Atualmente, um dos principais desafios enfrentados pela Escola Básica é a formação de leitores. Nesse cenário, não apenas a crescente popularização das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), mas também a permanência do ensino tradicional são fatores que afetam diretamente o desenvolvimento, por parte dos discentes, do gosto pela leitura. Esta problemática foi o pano de fundo de uma pesquisa que buscou implementar, em uma escola pública da Rede Municipal de Ensino de Poços de Caldas, um projeto-piloto no qual os alunos lidavam com a leitura como prática contínua.
Produto da dissertação de Daniele Oliveira Diniz, realizada sob a orientação do Prof. Celso Ferrarezi Júnior no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UNIFAL-MG, o estudo verificou, na prática, como os estudantes se relacionavam com os livros antes e depois da aplicação de um método chamado “Carrossel de Leitura”. De acordo com Daniele Diniz, o principal objetivo da metodologia, que já foi testada em inúmeras escolas brasileiras, é transformar a leitura em uma realidade do cotidiano por meio de uma dinâmica que envolve a seleção de livros e a distribuição destes em uma sequência circular que forma um “carrossel”. Ao final de cada “giro”, todos os estudantes devem ter lido todas as obras.
“Para além de um método de desenvolvimento do hábito de leitura, o Carrossel de Leitura sempre apresentou alguns caminhos possíveis para ampliar as possibilidades de se ler mais e assim contribuir para reverter o quadro negativo que hoje existe no Brasil”, explica Daniele Diniz. O método integra a obra “De Alunos a Leitores: o ensino da leitura na Educação Básica”, publicada pela editora Parábola em 2017 e escrita pelos professores da Universidade Celso Ferrarezi Jr., orientador da pesquisa, e Robson Santos de Carvalho, falecido em 2021.
A fim de testar a aplicabilidade desta prática educativa, Daniele Diniz realizou todas as etapas do “Carrossel de Leitura” com uma turma de 4º ano de uma escola localizada na cidade de Poços de Caldas. As atividades foram desenvolvidas no ano de 2022, no período de um trimestre letivo, com discentes de nove e dez anos. “Foi sorteada uma única turma de 4º ano e isso garantiu que não fosse escolhida uma sala de melhor rendimento ou previamente preparada para a aplicação do projeto, o que foi fundamental para se compreender a significância dos resultados obtidos”, detalha a pesquisadora.
Como resultados, Daniele Diniz observa que, durante o processo, grande parte dos estudantes passaram a atribuir significados concretos ao ato de ler, o que fez com que iniciassem um processo de aprendizagem significativa. Além disso, sua pesquisa demonstrou, ainda, que, ao final das atividades, 75% dos discentes ampliaram suas leituras, passando a ler não apenas somente o que a escola pede.
“Isso implica dizer que grande parte das crianças que participaram do Carrossel declarou ter começado uma trajetória autônoma de descoberta de material de leitura, ou seja, houve uma transformação de hábitos, algo que precisa ser considerado com carinho, ainda mais se pensarmos no pequeno período de funcionamento do projeto-piloto”, pontuou.
Segundo ela, as atividades implementadas permitiram a apreciação das potencialidades e particularidades dos participantes não apenas como alunos, mas como sujeitos sociais. “Durante o desenvolvimento do ‘Carrossel’, os discentes se desacomodaram, se incomodaram, se informaram, se emocionaram, se divertiram, se encantaram, se humanizaram, se transformaram. Fomos surpreendidos por sua manifestação espontânea e coube a essa pesquisa compartilhar a ‘voz’ dessas narrativas”, enfatizou Daniele Diniz.
Ao comentar as contribuições do trabalho para a formação do gosto pela leitura, a pesquisadora informa que os resultados obtidos apontam, sobretudo, para a necessidade de transformar a escola em um espaço efetivo para a construção de leitores autônomos. Conforme Daniele Diniz, em um cenário no qual os estudantes não são estimulados a ler por interesse, a aplicação do projeto-piloto demonstrou ser possível romper com o padrão positivista que utiliza a leitura como mero recurso didático. “Foi possível significar e dimensionar a influência da metodologia do ‘Carrossel de Leitura’ enquanto formadora/mediadora de leitores e realizar um processo contínuo da leitura literária por prazer, como ato civilizador, libertador e existencial”, pontuou.
O estudo desenvolvido por Daniele Diniz gerou a publicação de um artigo científico na revista “Olhar de Professor” e a produção de um capítulo no livro “Almanaque de formação continuada do professor”, organizado por Ana Christina de Souza, Elizângela Ataíde de Lima, Jorge Luís de Freitas e Nara Dantas de Azevêdo e publicado pela editora CRV no ano de 2023. Após o desenvolvimento de seu projeto-piloto, a pesquisadora ainda estruturou uma oficina de Carrossel de Leitura para professores da rede pública de Poços de Caldas e uma oficina de práticas pedagógicas para os estudantes dos cursos de Letras da UNIFAL-MG.
A dissertação “Nos Giros do Carrossel de Leitura: avaliação de uma metodologia de desenvolvimento do gosto pela leitura na Educação Básica” pode ser acessada na íntegra no repositório da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFAL-MG, neste link.
O artigo sobre a pesquisa publicado na revista científica “Olhar de Professor”, pode ser acessado aqui.
*Luana Bellini é estagiária da Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG