UNIFAL-MG transforma cuidado com animais comunitários em política institucional e fortalece ações para convivência segura nos campi

Com ajuda de parceiros, Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal implementa castrações, vacinação, monitoramento e campanhas de prevenção ao abandono
Chapolin - cão comunitário que já foi castrado e pode ser adotado. (Foto: Arquivo/Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal)

Em julho deste ano, a UNIFAL-MG implementou a política institucional de manejo e proteção dos animais comunitários que vivem nos campi da Universidade. Para organizar as diretrizes focadas em práticas éticas, sustentáveis e humanitárias envolvendo os cães e gatos foi criada também a Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal (CPMPA) que deu origem ao projeto Aumigos Acadêmicos da UNIFAL-MG.

Ira de Lizandra Gonçalves – servidora e presidente da Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal. (Foto: Arquivo Pessoal)

Animais comunitários são aqueles que não possuem tutor único, sendo cuidados coletivamente por membros da comunidade universitária ou do entorno. Mesmo com a responsabilidade das prefeituras no manejo dos animais do município, conforme Lei Estadual nº 21.970/2016 e a Lei Municipal de Alfenas n° 5.046/2021, a presença desses animais é reconhecida e acompanhada institucionalmente, com ações de manejo, saúde e monitoramento contínuo.

A presidente da comissão, servidora Ira de Lizandra Gonçalves, explica que a criação do projeto Aumigos Acadêmicos da UNIFAL-MG visa organizar e fortalecer as ações de cuidado com os animais comunitários. “O projeto contempla acolhimento, atendimento veterinário, castração, vacinação, estímulo à adoção responsável e ações de educação ambiental”, relata.

Segundo ela, a iniciativa busca ampliar a segurança dos animais e das pessoas que circulam pela Universidade. “Nossa comissão vem adotando estratégias já em processo de implementação, como o controle populacional por meio de castração; a vacinação e os cuidados veterinários periódicos; o monitoramento e o registro dos animais, garantindo acompanhamento individual; e a avaliação de saúde e o manejo adequado de animais vulneráveis”, detalha.

A Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal é formada por servidores técnicos-administrativos, docentes, estudantes e colaboradores terceirizados dos campi de Alfenas, Poços de Caldas e Varginha, e representantes de órgãos externos.

Além da presidente, Ira Gonçalves, integram a CPMPA: Érika Kristina Incerpi Garcia (médica veterinária); Fernanda Paiva de Oliveira (assistente em administração); Flamarion Dutra Alves, José Francisco Lopes Xarão e Roseli Soncini (professores do Magistério Superior); Mayara da Mota Matos (técnica em assuntos educacionais); Stella Maria Sulz Barbosa Borges (engenheira); as discentes Camilly Souza do Nascimento Vicente, Mylena de Souza, Eloysa Sant’Ana Cassiano e Sofia Ferreira Lourenço; as colaboradoras terceirizadas Cleide Lana Vitor e Laura de Bom Maimone dos Santos; além de Erothildes Silva Rohrer Martins, representante da Vigilância Sanitária de Alfenas, e Marta Helena Pelegrin Sírio, coordenadora do Programa de Saúde Animal (PROSAN) do município.

(Fotos: Arquivo/Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal)

Manejo, saúde e prevenção

Ira Gonçalves pontua que a CPMPA mantém vigilância sobre situações que envolvam comportamento agressivo de alguns cães e prevê medidas preventivas. “A comissão está atenta aos casos de comportamento agressivo apresentados por alguns cães e prevê a avaliação individual desses animais, com foco na prevenção de situações de risco”, diz.

Em situações de mordedura nos campi, a CPMPA segue um protocolo institucional que envolve orientação imediata à vítima sobre os primeiros cuidados, orientação quanto à busca de atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) do município e articulação direta com o Centro de Controle de Zoonoses para o acompanhamento do caso e do animal na Universidade.

Novas ações serão implementadas como campanhas educativas sobre convivência segura e guarda responsável, bem como a instalação de pontos oficiais de alimentação e hidratação para evitar a circulação desordenada e conflitos. Estratégias de prevenção ao abandono também serão adotadas junto à comunidade universitária.

“O abandono ainda é uma das principais causas de risco para os animais e para a comunidade universitária. Por isso, vamos intensificar o trabalho de conscientização e o diálogo com a comunidade sobre guarda responsável”, ressalta Ira Gonçalves.

