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Referência internacional e qualidade de ensino são motivos para escolha do Brasil e da UNIFAL-MG por estudantes estrangeiros de pós-graduação

Alfredo Salomão Dique está vinculado Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade. (Foto: arquivo/Dicom)

Alfredo Salomão Dique, moçambicano que está no Brasil há três semanas, conta que o principal motivo de ter escolhido o Brasil é o fato do Moçambique não oferecer pós-graduação em sua área. Segundo ele, a outra parte importante desta escolha é “ganhar experiência fora do continente africano e aproveitar as melhores condições que o Brasil tem de investigação na área de Ciências Farmacêuticas”, afirma.

“Eu tenho certeza de que meu país está muito adiantado nessa parte, porque nós temos uma flora muito diversa em termos de plantas e vegetação, além de uma cultura de uso de plantas medicinais. Mas nós não temos condições para fazermos os estudos para determinarmos a eficácia, assim como a qualidade, desses medicamentos”, disse o moçambicano.

Assim como Alfredo Dique, doutorando em Ciências Farmacêuticas, a venezuelana Elsi Valenzuela Rotondaro (Programa de Pós-graduação em Educação), o colombiano Johan Mateo Rios Marin (Programa de Pós-graduação em Química), a nicaraguense Nallery Steysi Rostrán Jiménez  (Programa de Pós-graduação em Ciências Odontológicas), a paquistanesa Salva Asghar (Programa de Pós-graduação em Química), e a haitiana Nydie Gervais e a moçambicana Salma Esmael Bobo Chidassicua, ambas do Programa de Pós-graduação em Enfermagem, escolheram a UNIFAL-MG para cursar mestrado ou doutorado em 2024.

E para ouvir suas experiências e expectativas para vida acadêmica no Brasil, a Diretoria de Comunicação e a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) realizaram um encontro no dia 25 de abril, no campus sede, com a presença da pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Profa. Vanessa Bergamin Boralli Marques, e da coordenadora de Pós-Graduação Profa. Fernanda Borges de Araújo Paula.

Brasil, UNIFAL-MG e Língua Portuguesa
A haitiana Nydie Gervais faz parte do Programa de Pós-graduação em Enfermagem. (Foto: arquivo/Dicom)

Além do desenvolvimento no campo das ciências farmacêuticas, a língua foi determinante para Alfredo escolher o Brasil e a UNIFAL-MG.  Não ter a barreira da língua é um fator facilitador na comunicação com os professores e colegas, reforçou o moçambicano.

E para Nydie Gervais, a língua é uma barreira a ser vencida durante o processo de pós-graduação e também um motivo da escolha pelo Brasil. Vinda do Haiti e tendo a língua francesa como materna, a estudante relatou que ainda encontra dificuldades na comunicação com os docentes e colegas.

“Aprender um idioma que você não fala é um desafio. E quero aprender um idioma que eu não falo, por isso escolhi o Brasil”, conta Nydie Gervais. A questão da língua também foi relatada pelos demais colegas Johan Marin, Elsi Rotondaro e Nallery Jiménez, cujos países de origem são Colômbia, Venezuela e Nicarágua, respectivamente.

Johan Mateo Rios Marin está vinculado ao Programa de Pós-graduação em Química. (Foto: arquivo/Dicom)

Sobre o idioma, Johan Marin destaca: “Minha experiência em Alfenas está sendo positiva. É uma cidade pequena e as pessoas são muito amáveis, me sinto em casa. Meu verdadeiro desafio é o idioma. Eu falo pouco português, quase nada, então está sendo muito difícil me comunicar, mas as pessoas estão sendo muito receptivas”.

A comunicação, para Elsi Rotondaro, também é uma barreira a ser vencida. “Quanto ao desempenho acadêmico, não posso negar, a barreira do idioma limita muito a minha participação. Os professores estão sendo muito compreensivos com minha fala e minha escrita em Espanhol, então, na verdade, tenho muito a agradecer. Está sendo uma experiência positiva, até o momento”, destaca.

