Há 139 anos na França, um garoto de nove anos mordido por um cão infectado pela raiva tomava a primeira vacina antirrábica já aplicada em um ser humano. O tratamento foi feito pelo cientista Louis Pasteur, cujo sucesso foi o primeiro resultado de grande repercussão da microbiologia aplicada à Medicina. Esse fato ocorreu no dia 6 de julho de 1885, data posteriormente designada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Dia Mundial das Zoonoses.
Lembrar a data é uma forma de fomentar a colaboração entre pesquisadores, médicos, médicos-veterinários e demais profissionais de saúde, na busca por práticas eficientes e métodos de prevenção e tratamento. Na UNIFAL-MG, há projetos de pesquisa em desenvolvimento que investigam estratégias de tratamento de algumas zoonoses como doença de Chagas, leishmaniose e toxoplasmose.
“Essas estratégias envolvem o reposicionamento de fármacos, que significa buscar uma nova aplicação para medicamentos já comercializados; e a avaliação de novas moléculas ativas (produtos naturais ou sintéticos) desenvolvidas por grupos de pesquisa parceiros, da área de Química”, relata o professor Marcos José Marques, do Departamento de Patologia e Parasitologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB).
Os projetos contemplam as linhas de pesquisa: “Microbiologia e Parasitologia Aplicadas às Ciências Farmacêuticas” do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF) e “Identificação de novos agentes antimicrobianos e antiparasitários” do Programa de Pós-Graduação Ciências Biológicas (PPGCB). “Nestes programas temos trabalhado sistematicamente na formação de recursos humanos (mestrado e doutorado) dentro da temática de novas estratégias de tratamento de algumas zoonoses como doença de Chagas, leishmanioses e toxoplasmose”, conta.
Marcos Marques e os colegas de departamento Ivo Santana Caldas e Lívia de Figueiredo Diniz Castro são os principais pesquisadores da Universidade atualmente a liderar estudos na área. Junto à rede de apoio da própria UNIFAL-MG e de outras instituições de ensino e pesquisa, eles trabalham também com combinações de fármacos. “Ao juntar diferentes medicamentos o efeito pode ser potencializado, permitindo o aumento da efetividade e até a redução de doses”, detalha o professor.
Dentre os principais achados, o pesquisador cita avanços em relação à doença de Chagas. “Conseguimos melhorar o efeito do tratamento ao associarmos medicamentos que já são utilizados em pacientes”, explica. O grupo conseguiu identificar essa melhoria estudando a infecção de camundongos. “Estão sendo feitas mais pesquisas para que essa associação possa ser testada nos pacientes”, acrescenta.
A importância de pesquisas como essas está na contribuição das descobertas para a melhoria do cuidado dos pacientes. “Tanto a doença de Chagas quanto as leishmanioses e a toxoplasmose são zoonoses classificadas como doenças negligenciadas, para as quais não há tratamentos eficazes ou, quando há, são muito tóxicos. Dessa forma, a identificação de estratégias terapêuticas mais eficazes e seguras pode contribuir para a melhoria do cuidado dos pacientes”, argumenta.
Segundo o pesquisador, no caso das leishmanioses, em particular a leishmaniose visceral, é fundamental controlar a infecção de cães para evitar a disseminação da doença, já que eles se comportam como reservatório do parasito. “Em se tratando destas zoonoses as descobertas já realizadas e aquelas ainda em desenvolvimento demonstram grande potencial das novas estratégias terapêuticas se tornarem candidatos a fármacos que atuem de forma eficaz no tratamento das doenças”, afirma.
Os trabalhos do grupo ao longo dos anos têm ganhado repercussão em diversas revistas científicas da área, o que confirma o potencial das novas estratégias terapêuticas realizadas, seja utilizando produtos naturais, sintéticos, derivados de fármacos já utilizados ou reposicionamento de fármacos. “Vários trabalhos do grupo apontaram ganhos no aumento do índice de cura após o tratamento ou na prevenção da progressão das lesões típicas observadas na doença de Chagas, leishmanioses e toxoplasmose”, finaliza.
Como as pesquisas com zoonoses são desenvolvidas
Há pesquisas relacionadas às zoonoses em diferentes etapas sendo desenvolvidas na UNIFAL-MG. “Dependendo do agente zoonótico em questão temos trabalhado desde 2008”, revela o professor Marcos Marques.
O pesquisador conta que de um modo geral a pesquisa se inicia pela seleção dos modelos in vitro, a depender do parasito e do objetivo do teste, estudos utilizados para avaliar a potencial toxicidade dos tratamentos para animais e a atividade contra os parasitos.
“Nessa etapa são utilizadas células de mamíferos e parasitos mantidos em cultivo no laboratório. Caso haja resultados promissores, as pesquisas avançam para modelos animais, pois por se tratar de zoonoses, é possível reproduzir a infecção em camundongos ou hamsters, por exemplo”, exemplifica.
O grupo de pesquisa recebe apoios de diferentes agências de fomento como FAPEMIG, CNPq e CAPES em bolsas de pesquisa e da FINEP para a infraestrutura dos laboratórios.
Alguns dos artigos publicados podem ser conferidos a seguir:
:: LEISHMANICIDAL ACTIVITY in vivo OF A MILTEFOSINE DERIVATIVE IN Mesocricetus auratus