Mayara da Mota Matos – servidora do campus Poços de Caldas e integrante da comissão. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Mayara da Mota Matos, servidora do campus Poços de Caldas e integrante da Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal, a iniciativa da UNIFAL-MG representa uma demanda antiga que finalmente começou a ser atendida. Segundo ela, embora atualmente não haja registros de problemas mais graves envolvendo animais no campus Poços de Caldas, situações desse tipo já ocorreram no passado, o que reforça a importância de ações preventivas e educativas.

“Essa ação de educação, tanto da comunidade acadêmica quanto da comunidade do entorno, é muito valiosa. A gente precisa trabalhar a relação do ser humano com os animais e avançar em um processo de responsabilização, e a universidade é o lugar ideal para isso”, afirma.

Na visão da servidora, o ambiente universitário também oferece espaço para iniciativas inovadoras que articulem cuidado animal e bem-estar estudantil. “Algumas universidades já utilizam esses animais em projetos de pet terapia. Se a UNIFAL-MG investisse nisso, poderia ser uma forma interessante de lidar com o estresse e a ansiedade dos alunos”, sugere.

Mayara Matos reconhece que muitas das ações da comissão ainda ocorrem de forma pontual e dependem de mobilização constante para obtenção de doações e estrutura. Ainda assim, destaca os avanços institucionais já conquistados. “A criação da comissão e da regulamentação já são um avanço importante. Antes, havia uma resolução que proibia a presença e até a alimentação de animais nos campi. Hoje, avançamos no entendimento da nossa relação com os animais e com a comunidade”, pontua.

Stella Maria Sulz Barbosa Borges – servidora do campus Varginha e integrante da comissão, com Cenoura, seu gatinho de estimação. (Foto: Arquivo Pessoal)

A servidora do campus Varginha Stella Maria Sulz Barbosa Borges, que também integra a comissão, argumenta que a relação entre humanos e animais é marcada por um vínculo afetivo profundo, muitas vezes não reconhecido socialmente. Segundo ela, a dificuldade de compreender esse laço ainda é um dos principais desafios para a aceitação dos animais no cotidiano, inclusive no ambiente universitário.

Stella Borges acredita que a decisão da UNIFAL-MG de implementar uma política institucional de manejo e proteção animal representa um marco importante. “Vejo esse movimento como um divisor de águas. A Universidade deixa de tratar a presença dos animais como algo pontual ou incômodo e passa a reconhecê-los dentro de uma perspectiva ética, de responsabilidade e de convivência respeitosa com a comunidade acadêmica”, afirma.

Na avaliação da servidora, a comissão exerce um papel estratégico ao transformar diretrizes formais em ações concretas nos campi. “A CPMPA faz a ponte entre a norma e a realidade dos campi, ouvindo a comunidade, mapeando situações, propondo soluções, articulando parcerias e construindo alternativas que priorizam o bem-estar animal e a segurança de todos”, destaca.

Para ela, esse processo representa uma mudança de postura institucional. “É sair do improviso e caminhar para um manejo mais responsável, transparente e humano, reafirmando que esses animais não são invisíveis nem descartáveis, mas parte de uma realidade com a qual a universidade escolhe se comprometer”, conclui.

Eloysa Sant’Ana Cassiano – acadêmica do curso de Farmácia e integrante da comissão. (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde que ingressou na UNIFAL-MG, Eloysa Sant’Ana Cassiano, estudante do curso de Farmácia e integrante da CPMPA, percebeu a complexidade da situação envolvendo os animais comunitários que circulam nos campi. Apesar do vínculo afetivo construído por muitos estudantes com esses animais, a acadêmica comenta que as abordagens adotadas anteriormente pela Universidade nem sempre contemplavam de forma sistematizada o cuidado e a convivência responsável.

O engajamento da discente na causa se intensificou em meados do ano passado, quando criou a página @cachorrosunifal_daily, no Instagram, com o objetivo de aproximar a comunidade acadêmica dos animais comunitários e divulgar informações sobre adoções, arrecadações, animais perdidos e outras demandas. A iniciativa ganhou adesão de estudantes e professores, e ampliou o debate sobre o tema dentro da Universidade.

“Quando descobri sobre a comissão, eu fiquei muito feliz que tinham mais pessoas nessa causa e mais feliz ainda que estavam realmente agindo institucionalmente para cuidar desses animais”, relata.

A acadêmica logo passou a fazer parte da comissão e percebe o trabalho do grupo como um avanço significativo ao reconhecer institucionalmente a presença dos animais no espaço universitário.

“A Universidade é um espaço público e negar que esses animais fazem parte da comunidade é fechar os olhos para problemas que podem surgir a partir disso”, afirma. “Essa comissão é muito importante para tornar o convívio entre a comunidade acadêmica e os animais comunitários mais pacífico, consciente e responsável”, acrescenta.

