Na década de 2000, a série americana CSI: Crime Scene Investigation ou C.S.I.: Investigação Criminal, no Brasil, ganhava o gosto do público ao acompanhar o dia a dia de um grupo de cientistas forenses que buscava desvendar crimes e mortes misteriosas ocorridas em Las Vegas, Nevada (EUA). Mesmo depois de mais de 20 anos de estreia, a série, hoje disponível em plataformas de serviços de streaming, continua despertando o interesse pela área de investigação criminal. Inspirados na série, integrantes da Liga Acadêmica de Ciências Forenses (LACFor) da UNIFAL-MG criaram um projeto de extensão chamado “CSI Mirim”.
“O projeto tem como principal objetivo levar o conhecimento das técnicas e metodologias aplicadas dentro das ciências forenses/investigação criminal para as crianças do ensino fundamental II, tanto do ensino público como privado do município de Alfenas”, conta a professora Alessandra Esteves, do Departamento de Anatomia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), e coordenadora da LACFor.
As atividades iniciaram recentemente com estudantes do 6º, 7º e 8º anos do Colégio CRA de Alfenas, na faixa etária entre 11 e 14 anos. Em uma primeira etapa, o grupo participa de aulas dinâmicas teórico-práticas das mais variadas áreas das Ciências Forenses em espaços como laboratórios de ciências, salas de aulas e quadra de esportes, nas dependências do CRA e da UNIFAL-MG.
“Estes alunos aprendem metodologias aplicadas a toxicologia forense, papiloscopia, antropologia forense, documentoscopia, coleta de vestígios e métodos de isolamento e preservação de cenas de crime”, explica a professora, informando que as atividades ocorrem quinzenalmente.
Divididas em 12 módulos, as temáticas desenvolvidas junto ao grupo abordam: Introdução a Ciências Forense; Antropologia Forense; Papiloscopia Forense; Toxicologia Forense; Documentoscopia; Balística; Perícia Ambiental; Medicina e Medicina Veterinária Legal; Biologia Forense; Informática Forense; Engenharia e Contabilidade Forense e Análise e cena de crime, que consiste na coleta de vestígios, métodos de isolamento e preservação de cena de crime.
Os membros da Liga programam e discutem os temas antecipadamente com os coordenadores. Ao mesmo tempo em que ocorrem as aulas dinâmicas, a equipe da Liga de Ciências Forenses promove um trabalho de conscientização com os estudantes sobre a importância da área na segurança pública. O fechamento das atividades do projeto prevê uma formatura simbólica dos chamados CSIs mirins que participarem de todas as atividades propostas. “Para o próximo ano pretendemos estender o projeto para escolas públicas municipais e estaduais”, afirma a coordenadora.
Entre os diferenciais do projeto, a professora Alessandra Esteves aponta o fato de o projeto ser liderado pelos próprios discentes da LACFor, responsáveis pela elaboração do conteúdo, o que para ela é uma possibilidade de criar autonomia, habilidade de pesquisa, leitura e síntese de artigos sobre o assunto bem como a prática das principais técnicas periciais atualmente utilizadas para resolução de crimes.
“As atividades produzidas são fundamentais para a formação dos discentes, uma vez que são responsáveis por aplicar os conhecimentos forenses obtidos dentro da Universidade, permitindo o aprimoramento de seus aprendizados e habilidades de modo a garantir uma formação científica, humanística e ética do profissional”, pontua.
No que diz respeito aos estudantes da escola, a coordenadora destaca: “Para os alunos o intuito é mostrar a importância dos conhecimentos básicos e introdutórios de Química, Física, Matemática e Ciências, e sua relação com as diferentes Ciências Forenses. Além de incentivar e disseminar para este público a importância das diversas áreas da criminalística e com isso mostrar a importância da segurança pública tanto para eles quanto para seus familiares.”
(Fotos: Arquivo/Projeto CSI Mirim)
Temática oportuniza aplicar conceitos multidisciplinares da Biologia, Química, Matemática e Física
Segundo a professora Alessandra Esteves, a motivação para criar o projeto CSI Mirim veio do próprio desenvolvimento da tecnologia científica. “Os países estão cada vez mais desenvolvendo tecnologia científica e a educação deve acompanhar essa evolução; por isso, é necessário a utilização de temas que estejam presentes de certa forma na vida dos alunos”, diz.
Em sua visão, a temática Ciências Forenses/Perícia Criminal apresenta um leque de possibilidades de conceitos multidisciplinares que podem ser abordados. “Quando esses conceitos são inseridos no processo educacional proporcionam uma divulgação e disseminação desta ciência para além dos limites da escola”, enfatiza.