Para Nallery Jiménez, que está no Brasil há dois meses, aprender o idioma é um sonho a ser realizado junto com a pós-graduação. “As pessoas pensam que o Espanhol é parecido com o Português, mas quando estamos na sala de aula, percebemos que é um mundo totalmente diferente. Imagino que, à medida em que o tempo passar, nós iremos nos familiarizar com a língua. Acredito que é uma forma que temos de aprender este idioma e de cumprir com o objetivo de estar aqui e, pelo menos, para mim, é um dos idiomas que sempre sonhei em aprender e que me encanta muito”, compartilha.

Salma Chidassicua, que veio do Moçambique para o Brasil há duas semanas, relata que escolheu o Brasil e, principalmente, a cidade de Alfenas porque já havia realizado um curso na capital mineira, Belo Horizonte, e percebeu que os mineiros são muito amorosos.

A falta de oportunidade em seu país, conta a doutoranda moçambicana, é outro motivo que a fez escolher pelo doutorado no Brasil. “No meu país não temos Universidades de doutoramento e não temos escolas de Enfermagem. Quase não temos licenciaturas e, se existem, são poucas e muitos não têm oportunidade”, afirma.

A pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação, Vanessa Marques, esclarece informações aos participantes a respeito do curso de Português para Estrangeiros. (Foto: arquivo/Dicom)

“Além disso, a UNIFAL-MG é uma Universidade de alto nível e muito bem conceituada, vale a pena apostar na UNIFAL-MG. Aqui em Alfenas as pessoas são amorosas e acolhedoras e isso combina com o curso que eu estou fazendo, porque Enfermagem é a arte de amar”, salienta a estudante.

Na oportunidade, a pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação, Profa. Vanessa Marques, informou aos estudantes que a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG) já deu andamento a um curso específico de Português para Estrangeiros aos estudantes de pós-graduação.

“Estamos contratando uma pessoa para lecionar este curso a vocês, o processo já correu, está na contratação e, assim que essa pessoa for contratada, ela vai entrar em contato com vocês para estabelecer o melhor horário de atendimento, para atender as necessidades de vocês nas suas diferenças”, explica.

Vida acadêmica

O doutorando em Ciências Farmacêuticas, Alfredo Dique, tem seu projeto de pesquisa voltado para a síntese de medicamentos no tratamento de malária e de tripanossomíase, mais conhecida como Doença de Chagas. “São doenças que afetam tanto o Brasil como o Moçambique. Assim, espero que os resultados que eu irei alcançar sejam úteis para esses dois países”, destaca.

Em relação às expectativas de vivência na Universidade, a estudante Nydie Gervais salienta que espera se familiarizar com a comunidade acadêmica e participar de projetos de extensão universitária e se envolver em outros projetos e atividades culturais da cidade.

Após terminar a pós-graduação no Brasil, Nydie Gervais pretende contribuir com as pesquisas de seu país e aproveitar o que aprendeu com a Enfermagem do Brasil. Nydie Gervais investiga questões relacionadas ao papel educativo desenvolvido para pessoas que possuem diabetes mellitus.

Elsi Valenzuela Rotondaro faz mestrado em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade. (Foto: arquivo/Dicom)

Elsi Rotondaro, que cursa mestrado em Educação na Universidade, pretende retornar à Venezuela com possíveis alternativas para a implementação da modalidade híbrida de ensino na escola em que atua, sobre a qual busca se espelhar nos moldes brasileiros e tecer suas investigações durante a pós-graduação. “É um contraste muito interessante, muito nutritivo, que me permite ter outra visão de uma questão curricular um pouco mais participativa, mais aberta, com mais tecnologia”, afirma a estudante.

Para Nallery Jiménez, que faz um estudo comparativo entre diferentes materiais e métodos odontológicos utilizados na prática da Odontologia, sua pesquisa será de muita serventia para a aplicação em sua prática odontológica na Nicarágua. “No meu país nós trabalhamos muitos com materiais europeus e norte-americanos, sinto que o uso de materiais odontológicos produzidos no Brasil é muito minimizado. Sinto que essa prática é mais por um costume do que por um ensinamento aprendido em nossas universidades”, declara.

