Mazé Torquato Chotil fala sobre literatura e migração; obra lançada em visita à UNIFAL-MG é premiada pela Academia Internacional de Literatura Brasileira

Mazé Torquato Chotil em registro feito em novembro de 2024 durante visita à UNIFAL-MG. (Foto: Arquivo/Dicom)

No final de 2024, a jornalista, pesquisadora e escritora brasileira Mazé Torquato Chotil esteve na UNIFAL-MG para lançar o romance Mares Agitados: na periferia dos anos 1970. A obra, inspirada em memórias pessoais e na migração de jovens do Mato Grosso do Sul para São Paulo nos anos 1970, viria a conquistar o Prêmio Romance da Academia Internacional de Literatura Brasileira (AILB) 2025. O lançamento na Universidade aconteceu durante a Jornada Literária – Letras para Todos, promovida pelo curso de Letras, Bacharelado e Licenciatura e suas respectivas Literaturas, em novembro de 2024.

Em entrevista concedida ao Jornal UNIFAL-MG, Mazé falou sobre a importância do reconhecimento internacional, as relações entre memória e criação literária e o papel da literatura brasileira em diálogos globais. A entrevista foi conduzida pelo professor Ítalo Oscar Riccardi León e pela jornalista Ana Carolina Araújo em 22 de setembro de 2025.

Confira a seguir:

Para Mazé Torquato Chotil, o prêmio é uma boa notícia, pois dá visibilidade à obra e também ao seu estado de origem – o Mato Grosso do Sul. (Foto: Arquivo/Dicom)

O que significa para você ter vivenciado o Prêmio Romance da AILB 2025 com Mares agitados: na periferia dos anos 1970?

Mazé Torquato Chotil: Ter um prêmio é sempre uma boa notícia, e este eu recebi com muito carinho. Boa notícia porque ele dá visibilidade à obra. Como você sabe, fazer um caminho no mercado do livro no Brasil é sempre um grande dispêndio de energias. Estarei em Nova Iorque, no dia 14 de novembro, juntamente com os vencedores das outras categorias do AILB, a fim de receber o prêmio fisicamente no Consulado do Brasil naquela cidade.

De onde veio a inspiração, temática ou assunto para retratar a migração de jovens do Mato Grosso do Sul para São Paulo na década de 1970?

Capa do livro premiado. (Imagem: Divulgação)

Mazé Torquato Chotil: O Mato Grosso do Sul, meu estado de nascimento, precisa de mais visibilidade em termos de sua literatura no cenário nacional, razão pela qual tenho produzido muito sobre essa relação com meu lugar de origem, muitas vezes passando por São Paulo e Paris, lugares por onde circulo.

Em que medida sua própria trajetória pessoal ou de memórias pessoais dialogam com os personagens e situações que são retratadas no livro?

Mazé Torquato Chotil:  O autor se espelha muito e utiliza suas memórias em suas criações. Eu não fujo à regra. Com exceção das biografias que escrevi – José Ibrahim, Maria d’Apparecida e Lucy Citti Ferreira, além de trabalhos universitários (como Trabalhadores Exilados) – minha obra está marcada pelas memórias da minha vivência.

“O autor se espelha muito e utiliza suas memórias em suas criações. Eu não fujo à regra. Minha obra está marcada pelas memórias da minha vivência.”

Em Mares Agitados, utilizei informações da minha própria história para compor o livro. Fiz parte dos jovens que migraram para São Paulo à procura de trabalho e estudo. Nos anos 1970, o estado não possuía as universidades que tem hoje. Como filha de nordestinos que migraram para o Centro-Oeste em busca de terras para cultivar, eu e esses jovens nos instalamos nos grandes centros do país, em busca de desenvolver nossos conhecimentos.

Por outro lado, esse é um tema pouco tratado pela literatura, e por isso o considerei interessante para um romance.

O que você espera que os leitores levem consigo após a leitura da obra?

Mazé Torquato Chotil: Um conhecimento da época, dos anos 1970, do interior do Brasil e dos grandes centros, quando o país vivia sob ditadura. Muitos jovens desconhecem essa história brasileira, algo que percebi em meus encontros com leitores jovens durante o lançamento de Trabalhadores Exilados e José Ibrahim. Escolhi abordá-la na forma de romance porque considero mais acessível e fácil de leitura.

“O trabalho dos editores em traduzir literatura brasileira para outras línguas tem importância capital”, afirma Mazé Chotil. (Foto: Arquivo/Dicom)

Como você vê o papel da literatura brasileira em diálogos internacionais com as obras promovidas pela Academia Internacional de Literatura Brasileira (AILB)?

Mazé Torquato Chotil: A AILB nos Estados Unidos, eu na França, entre outros, o trabalho dos editores em traduzir literatura brasileira para outras línguas tem importância capital. Na França, por exemplo, a tradução literária do português (de todos os países lusófonos) para o francês representa menos de 5% do total, muito distante de idiomas como inglês, espanhol, chinês e italiano – ou seja, uma participação bastante modesta.

Em 2022, criei com amigos escritores em Paris a UEELP – União Europeia de Escritores de Língua Portuguesa -para ajudar a melhorar esse número. Foi um trabalho árduo, que tive que abandonar por falta de tempo, após ter criado a organização e sido sua primeira presidenta.

Qual tem sido o papel e divulgação de sua obra pela passagem pela FLIPOÇOS?

Mazé Torquato Chotil: De grande importância. Já estive presente duas vezes na FLIPOÇOS e estou confirmando minha participação para 2026 com a nova biografia Lucy Citti Ferreira: a pintora esquecida do modernismo. É um festival literário internacional, com a participação também de muitos leitores mineiros que têm acompanhado minha produção.

Registro feito durante o lançamento de “Mares Agitados: na periferia dos anos 1970″ na UNIFAL-MG. (Foto: André Stanley)

O que você poderia comentar a respeito dos contatos, encontros e/ou lembranças que guarda com a comunidade acadêmica e a importância dessa interação com jovens e os professores universitários de sua visita à UNIFAL-MG em 2024?

Mazé Torquato Chotil: Muitas lembranças e carinho com membros da comunidade acadêmica da UNIFAL-MG – sobretudo o Prof. Ítalo Oscar Riccardi León, que, além de apresentar alguns de meus livros na FLIPOÇOS, me convidou para conversas com alunos no ano passado durante a Jornada Literária – Letras para Todos. Tive muito prazer em encontrar e compartilhar com os professores Eloésio Paulo, Marcos de Carvalho, Renata Junqueira, Celso Ferrarezi Jr., Elias Ribeiro da Silva, Jessié Gutierres (Guti), assim como também o vice-reitor Alessandro Antônio Costa Pereira e pró-reitor da Extensão José Francisco Lopes Xarão. Gosto muito de interagir com professores e alunos de comunidades acadêmicas. É essencial estar com os estudantes, que gostam e estudam literatura, futuros profissionais.

Leia também a coluna Literatura pelas Bordas desta semana, com a resenha “Mares agitados: na periferia dos anos 1970”, de Mazé Torquato Chotil, obra vencedora do Prêmio Romance da Academia Internacional de Literatura Brasileira (AILB) 2025, assinada pelo professor Ítalo Oscar Riccardi León

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