Conforme contextualiza a coordenadora, o interesse por essa ciência tem crescido nos últimos anos em consequência das séries televisivas que retratam o cotidiano de equipes de pesquisadores forenses, o que é conhecido como “Efeito CSI”. “Esse tipo de programação vem despertando o interesse principalmente do público infantil e de adolescente, visto que é uma área especializada na investigação criminal, que engloba revelações de impressões digitais, identificação de sangue em locais de crimes, identificação de substâncias entorpecentes como cocaína, maconha, LSD, exames de DNA, entre outros”, detalha.
“Assim, a proposta visa abordar a aplicabilidade de conteúdos de Biologia, Química, Matemática e Física correspondentes ao ensino fundamental II contextualizando a importância deste aprendizado na investigação forense”, acrescenta.
Saberes que contribuem para a formação profissional e pessoal
Para Thayla Eugênia da Silva Tomé, acadêmica do curso de Biomedicina e presidente da LACFor, o projeto CSI Mirim é algo inovador na área de Ciências Forenses e a oportunidade de participar da equipe resultou em um crescimento pessoal e profissional a ela. “É um trabalho coletivo entre os membros da Liga e as escolas, e todas as atividades acrescentam muito na vida das crianças, pois despertam o interesse e a curiosidade delas pelo assunto, o que transforma uma aula ‘comum’ em uma troca de ensinamentos muito produtiva entre nós e os alunos”, compartilha.
Segundo a universitária, a cada discussão de um novo módulo é possível aprofundar mais nos temas tratados. “Executamos técnicas que não temos a oportunidade de aprender em outros lugares. Além disso, ministrar as aulas me permitiu ampliar a capacidade de comunicação, adaptabilidade e trabalho em equipe, habilidades essenciais para o meio acadêmico”, afirma Thayla Tomé.
Isabella Rodrigues Curvelo da Silva, também acadêmica da Biomedicina, ser integrante do projeto tem possibilitado levar mais conhecimento da área de Ciências Forenses e aprender com o conteúdo dos módulos, uma vez que a interação com os colegas da Liga e com os estudantes motiva pesquisar mais a fundo o assunto. “Poder participar de um projeto tão interessante como o CSI Mirim tem sido incrível”, enfatiza. “Espero muito levar todo este aprendizado não só para a minha vida acadêmica, mas também para a profissional futuramente. Como membro efetivo, espero que o projeto vá cada vez mais longe e possa atingir cada vez mais pessoas”, acrescenta.
De acordo com a professora Alessandra Esteves, o projeto já tem gerado bons resultados, o que tem sido possível observar nos relatos repassados pela coordenação pedagógica da escola, bem como na manifestação de interesse dos próprios estudantes em seguir a carreira de perito criminal.
“Os pais estão dando feedback positivo para a escola de que seus filhos chegam contando as atividades desenvolvidas pelo projeto relatando a eles como identificar um documento oficial ou uma cédula falsa, como fazer a identificação de um remanescente ósseo (esqueleto) a partir dos acidentes ósseos e como eles aprenderam a revelar suas impressões digitais assim como fazer testes preliminares para determinação de uma droga específica”, detalha.
Para a docente, o retorno obtido até o momento mostra o quanto o projeto tem alcançado a expectativa. “Além de conscientizar os estudantes sobre a importância da área na segurança pública e até incentivá-los a futuramente integrar os órgãos de segurança pública nas mais diferentes esferas, o projeto dissemina tais conhecimentos dentro da escola e assim contribui com a erradicação da criminalidade nestes espaços”, diz.
(Fotos: Arquivo/Projeto CSI Mirim)
Integrantes do projeto
A Liga Acadêmica de Ciências Forenses (LACFor) foi criada em 2021 visando contribuir na formação do discente, por meio de conhecimentos forenses e suas utilidades para a população.
Coordenada pela professora Alessandra Esteves, que está à frente da equipe, ao lado do professor Wagner Costa Rossi Junior, a Liga é formada por acadêmicos diretores e efetivos de diversos cursos da Universidade.
Integram a equipe, os discentes: Thayla Eugênia da Silva Tomé (Biomedicina); Isabella Bastos Reis (Biomedicina); Gabriella Souza Nunes (Farmácia); Thalita Coutinho de Souza Cruz (Biomedicina); Ana Beatriz Falchetti de Souza (Farmácia); Luís Felipe Marques Lima (Farmácia); Laura Mariane Dias Silva (Odontologia); Ana Carolina Marioto Santos (Farmácia); Maria Clara Bueno (Farmácia); Laysa Crisitna Lucas de Oliveira (Odontologia) Isabella Rodrigues Curvelo da Silva (Biomedicina); Ana Carolina Reis (Odontologia); Amanda Campos Botrel (Farmácia); Matheus de Andrade Lima (Odontologia); Luiza Bragato Thomazi (Farmácia); Ilíada Vieira Affonso (Biomedicina); Izabella Caroline Souza e Silva (Odontologia) e Júlia Figueira Cândido (Biomedicina).