Mais uma Olimpíada vem aí! Sediá-la é sinônimo de sucesso?

Eduardo Filipe Morais de Aquino¹

Paris está nos preparativos para receber a 33ª edição dos Jogos Olímpicos de Verão, em sua era moderna. A capital francesa irá receber pela terceira vez a competição, sendo a primeira desde 1924. Como em toda Olimpíada, irão suceder momentos históricos, relatos de superação, e a demonstração, mais uma vez, do espírito olímpico para todo o globo. O Dream Team com Michael Jordan e Earvin “Magic” Johnson, a primeira medalha de ouro do Brasil no vôlei que mudou o panorama do esporte no país, Michael Phelps e seus recordes, Usain Bolt e sua velocidade inigualável, Nadia Comaneci e seus estupendos saltos, Roger Federer e sua elegância em quadra, a Generación Dorada com sua campanha memorável ao ouro, e a divisão da medalha de ouro entre Gianmarco Tamberi e Mutaz Barshim. Tudo isso e outras várias recordações ficam na memória de cada pessoa, seja ela adepta ou não deste megaevento.

No entanto, e os fatores extra-competição? Sediar as olimpíadas é certeza de sucesso? Costa (2013) nos ajuda retratando algumas vantagens em sediar um evento desta grandeza, são eles:  o turismo, a infraestrutura, o comércio, o aumento considerável no fluxo de capital, a receita relacionada à publicidade, à visibilidade – ainda maior – da cidade-sede no âmbito internacional, o comércio e as exportações, entre outros. Sendo assim, esses fatores estão contidos na “janela de oportunidade”, que um megaevento, como a Olimpíada, proporciona. Barcelona foi o exemplo mais notável do sucesso em receber as Olimpíadas. A cidade condal aproveitou sua “janela de oportunidade” para realizar obras em seu aeroporto, construir novas estradas, revitalizar o setor hoteleiro, ocasionando assim, também, desenvolvimento em sua região metropolitana; Pequim, em 2008 questões como o meio ambiente e o benefício econômico foram visualizadas após o sediamento dos Jogos; e em Londres, em 2012, houve um processo de regeneração urbana na área de East London, cujo local recebeu a Vila Olímpica (PAIVA, 2013).

Ainda de acordo com Costa (2013) e Viana (2019), os pontos negativos em receber este tipo de evento são: o aumento da dívida, as instalações que não terão utilidade no futuro – “elefantes brancos” – o mau uso do terreno, a desapropriação de áreas para que obras possam ser realizadas, os despejos, entre outros. A edição realizada em Montreal, em 1976, fez com que os moradores da província de Québec pagassem o déficit relacionado aos jogos por um período de 25 anos; Atenas teve problemas com obras (PAIVA, 2013); e no Rio de Janeiro houve discrepância nas quantias em que cada região recebeu para receber os jogos e não houve comunicação com a população local sobre as áreas que iriam receber as competições (MASCARENHAS, 2016). Desta forma, cidades como Roma, Hamburgo e Budapeste, retiraram suas candidaturas para receber a competição. Rejeição por parte da população, altos custos para as obras e outras prioridades foram os motivos pelos quais os municípios citados optaram por desistir de suas candidaturas.

Outro fator importante é a transição das sedes durante a história da competição. McBride e Manno (2021) ressaltam que – durante o século passado – as Olimpíadas eram, em sua maioria, sediadas em países economicamente desenvolvidos e com uma boa infraestrutura, proporcionando, assim, um menor investimento público. Por outro lado, como salienta Khodr (2021), países emergentes começaram a ter interesse e, posteriormente, receberam a competição, implicando um enorme investimento para a realização do megaevento.

E Paris? Em 2017, a capital francesa recebeu a notícia pela terceira vez a competição (sediou pela primeira vez em 1900 e pela segunda oportunidade em 1924) e já se encontra nos preparativos finais para realizá-la. Em relação às instalações para as competições, apenas aquelas que trarão retorno à população após os Jogos Olímpicos são inéditas; as outras áreas serão temporárias e, em alguns casos, são localizadas em pontos turísticos (GIGNON; DELAPLACE; SOUZA, 2022). Percebe-se na imagem a seguir e atrelado à frase anterior, são pouquíssimas as instalações que serão construídas, sendo algumas temporárias e sua ampla maioria já existentes. Outro fator chamativo é a proximidade entre as áreas de competição e a vila olímpica, tendo uma zona de 10km, como mostra o mapa.

Imagem 1 – Instalações para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024

Fonte: (GIGNON; DELAPLACE; SOUZA, 2022)

Não obstante, Paris também enfrenta problemas para a realização das Olimpíadas. Questões relacionadas à segurança, à falta de definição sobre o número de espectadores, ao orçamento e ao aumento do custo de realização dos Jogos Olímpicos, ao projeto de ampliação do metrô e aos transportes são fatores que a capital francesa está enfrentando no último ano antes da competição (UOL, 2023). Há, também, o temor da gentrificação nos bairros da cidade, especialmente em Seine-Saint-Denis (LOUIS, 2023), o qual aumentaria, por exemplo, o aumento no preço dos aluguéis e, posteriormente, uma parcela da população daquele local não conseguisse arcar com o valor.

Desta forma, sediar os Jogos Olímpicos proporciona, ao mesmo tempo, uma oportunidade única de receber os melhores atletas, de realizar políticas e obras que sem a realização do mesmo não aconteceriam. Sem embargo, há, como já foram citadas anteriormente, questões negativas associadas à competição. Ademais, diante do que foi ressaltado, as cidades vêm se adaptando para que áreas possam ser revitalizadas, para que um número menor de construções sejam realizadas, entre outros; mas, em contraste, grande parte da infraestrutura construída está associada à classe privilegiada e, sem deixar de citar a gentrificação e os despejos. Sendo assim, como será em Paris? Esta é uma pergunta para o futuro e que, sem dúvidas, terá sua importância para as edições seguintes dos Jogos Olímpicos e para as cidades que pretendem sediar este megaevento.



Eduardo Filipe Morais de Aquino
é graduado em Ciência e Economia pelo Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UNIFAL-MG Varginha, onde atualmente cursa Administração Pública e realiza estágio na área de comunicação. Possui interesse em áreas como: Ética na Pesquisa em Administração, Metodologia da Pesquisa, Planejamento Estratégico, Marketing City e Temas Esportivos – Jogos Olímpicos e Esportes Universitários.


(As opiniões expressas nos artigos publicados no Jornal UNIFAL-MG são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem opiniões do Jornal UNIFAL-MG e nem posições institucionais da Universidade Federal de Alfenas).

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