Teve azul, mas faltou ouro, por Eloésio Paulo

É sintomático que o único personagem muito interessante de Ouro sobre azul (1875), romance hoje um pouco esquecido, seja o celibatário convicto e globetrotter folgazão Adolfo Arouca. Ele se enquadra muito mal no figurino romântico, a ponto de o estranharmos quando afivela ao rosto a máscara do burguês cheio de respeito às conveniências. Adolfo é … Ler mais

Notas breves do cinema brasileiro no dia de sua comemoração, por Ítalo Oscar Riccardi León

Abordar o cinema brasileiro por ocasião da comemoração do seu aniversário, 19 de junho, em função das primeiras imagens cinematográficas do Brasil registradas na Baía de Guanabara, Rio de janeiro, em 1898, atribuídas aos irmãos italianos Paschoal Affonso e Segreto, conforme assinala a Agência Nacional de Cinema (ANCINE), é uma grande honra para quem, além … Ler mais

Macabro, patético e risível, por Eloésio Paulo

  A trilha sonora era Radiohead, mas bem que podia ser Twisted Sister. Em 2006 a Rede Globo, dando uma de Record, produziu aquele caso policial baseado no episódio conhecido como “crimes do Arvoredo”, em referência à rua de Porto Alegre onde, no ano de 1864, um improvável casal foi autuado pela polícia por matar … Ler mais

Teoria do adultério, por Eloésio Paulo

Visto por alto, o único romance publicado por Lúcio de Mendonça não parece mais do que uma daquelas manifestações tardias do Romantismo. O que fica evidente, à primeira leitura, é o dramalhão sentimentaloide, transformado em teoria lá pela metade do livro, quando o marido do título faz suas considerações sobre a culpabilidade dos consortes traídos. … Ler mais

Um “fazendeiro do ar”, por Eloésio Paulo

Francesco Petrarca (1304-1374), um dos grandes escritores renascentistas, queixou-se num poema por sua amada, por ele tornada arquifamosa, não apenas o haver deixado para casar-se com outro, mas ter dado a este “undici figlioli” (onze filhos). Maior razão teria Constança, a prima de Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), celebrada pelo poeta em seus sonetos simbolistas, alguns … Ler mais

“Por diversão, para divertir”, por Eloésio Paulo

 Já ninguém lê livros de bolso, aqueles que a gente comprava na banca de jornal: de faroeste e de espionagem, principalmente. Um brasileiro chamado José Carlos Inoue certa vez concedeu ao Estadão interessantíssima entrevista revelando ter escrito, ao longo de vários anos, nada menos que três desses livrecos por dia. Mesmo com enredos e personagens … Ler mais

“Ensinar literatura – isso ainda faz sentido?”, por Eloésio Paulo

Em seu livro mais recente, Paulo Franchetti, professor aposentado da UNICAMP, presta considerável serviço ao ensino de literatura. Um pessimista poderia dizer que a contribuição é tardia, pois o recente desmonte das dimensões não automatizáveis da educação sinaliza um provável abandono da leitura de obras literárias na escola básica e até nas universidades, onde ela … Ler mais

“Neurastenia ao telefone”, por Eloésio Paulo

Ainda bem que Dulce, a protagonista de A voz submersa (1984), tem um marido rico, metido em falcatruas governamentais propiciadas pela sociedade com um oficial do Exército. A chamada telefônica transcrita pelo narrador do romance de Salim Miguel custaria uma fortuna, e as 105 páginas que ela ocupa são a medula do livro: não se … Ler mais

“Um Alencar atualíssimo”, por Eloésio Paulo

José de Alencar é um grande “vilão” quando se considera esta de muitas tragédias do ensino básico no Brasil: a incapacidade da escola de estimular, entre crianças e jovens, o hábito da leitura. É que os principais livros do escritor romântico, classificados como romances indianistas e urbanos, são, o mais das vezes, empurrados goela abaixo … Ler mais

“Vida de juiz era bem outra”, por Eloésio Paulo

A cidade sul-mineira de Carmo de Minas, que até 1953 se chamava Silvestre Ferraz, produziu uma improbabilidade estatística: dois escritores relevantes no mesmo século, número desusado em relação ao contingente populacional do município, que hoje não chega a 15 mil habitantes. Não será o caso de especular as causas do fenômeno, tarefa atribuível a alguém … Ler mais

Hilda Furacão: Memória 4 x 1 Ficção, por Eloésio Paulo

O leitor que assistiu à série feita pela Globo sentirá falta de algumas coisas no romance Hilda Furacão (1991), que a inspirou. Não só de Ana Paula Arósio e Rodrigo Santoro, mas de boa parte da história de amor que eles encarnam. O livro de Roberto Drummond, como costuma ocorrer nesses casos, foi reescrito para … Ler mais

“A volúpia da prolixidade”, por Eloésio Paulo

Você está lendo um livro de 500 e tantas páginas, o que já é um ato de coragem nestes tempos tão pouco convidativos ao dispêndio inteligente de tempo e energia. Então, depara com palavras que nunca imaginou que existissem: cebolórios, javevó, verecúndia, sincipúcio, folastria. Vai ao dicionário e constata, surpreso, que todas elas existem na … Ler mais

“As três Marias” de Rachel de Queiroz, por Eloésio Paulo

A inadequação do escritor ao mundo e a variedade dos destinos humanos vinculam mais, como temas a deduzir do enredo, As três Marias (1934) ao gênero romance do que o próprio andamento da narrativa, que em sua maior parte se parece com um livro de memórias. Memórias cuja autora é oficialmente fictícia, no caso a … Ler mais

“Os vícios da política latino-americana, dramatizados por um grande escritor”, por Eloésio Paulo

Ainda que o livro não tivesse outros atrativos, valeria a pena percorrer as 450 páginas de O senhor embaixador (1965) somente para chegar a sua última frase; poucos escritores conseguiram imaginar desfecho tão brilhante para um romance. Contudo, não é uma das obras mais bem logradas de Erico Verissimo, cujas grandes qualidades como romancista se … Ler mais

“Lições de esperar a morte”, por Eloésio Paulo sobre o livro “Lições de abismo” de Gustavo Corção

Há uma cena em particular, entre várias de Lições de abismo (1951) que justificam a comparação do estilo de Gustavo Corção com o machadiano. É aquela em que, visitando o narrador-protagonista, seu médico, às desajeitadas marteladas de quem não sabe usar a ferramenta, prega um crucifixo na parede do quarto. Cena ao mesmo tempo bizarra … Ler mais

“Fliperama sexual etc.”, por Eloésio Paulo sobre o livro “Os Corumbas” de Amando Fontes

Os Corumbas é um daqueles títulos que não atraem ninguém à leitura de um livro. Isso, é claro, não se dá apenas com a obra do sergipano Amando Fontes; veja-se o caso de Quincas Borba, o de Lucíola, o de Inocência. Parece, no caso do romance de Fontes, que se vai falar de alguma tribo … Ler mais