“Não tenham medo de seguir trajetórias não lineares”, afirma Marília Rocha Lopes, ex-aluna da UNIFAL-MG, premiada no Women In Tech América Latina

Marília Rocha é egressa do curso de História da UNIFAL-MG e trabalha no setor de treinamento e desenvolvimento da multinacional japonesa NTT DATA (Foto: Dicom/UNIFAL-MG)

Marília Rocha Lopes da Silva, egressa do curso de História da UNIFAL-MG desde 2016, conquistou recentemente o prêmio Most Impactful Award na premiação Women In Tech América Latina. Nesta entrevista, ela compartilha como sua formação acadêmica na universidade foi crucial para seu sucesso e descreve o impacto do projeto IT For Girls, que visa aumentar a participação feminina no setor de tecnologia. Confira na íntegra:

Quais foram suas experiências mais marcantes durante o curso de História na UNIFAL-MG? Como os professores Raphael Sebrian e Marta Rovai influenciaram sua carreira?

Tive muitas experiências marcantes na UNIFAL-MG, que contribuíram muito para a minha formação. Durante a minha graduação, participei de diversas atividades, desde cedo atuando com iniciação científica na área de História da América, orientada pelo professor Raphael Sebrian. Foi nessa época que comecei a me interessar pelo feminismo, e o tema da minha iniciação científica e do TCC foi o movimento sufragista nos EUA. Também me senti muito motivada a seguir nessa pesquisa pela influência de Marta Rovai, que trata do tema de estudos de gênero com tanto afinco. Participei ainda do PIBID por dois semestres, além de ter feito parte do Madrigal Renascentista após a minha graduação.

Poderia nos explicar o que é o Most Impactful Award e a importância do prêmio Women In Tech América Latina? Quais foram os critérios e desafios que você enfrentou para vencer na categoria?

A Women in Tech é uma organização global vinculada à UNESCO que promove o incentivo da participação de mulheres em tecnologia no mundo todo. Na edição deste ano na América Latina, concorri com meu projeto IT For Girls na categoria Most Impactful Initiative (Iniciativa de Maior Impacto), onde precisávamos demonstrar com estatísticas qual o impacto da nossa iniciativa. A premiação aconteceu em Lima, no Peru, no dia 28 de agosto, e contou com a presença de mulheres em tecnologia de toda a América Latina. Um dos maiores desafios que enfrentamos foi a concorrência com cinco outros grandes projetos, incluindo iniciativas do Banco Nacional do Peru, Amazon e da própria UNESCO.

Conte-nos sobre o projeto IT For Girls e seu impacto na inclusão de mulheres na tecnologia. Quais foram os principais desafios e conquistas desse projeto?

Este programa é uma iniciativa do projeto NTT Academy, desenvolvido pela equipe de RH no Brasil, em resposta à carência de talentos na área de tecnologia durante a pandemia. Para preencher essa lacuna, estabelecemos parcerias com vendors e instrutores voluntários, criando programas de capacitação gratuitos, abertos à comunidade. O objetivo era capacitar pessoas externas à empresa, formando um pool de talentos para a área de tecnologia. Percebendo as dificuldades enfrentadas por muitas mulheres na obtenção de certificações nas áreas de OT, redes e cibersegurança, decidimos criar o programa IT For Girls. Esse programa consiste em mentorias coletivas ministradas por mulheres especialistas da empresa, com o objetivo de atrair mais mulheres para a área de tecnologia.

Já foram realizadas três edições bem-sucedidas do programa, em 2022, 2023 e recentemente em agosto de 2024. Na edição de 2022, tivemos mais de 10 horas de mentorias coletivas, com mais de 2.000 inscritas e uma média de 500 participantes por mentoria. Em 2023, foram realizadas mais de 8 horas de mentorias, com mais de 3.800 inscritas e uma média de mais de 1.000 participantes por mentoria. Este ano, alcançamos 5.800 inscrições, com mais de 10 horas de mentorias e uma média de 1.200 visualizações. Ao todo, 60 colaboradoras da NTT DATA atuaram como mentoras voluntárias.

