Um estudo de campo sobre a flora e a fauna dos remanescentes florestais da cidade de Cristina-MG resultou em projetos de conservação das reservas, bem como em ações de educação e conscientização ambiental no município. Como exemplo desses projetos de conservação está a proposição e aprovação da Lei Municipal nº 2.306/2024, a qual declara o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita) – espécie classificada atualmente em perigo de extinção -, como patrimônio da biodiversidade do município e determina a data do dia 17 de junho como o Dia Municipal do Sagui-da-Serra-Escuro.
Para chegar a resultados como esse, um grupo de pesquisadores da UNIFAL-MG formado por docentes e discentes do curso de Ciências Biológicas e do Programa de Pós-Graduação e Ciências Ambientais (PPGCA), em parceria com a Prefeitura Municipal de Cristina, realizou expedições de campo diárias concentradas em três fragmentos de floresta denominados Pouso Frio, Mata da Prefeitura e Parque do Anil. Nesses locais, quatro grupos coletaram dados nas áreas de herpetologia, ornitologia, mastozoologia e ecologia de plantas epífitas.
As expedições envolveram 17 estudantes da Universidade, bem como os professores do Instituto de Ciências da Natureza (ICN), Rogério Grasseto Teixeira da Cunha, Flavio Nunes Ramos, Vinícius Xavier da Silva e Érica Hasui. “A prefeitura buscou com essa parceria atribuir informações de forma mais técnica sobre a composição da biodiversidade no município, complementando informações que já existiam e assim construir elementos para aplicar em turismo, conservação e educação ambiental”, explicou o assessor operacional da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente do município de Cristina, Flávio Calado.
Conforme relata Vinícius José Silva Barbosa Moreira, acadêmico do doutorado em Ciências Ambientais e um dos participantes da pesquisa, durante as incursões, foram empregadas diversas técnicas para a obtenção de dados. “Entre as técnicas, usamos câmeras fotográficas, binóculos que permitem a visualização de plantas e animais a longa distância, e armadilhas não letais, que permitem a soltura dos animais após a coleta de medidas e características”, contou.
No levantamento, o grupo conseguiu identificar, por exemplo, 100 espécies de aves, dentre as quais beija-flor-de-fronte-violeta, barbudo-rajado, pica-pau-rei, choquinha-da-serra, papa-taoca-do-sul. Também foram identificadas cerca de 40 espécies de mamíferos, além do sagui-da-serra-escuro, também jaguarundi, irara, gamba-de-orelha-preta, cuíca, jaguatirica, gato-do-mato-pequeno, gato-mourisco, cachorro-do-mato, lobo-guará, quati, entre outros.
O trabalho de campo dos pesquisadores gerou produtos de pesquisa e de extensão. Além de subsidiar a proposta da lei que foi sancionada, foram produzidas cartilhas de educação ambiental para serem trabalhadas em campanhas de conscientização junto às escolas do município.
Repercussão da pesquisa de campo na cidade
“Após algumas informações obtidas com o início da pesquisa, observou-se uma ampla distribuição do aurita [sagui-da-serra-escuro – Callithrix aurita] no município e ao analisar os registros fotográficos constatamos que aqui existe somente a espécie pura, sem hibridismo ou a presença de outras espécies que possam vir a competir pelos recursos”, narrou o assessor operacional da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Cristina.
Flávio Calado relatou que após essa identificação, o professor Rogério Grassetto orientou sobre a possibilidade de conseguir implantar a lei de conservação da espécie. “Levamos a ideia ao Conselho de Meio Ambiente, ao prefeito e ao secretário municipal, que aprovaram a proposta e assim foi encaminhado ao legislativo para votação e análise”, compartilhou.
A lei nº 2306, publicada em 7 de março de 2024, está disponível para consulta no site da prefeitura de Cristina e pode ser acessada neste link. “Com ela esperamos criar mais artifícios para novas parcerias de pesquisa em nossa cidade”, destacou o assessor da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente.
O engajamento dos acadêmicos no projeto junto ao município levou à elaboração da cartilha sobre o sagui-da-serra-escuro, também conhecido como sagui-caveirinha, como um guia para os professores do município desenvolverem a construção do pensamento quanto à conservação da espécie.
“Durante as realização das campanhas, trabalhamos com a conscientização dos alunos da rede municipal com a apresentação de palestras, onde mostramos um pouco do resultado dos levantamentos, métodos de coleta de dados e reforçando com todos que assistiam sobre a importância da preservação do meio ambiente em que vivem”, relatou o assessor operacional da Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Cristina.
Supervisionado pela professora Érica Hasui e pelo professor Rogério Grassetto, o material “Sagui-da-serra-escuro Callithrix aurita – Guia do Professor” foi desenvolvido pelos discentes Danna Perondi, Bianca Soares e Rafael Ramos. Ao comentar a experiência no desenvolvimento da cartilha, Danna Perondi disse ter sido uma atividade desafiadora. “Nosso objetivo foi construir uma cartilha com informações confiáveis sobre a espécie e sugestões de dinâmicas que contribuem com o aprendizado dos alunos”, disse.
Segundo a acadêmica, foi realizada extensa busca por informações que depois foram adaptadas em linguagem acessível aos professores ou qualquer pessoa que tenha interesse em utilizá-lo. “Utilizamos da nossa criatividade para adaptar atividades para o caso do sagui-caveirinha, e acredito que os alunos se divertirão e aprenderão muito com elas. A ideia é que nossa cartilha sirva de apoio aos professores ao apresentar o sagui-caveirinha aos alunos e as dinâmicas contribuem para assimilação do conhecimento adquirido”, afirmou.
Outro material desenvolvido para trabalhar a educação ambiental no município foi o e-book “Que bicho é esse? – Conhecendo os anfíbios de Cristina”. Elaborado por Bruna de Abreu Campos Fortuozo Mendes, o livro é parte do trabalho de conclusão de curso da acadêmica que tem como título “Anfíbios como Ferramenta de Educação Ambiental em Cristina-MG: do levantamento em campo à produção de um guia fotográfico”.
“Tínhamos pensado em utilizar os dados do levantamento de anfíbios para o meu TCC, mas, conversando com o professor Vinícius, comentei da minha vontade em realizar uma cartilha educativa para as crianças do município. Foi aí que começamos a desenvolver o livro e ele se tornou parte do meu trabalho de conclusão de curso”, contou.
Segundo Flávio Calado, esses materiais já foram apresentados para a Secretaria de Educação e devem ser integrados aos projetos educacionais ainda no segundo semestre de 2024.
Além desses materiais, o professor Rogério Grassetto também planeja trabalhar uma cartilha sobre os mamíferos encontrados no levantamento, como parte do trabalho de conclusão de curso da discente Beatriz Vitorino de Almeida.
Confira o material educativo desenvolvido pelo grupo:
Cartilha “Sagui-da-serra-escuro Callithrix aurita – Guia do Professor” e “Anexo – Teia da Vida”
E-book “Que bicho é esse? – Conhecendo os anfíbios de Cristina”
(Imagem de destaque: Mamífero irara – Eira Barbara – Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)
