Professor, poeta e crítico literário, nascido em Areado-MG, Eloésio Paulo demorou 13 anos de árduo trabalho para concluir a obra 201 romances brasileiros em 5 minutos cada. Qualquer tentativa de resumir este laborioso trabalho será uma minimização do grande feito que ele representa — parafraseando o autor, na resenha em que abrevia Grande Sertão: veredas, do mineiro João Guimarães Rosa.
A fagulha inicial para criação do livro aconteceu enquanto Eloésio Paulo ainda era professor de cursinho preparatório e percebeu que era inviável ler todos os autores essenciais com a frequência requerida pelas aulas. A partir desta careza de informações, reunidas em uma única obra, o professor inicia aquilo que foi muito bem resumido pelo escritor mineiro Luiz Ruffato no texto em que prefacia o livro: “Um desafio à inteligência”. Adicionemos um “desafio à coragem e à persistência”, principalmente nos momentos em que o autor teve a penosa tarefa de ler e resenhar livros como O choque das raças ou O Presidente negro (Monteiro Lobato, 1926) e As Valkírias (Paulo Coelho, 1992). O primeiro, nas palavras do autor, candidata-se (expressivamente) ao: “[…] título de pior produção nacional do gênero […]” — tendo em vista a significação de Monteiro Lobato à época. Sobre o mago imortal os comentários são maiores que a descrição do enredo.
Os livros resumidos estão dispostos em ordem cronológica (do século XIX ao XX) com o objetivo de facilitar a procura de cada resenha. Inicia-se com O filho do pescador (Teixeira e Sousa, 1843) e é encerrado com Sexo (André Sant´Anna, 1999). Perpassando o romantismo, naturalismo, realismo e algumas gerações notáveis, como a de 30, com forte presença do regionalismo — expresso em obras de autores como Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e José Lins do Rego —, é possível notar a evolução dos movimentos literários no Brasil. Concomitantemente, há algumas experimentações modernistas na prosa, com Oswald de Andrade, principalmente nas obras Memórias sentimentais de João Miramar (1924) e Serafim Ponte Grande (1933), até chegar em Grande sertão: veredas (1956): inclassificável em um movimento literário. Eloésio acrescenta: “Mede-se Grande sertão é pela Ilíada, pelo Quixote, pelo Ulysses de James Joyce. É notável que quanto mais a obra aproxima-se dos dias atuais, menos características canônicas ela apresenta.
O conjunto apresenta-se como uma preleção sobre o poder da síntese. Nele, o autor opta por uma linguagem acessível, mas, ainda assim, criteriosa e crítica. Nem autores do calibre de Machado de Assis, Aluísio Azevedo e Graciliano Ramos passam impunes pelo crivo das análises, seja pela inverossimilhança ou pelo fraco lastro psicológico das personagens. Entretanto, há diversas surpresas positivas e, muitas vezes, desconhecidas, como as obras Os ratos (1935) e O louco do Cati (1942), ambas do gaúcho Dyonélio Machado, ou Armadilha para Lamartine (1976) de Carlos & Carlos Sussekind que, segundo autor: “[…] é um dos poucos romances contemporâneos que não fariam feio se comparados a Graciliano Ramos ou Machado de Assis”. Este último não ganha novas edições desde 1998, muito provavelmente por falta de leitores.
Em apenas uma página, o estudo indica aos leitores, na visão do autor, se a leitura dos livros, nos dias de hoje, seria proveitosa (ou não), e com quais objetivos. Eloésio não se omite: apresenta, aliado aos aspectos técnicos literários, sua opinião sobre cada obra, fazendo com que o livro tenha uma ótima fruição — parecida com a de uma crônica, muitas vezes provocativa.
O produto final extrapola suas finalidades iniciais. Apesar de já ambiciosa a proposta do livro — reunir e resenhar os mais importantes romances brasileiros —, este não somente serve de amparo aos professores no preparamento de uma aula, quando carecem de tempo, mas também abre portas para diversas possibilidades de pesquisas histórico-literárias; muitas dessas “dicas” de pesquisa são inseridas durante a resenha, como em Angústia (1936), de Graciliano Ramos, em que o início do Estado Novo serve de pano de fundo à história narrada. Além disso, a atenção focalizada em conceitos próprios da literatura apresenta-se como uma verdadeira ferramenta àqueles que aspiram ser escritores — interessados pela arte, e não em agradar ao mercado, claro.
A edição impressa vem com um pequeno (feliz) equívoco: os romances são 202. Ótimo para os leitores que acabam a leitura querendo um pouco mais, ou para outros que consideram A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, uma novela, ou Infância (1945), do Velho Graça, um livro memorialista, e não um romance, por exemplo.
Concentração densa, mas de simples leitura, 201 romances em 5 minutos deve ser presença obrigatória nas bibliotecas de qualquer um que se interesse por literatura.

Nascido em São José dos Campos-SP, João Malbec Franco Lacaz Ruiz é estudante do 5° período de História na UNIFAL-MG. Paralelamente, dedica-se ao estudo de literatura, pintura, desenho e artes em geral.
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