Larissa Gonçalves Souza¹
Luísa Pimenta Terra²
Os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na quarta-feira (28/06), apontaram que o número médio de moradores por domicílio foi inferior a 3,0 em todos os municípios da mesorregião Sul/Sudoeste de Minas Gerais. As cidades de Senador Amaral (2,96), Maria da Fé (2,96), São Bento Abade (2,95), Carmo de Minas (2,95) e Extrema (2,90) lideraram dentre aquelas com o maior número médio de moradores por domicílio. Por outro lado, Bocaina de Minas (2,41), São Tomé das Letras (2,44), Caldas (2,48), Aiuruoca (2,48) e Fortaleza de Minas (2,50) foram responsáveis pelas menores médias registradas.
Os resultados indicaram ainda uma diminuição do indicador, em relação ao último Censo Demográfico (2010), em que o número médio de pessoas por domicílio foi igual ou superior a 3,0 em 125 (85,6%) dos 146 municípios da mesorregião. As maiores reduções do tamanho médio do domicílio, apresentadas na Tabela 1, foram registradas pelos municípios São Vicente de Minas, São Tomé das Letras, Delfim Moreira, Consolação e Minduri, com variação entre 18,40% e 21,11%. Em contrapartida, as menores diminuições foram verificadas em Espírito Santo do Dourado, Bom Jesus da Penha, Extrema, Delfinópolis e Itapeva, com variação entre 6,56% e 9,67%. Essa tendência é semelhante à observada para o Brasil, em que a média passou de 3,31 para 2,79 moradores por domicílio, no mesmo período.
É importante ressaltar que a diminuição do número médio de pessoas por domicílio reflete, em primeiro lugar, o crescimento mais rápido do número de domicílios, em comparação ao crescimento populacional. Além disso, a mudança do tamanho do domicílio pode estar ligada a diversos fatores. Um deles relaciona-se a mudanças nos arranjos familiares. Tendo em vista que a composição do domicílio, em grande parte das vezes, coincide com a composição familiar, a redução do tamanho dos domicílios pode ser resultado da dinâmica do ciclo de vida familiar. E assim, como a análise do ciclo familiar incorpora “os nascimentos, os eventos comuns à fase adulta e as ocorrências de óbitos dentre as pessoas que constituem cada domicílio” (FIORAVANTI & FÍGOLI, 2012 p. 2), tal mudança pode ser observada. Portanto, um menor número de nascimentos (efeito da redução da fecundidade), ou um maior número de óbitos (efeito do aumento da proporção de idosos, da pandemia de COVID-19, etc) refletem diretamente no tamanho das famílias e, consequentemente, dos domicílios.
Ainda sobre a mudanças de arranjos familiares e domiciliares, é provável que domicílios que antes abrigavam famílias extensas (com mais de três gerações), por efeito do envelhecimento e da redução da fecundidade (FIORAVANTI & FÍGOLI, 2012), podem ter se dividido em domicílios menores (famílias com uma ou duas gerações). Nesse cenário, a predominância de arranjos domiciliares, compostos por casais com filhos, têm sido gradualmente substituídos por aqueles formados por casais sem filhos, unipessoais e monoparentais, principalmente, formado por mães (solteiras, separadas ou viúvas) (ALVES & CAVENAGHI, 2012; WAJNMAN, 2012).
Segundo Alves e Cavenaghi (2012), no Brasil, a proporção de arranjos domiciliares formados por casais com filhos caiu de 61,3% para 52,5%, entre 1980 e 2010, como fruto da redução da fecundidade e do aumento dos divórcios. Em contrapartida, no mesmo período, a proporção de arranjos domiciliares formados por casais sem filhos aumentou de 12,1% para 15,1%. Os autores apontam ainda para o crescimento do número de domicílios unipessoais formados, principalmente, por idosos, o que pode ser explicado pela independência financeira, preferência por privacidade, aumento do divórcio e a inexistência de parentes e/ou viuvez (WAJNMAN, 2012). Nesse caso, destaca-se ainda a propensão das mulheres idosas viverem sozinhas, devido à maior expectativa de vida ao nascer, em comparação aos homens. Espera-se que tal tendência tenha continuado na última década, reduzindo ainda mais o tamanho dos domicílios.
Há ainda fatores ligados a problemas na declaração ao recenseador no momento da coleta dos dados. Um exemplo é a possível falsa declaração por parte dos entrevistados com relação aos componentes do domicílio. Com receio de perder o acesso a benefícios sociais, muitos cidadãos podem ter omitido os cônjuges ou filhos, caracterizando o próprio domicílio como unipessoal.
Os dados sobre o tamanho médio dos domicílios podem orientar gestores públicos quanto a políticas públicas focadas em mobilidade, oferta de serviços de saúde e de assistência social (BRASIL, 2009). Ademais, compreender e mapear as razões para tal mudança auxilia na pauta das políticas públicas no que tange à urgência de ações sociais e de sustentabilidade urbana. À medida que mais dados do Censo de 2022 forem divulgados, análises mais detalhadas poderão contribuir ainda mais para essas discussões.
Referências Bibliográficas
ALVES, J. E. D.; CAVENAGHI, S. TRANSIÇÕES URBANAS E DA FECUNDIDADE E MUDANÇAS DOS ARRANJOS FAMILIARES NO BRASIL. Cadernos de Estudos Sociais, v. 27, n. 2, 2012.
BRASIL. Ministério da Saúde. 2009. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher – PNDS 2006: dimensões do processo reprodutivo e da saúde da criança/ Ministério da Saúde, Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009.
FIORAVANTE, EF & FÍGOLI MGB. 2012. Projeção da composição dos domicílios de Belo Horizonte por modelo multi-estado e resultados preliminares do Censo Demográfico de 2010.ABEP. XVII Encontro Nacional de Estudos de Populacionais, 2012. Águas de Lindoia.
WAJNMAN, S. Demografia das famílias e dos domicílios brasileiros. Belo Horizonte, MG: Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de Minas Gerais (FACE/UFMG), 2012.
Larissa Gonçalves Souza é docente do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UNIFAL-MG Varginha. Graduada em Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Economia e Ciências Atuariais pela UNIFAL-MG, possui mestrado em Estatística Aplicada e Biometria também pela UNIFAL-MG e doutorado em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG. Atualmente é professora e pesquisadora na área de mortalidade.
Luísa Pimenta Terra é docente do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) da UNIFAL-MG Varginha. Graduada em Ciências Atuariais pela UFMG, possui mestrado também pela UFMG e doutorado em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG. Atualmente é professora e pesquisadora na área de saúde suplementar, solvência e gestão de riscos de desastres naturais. Tem experiência nas áreas de Inovação e Gestão de Riscos de Processos e atua principalmente nos seguintes temas: projeção populacional, gestão de riscos em saúde, nupcialidade e família, envelhecimento e saúde.