Durante o programa, as participantes recebem orientações sobre como ingressar em carreiras como cibersegurança, desenvolvimento de software, cloud computing e como se destacar em processos seletivos na área de tecnologia. Até o momento, 20 participantes do IT For Girls foram contratadas ou estão estagiando na empresa.

Marília recebeu o prêmio em uma cerimônia no Museo de Arte de Lima, no Peru (Foto: arquivo pessoal)

Fale sobre seu papel atual na NTT DATA e como sua formação em História contribuiu para sua carreira em tecnologia. Como você vê a interseção entre história e tecnologia em seu trabalho?

Minha trajetória como educadora, devido à minha formação em licenciatura, foi fundamental para minha inserção na área de treinamento e desenvolvimento. A experiência de trabalhar diretamente com educação me proporcionou uma perspectiva crítica e metodológica, essencial na estruturação de programas como o IT For Girls. Durante minha graduação na UNIFAL-MG, participei de pesquisas focadas nos estudos de gênero, o que contribuiu significativamente para a criação e a abordagem inclusiva do IT For Girls. Essas pesquisas ajudaram a moldar uma visão abrangente e sensível às questões de gênero, algo vital para o sucesso do programa, que já impactou mais de 10 mil mulheres no Brasil.

A formação que recebi na UNIFAL-MG foi essencial não apenas para o desenvolvimento de minhas competências metodológicas, mas também para a construção de um senso crítico. A dinâmica de debates e discussões acadêmicas fomentou minha habilidade de atuar em diferentes áreas de uma maneira mais humanista, características que levo comigo na minha carreira profissional. Hoje, trabalho na NTT DATA, onde aplico essa versatilidade e minha capacidade de comunicação desenvolvida durante a licenciatura.

Curiosamente, minha formação em História também teve um papel crucial na minha transição para a área de tecnologia. O estudo da História desenvolve uma compreensão profunda de contextos e padrões, habilidades que são diretamente aplicáveis à análise e resolução de problemas complexos no campo da tecnologia. A interseção entre história e tecnologia no meu trabalho está na capacidade de entender as transformações sociais e tecnológicas de forma mais abrangente, o que me permite abordar projetos com uma visão integrada, considerando tanto os fatores técnicos quanto os humanos envolvidos.

Essa combinação de habilidades permite que eu navegue com facilidade entre a análise de dados e o desenvolvimento de programas de capacitação, sempre com uma perspectiva que considera o impacto social e humano das inovações.

Quais são suas expectativas para a final global do prêmio em Paris? Como você está se preparando para esse evento?

Vamos concorrer com projetos de regiões como a África, América do Norte, Ásia e Europa. Temos boas expectativas, mas só de estar na final junto a tantos projetos impactantes, já me sinto realizada! Será minha primeira viagem para a Europa, e fico muito feliz de realizar esse sonho saindo de Alfenas! A etapa final será no dia 14/11/2024.

Que conselhos você daria para atuais alunos e egressos da UNIFAL-MG que desejam seguir uma carreira de impacto como a sua?

O mundo do trabalho está mudando rapidamente, e as oportunidades surgem quando somos criativas e multidisciplinares. Acredito que minha trajetória é um reflexo disso: minha formação em licenciatura e minhas pesquisas em estudos de gênero me abriram portas para a área de treinamento e desenvolvimento, com foco em diversidade e inclusão.

Seja qual for o seu campo de atuação, desenvolva habilidades que sejam aplicáveis em diferentes contextos. O senso crítico, a capacidade de comunicação e a habilidade de se adaptar a novos desafios são essenciais para qualquer profissão. Essas competências, que aprendi na UNIFAL-MG, me possibilitaram migrar da área de Humanas para a Tecnologia, o que mostra que o conhecimento nunca se limita a um único caminho. Não tenham medo de seguir trajetórias não lineares. Experimentem diferentes áreas, sejam curiosos e abertos para aprender sempre!

Há algo mais que você gostaria de compartilhar?

Dia 20 farei uma palestra online, via Google Meet, do Progrida da UNIFAL-MG, tratando do tema de inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, algo que me interessa muito enquanto profissional com foco em diversidade e inclusão!

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