Nallery Steysi Rostrán Jiménez faz mestrado em Ciências Odontológicas na UNIFAL-MG. (Foto: arquivo/Dicom)

Nallery Jiménez atua na área da Odontopediatria em seu país e conta que as pesquisas brasileiras nesta área estão avançadas em relação à Nicarágua. “É necessário que tenhamos mais conhecimento das correções que podemos fazer nas crianças ou de como podemos intervir durante a fase de crescimento delas. Então sinto que minha pesquisa tem um grande impacto na minha prática diária”, explica.

O trabalho de doutorado de Salma Chidassicua é novidade em sua atuação. A enfermeira conta que pretende estudar as práticas em aromaterapia realizadas no Brasil a fim de levar para seu país. “Vou estudar algo que nunca trabalhei antes. Vou trabalhar com aromaterapia aplicada em idosos para tratar questões de insônia. É um estudo que vale a pena fazer e levar para Moçambique para ensinar os demais a recuperar a saúde mental dos idosos. Também trabalho com mulheres e crianças, então pretendo estender meus estudos sistemáticos em aromaterapia para o cuidado de mulheres grávidas, mulheres durante o parto e no pós-parto”, revela.

Cultura

Os pós-graduandos relataram que, durante os estudos, pretendem aproveitar ao máximo para conhecer a cultura local e viver as experiências proporcionadas pela Universidade.

“Eu preciso de mais tempo para conhecer o que Alfenas traz a respeito de cultura e comparar com o que eu trago do meu país”, salienta Alfredo Dique. “Eu tenho a informação de que algumas coisas são parecidas entre Brasil e o Moçambique, como a questão do clima e isso implica na vegetação também. Eu ainda não tive contato com pessoas de fora daqui, para saber a respeito da medicina tradicional, então não sei como é feito isso aqui, mas acredito que muitas plantas que temos lá podem ter aqui. Vou tentar entender como as comunidades usam essas plantas, por exemplo, no tratamento de algumas doenças”, conta.

Na imagem, estão parte dos integrantes, durante a fala de Johan Marin. (Foto: arquivo/Dicom)

O doutorando em Ciências Farmacêuticas completa que o Moçambique é um país em que se usa muitas plantas para o tratamento medicinal de doenças, apesar não ter estudo científico para a comprovação da eficácia dessas plantas: “Eu espero que aqui, provavelmente, esteja mais adiantado quanto às pesquisas na área de composição química e da eficácia das plantas para o tratamento de certas doenças. Isso é visto com parte da cultura porque é o conhecimento que as comunidades detêm que depois é passado para as universidades”.

Para Nydie Gervais, o sistema de saúde do Brasil é algo a ser inspiração de outros países. “O Haiti é muito atrasado em comparação ao Brasil, não há comparação possível, mas quero ver o que é bom daqui para levar ao meu país. Como o sistema de saúde, por exemplo, que no Haiti é quase inexistente. Poucas pessoas têm a possibilidade de acesso à saúde e, por isso, quero ver o que deu certo aqui e levar para o meu país”, declara.

Johan Marin conta que se encantou com a culinária brasileira desde o primeiro dia em que chegou no país: “A comida brasileira é muito boa, deliciosa, diversa. Eu pretendo provar todas as variedades e aqui tem muitas”, salienta. O estudante marca, ainda, que pretende conhecer museus, pessoas e lugares diferentes para voltar à Colômbia com outro ponto de vista.

Concordando com Johan Marin a respeito da gastronomia, Elsi Rotondaro e Nallery Jiménez contam que as duas moram no mesmo prédio e que gostam muito da convivência com os brasileiros. “A culinária é indiscutível, mas essa pluralidade não só é na gastronomia, como também na convivência com as pessoas, há muita amabilidade, cortesia, respeito, ordem, limpeza e isso é muito agradável. Na cidade, a convivência será muito satisfatória, é possível viver com muita tranquilidade aqui”, afirma Elsi Rotondaro.

“É uma experiência intercultural grandiosa. A respeito da parte educacional, a forma como se leva a concessão administrativa-acadêmica nesta Universidade é um exemplo a se seguir. O modo de pensar as normas e a produtividade científico-acadêmica são exemplos importantes do ponto de vista filosófico que eu posso levar para as universidades do meu país”, completa a mestranda em Educação.

