) for highly sensitive determination of trace metals
Acesso em: https://doi.org/10.1016/j.aca.2022.340709

Development of a novel direct magnetic sorbent sampling device by flame furnace atomic absorption spectrometry (DMSS-FF-AAS) using a carbonaceous nanocomposite for highly sensitive determination of cadmium
Acesso em:  https://doi.org/10.1039/D2JA00273F

Lead determination in commercial juice samples by direct magnetic sorbent sampling flame atomic absorption spectrometry (DMSS-FAAS)
Acesso em: https://doi.org/10.1016/j.foodchem.2023.135676

A Reliable and Straightforward Combination of vortex-assisted Dispersive Magnetic solid-phase Extraction with Direct Sorbent Sampling for Highly Sensitive Silver Determination in Water Samples Using Flame and Metal Furnace AAS
Acesso em: https://doi.org/10.1007/s00128-024-03955-1

Eduardo Costa de Figueiredo
Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/9819015829001124

 

LEIA TAMBÉM