Eloysa Cassiano destaca ainda que uma abordagem mais acolhedora contribui diretamente para a segurança e a saúde coletiva. “Quanto mais amigável é a abordagem, menor a chance de os animais se tornarem violentos. Além disso, cuidados regulares ajudam a evitar a disseminação de doenças”, ressalta.

Abandono e maus-tratos

A CPMPA alerta que casos de abandono ou maus-tratos dentro da Universidade podem ser denunciados diretamente à comissão pelo e-mail cpmpa@unifal-mg.edu.br. As ocorrências também podem ser comunicadas à Polícia Militar (190), à Polícia Civil, ao Ministério Público Estadual ou aos órgãos municipais de zoonoses. O abandono configura crime ambiental, conforme a Lei Federal nº 9.605/1998.

As imagens registradas pelas câmeras de segurança dos campi poderão ser utilizadas pela comissão para subsidiar as denúncias e encaminhar os casos aos órgãos competentes, a fim de contribuir para a responsabilização dos envolvidos.

“Alguns animais comunitários podem demonstrar resistência ao contato humano, especialmente aqueles que já sofreram maus-tratos. Assim, recomenda-se também cautela ao se aproximar de animais que não demonstram interesse em interação”, informa Ira Gonçalves, acrescentando que a convivência com animais comunitários faz parte das ações de Educação Ambiental que serão desenvolvidas dentro dos campi.

Conforme a presidente da Comissão, ao sistematizar os procedimentos de cuidado, monitoramento e manejo responsável, a Universidade conseguirá equilibrar o bem-estar animal e a segurança nos campi. “Ao oferecer esses cuidados de forma estruturada, a Universidade reduz riscos sanitários, melhora a convivência e contribui para a proteção dos animais e da comunidade universitária”, destaca Ira Gonçalves.

(Fotos: Arquivo/Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal)

Projeto Aumigos Acadêmicos

A presidente da comissão ressalta que todas as ações desenvolvidas dependem exclusivamente de doações e parcerias. “A comissão e o Projeto Aumigos Acadêmicos sobrevivem, exclusivamente, de doações obtidas por meio de parcerias, não havendo dotação orçamentária específica para manutenção dessas ações. Por isso, o apoio da comunidade e de instituições parceiras é essencial para a continuidade do trabalho”, reforça.

Atualmente, os parceiros contribuem com ração, medicamentos e divulgação. Entre os parceiros estão a Casa da Ração; a Special Dog Company e Bionatural – Alimento Super Premium Natural; o Mundo Pet Rações; e a Rádio Federal FM de Alfenas. O Programa de Saúde Animal de Alfenas, o PROSAN, também auxilia na realização das castrações.

“Esses parceiros colaboram com ração, medicamento e publicidade, ajudando a garantir o bem-estar animal e a continuidade do projeto”, diz Ira Gonçalves.

Mesmo com menos de um ano de criação, a comissão já conseguiu implementar ações significativas como castrar a maioria dos cães que vivem no campus da Unidade Santa Clara e vacinar todos os animais. Antes, essa ação era realizada por iniciativa da servidora Walkíria Alves Teixeira, protetora independente, com apoio da Pró-Reitoria de Administração e Finanças (Proaf).

Segundo a CPMPA, a vacinação e castração reduzem riscos sanitários, além de melhorar a convivência e aumentar a segurança para animais e comunidade acadêmica.

Seis animais comunitários já foram adotados e hoje recebem cuidados de tutores responsáveis.

(Fotos: Arquivo/Comissão Permanente de Manejo e Proteção Animal)

Como ajudar

A comissão continua aberta a novas parcerias com empresas, entidades e cidadãos que desejem contribuir com o cuidado dos animais comunitários. Doações de ração, medicamentos, materiais de higiene e apoio veterinário são bem-vindos para manter e ampliar as ações.

“Cada gesto importa. Nossa missão é proteger os animais comunitários e garantir uma convivência ética nos espaços acadêmicos. E isso só é possível com a colaboração coletiva”, completa Ira Gonçalves.

Interessados em contribuir, podem entrar em contato pelo e-mail cpmpa@unifal-mg.edu.br.

Para conhecer outras ações desenvolvidas pela comissão, acesse a página www.unifal-mg.edu.br/cpmpa ou acompanhe as ações do projeto pelo Instagram, neste link.

Animais comunitários na UNIFAL-MG

Confira na íntegra aqui a política instituída pela Resolução do Conselho Universitário nº 58 de 11 de julho de 2025

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