A diversidade culinária, para Nallery Jiménez, é marcante pelos diferentes tipos de frutas que ela não conhecia. “Me encanta a bebida ‘guaraná’. Nunca a vi antes e sempre que vou ao supermercado, compro, porque gostei muito. Outra coisa que nos acostumamos é ir à feira-livre aos finais de semana, para conhecermos a diversidade de coisas que em nossos países, meu e de Elsi, não conhecíamos. Eu gosto de muitas outras coisas deste país, como o respeito à diversidade das pessoas e ao respeito às diferentes formas de pensar”, conta.

“Esta semana, na sala de aula, participei de um debate sobre o tema da eutanásia. Então, me senti muito feliz em estar aprendendo sobre diferentes pontos de vista que os brasileiros têm e poder abordar o meu ponto de vista a respeito do que pensamos em meu país, falar como é a cultura do meu país e como a cultura influencia, de certo modo, a opinião e o pensamento das pessoas.

Segundo Nallery Jimenéz, as discussões acadêmicas que ela tem com seus colegas do mestrado são amplas, possibilitando que ela compare com os diálogos realizados com os colegas profissionais em seu país. “Outra situação que me deixa alegra é perceber os diferentes modos de pensar a respeito ao trabalho em clínicas, por exemplo. É bom saber o pensamento dos professores e dos alunos a respeito de usos de algumas técnicas que quando discutidas com os colegas de meu país percebo que eles não estão de acordo, mas que aqui no Brasil já existem comprovações científicas o suficiente atestando que é possível usar uma técnica determinada. Então, creio que o intercâmbio cultural vai me ajudar de diferentes modos. O aprendizado é completo, não somente educacional”, completa.

A estudante conta, também, que o respeito pelas pessoas é maior no Brasil. De acordo com ela, as pessoas se respeitam independentemente do modo como elas se vestem ou manifestem a diversidade. “Em outros países, dependendo do modo como a pessoa vai à Universidade para estudar, pode sofrer abuso ou ser atrapalhada de outras formas, enquanto aqui percebo que as pessoas são muito tolerantes e respeitam as diferenças uns dos outros. Dessa forma, percebo que vocês estão muito avançados nesse pensamento e na forma de pensar”, declara a mestranda.

Salma Esmael Bobo Chidassicua atua como enfermeira no Moçambique e cursa doutorado em Enfermagem na UNIFAL-MG. (Foto: arquivo/Dicom)

No Moçambique, para Salma Chidassicua, a realidade é ainda mais diferente: “Eu gostaria que o Moçambique tivesse, pelo menos, uma escola de Enfermagem como a de Alfenas. Outra situação que pude perceber é que existem muitos alimentos aqui que vocês pensam ser venenosos ou prejudiciais à saúde, mas que no meu país nós comemos, como a folha da batata-doce, da mandioca. Eu pude preparar para alguns brasileiros aqui e eles gostaram. A maneira de vestir também é bem diferente, porque viemos ‘engravatados’, com casaco, pensando que aqui vocês também se vestiriam assim na Universidade, e notamos que aqui o ambiente é mais leve”.

Para a doutoranda em Enfermagem, o sistema de saúde do Brasil é complexo, tecnológico e deve servir de inspiração a outros países. “No Moçambique nós ainda usamos livros para registrar o atendimento e as consultas”, conta. “Devido à variedade de alimentos, vocês conseguiram combater a desnutrição, algo que é realidade no meu país. Nós produzimos muito alimentos no Moçambique, mas ainda assim há crianças morrendo de fome. A beleza também pode ser vista na forma como os brasileiros cuidam, são amorosos, atenciosos. Quero levar tudo isso para o meu país”, finaliza a doutoranda em Enfermagem.

Nota da Dicom: A doutoranda Salva Asghar, do Programa de Pós-Graduação em Química, não esteve presente no encontro por motivos de saúde.

Confira, abaixo, a galeria de fotos do encontro dos estudantes. (Foto: arquivo/Dicom)

 

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