Enchente de chifres

Que país rural, meu Deus! Há quadrúpedes por toda parte. (Samuel Beckett, em texto de 1951) [/perfectpullquote] Senão primeiro, o goiano José J. Veiga foi dos primeiros escritores a reagir, por meio de uma obra literária, ao golpe militar de 1964. Sua novela A hora dos ruminantes (1966) é uma clara alegoria da captura do … Ler mais

Uma fábula e dois prefácios

Sem ser, do ponto de vista estritamente literário, um grande livro (e seu autor sabia disso), A revolução dos bichos (1946) conquistou lugar indiscutível como clássico da literatura moderna. Chegou a ser incluído pela revista estadunidense Time numa lista dos 100 melhores romances de língua inglesa. Mas isso de listas e eleições, em literatura, nunca … Ler mais

Direito à preguiça, como assim?

Como o Elogio da Loucura (1511), uma das obras mais representativas do pensamento humanista, o famoso panfleto de Paul Lafargue, mestiço nascido em Cuba que se tornou estrela do movimento socialista europeu, tende ao exagero satírico. Outro mestre seu deve ter sido o irlandês Jonathan Swift, que, mais de dois séculos depois da obra de … Ler mais

O visgo do passado

Como um dos protagonistas de “Zezé e Dinim”, penúltimo dos 38 textos que compõem Inferno provisório (2016), Luiz Ruffato é dono de uma memória incomum. Ela é o principal ingrediente de sua poética narrativa que, posta em movimento com Histórias de remorsos e rancores, em 1998, logo tornou reconhecido o escritor nascido em Cataguases, como … Ler mais

Apóstolo da tolerância

Há muitas qualidades invejáveis no texto do escritor espanhol Fernando Savater, nascido em 1947 e autor de dezenas de obras filosóficas e, às vezes, literárias. Mas a qualidade mais rara, que não está muito em moda hoje em dia, é a tolerância; tanto que Savater, nascido numa cidade basca, jamais se nomeia pelo gentílico identitário, … Ler mais

Enciclopédia antropófaga

Quarenta anos depois de sua publicação, permanece praticamente ignorado pelos leitores e, o que é pior, pelos estudiosos da área, o romance No coração dos boatos, de Uilcon Pereira. O autor, paulista nascido em Tietê, morreu em 1996, sem ver sua obra ser levada a sério a não ser por meia dúzia de amigos e … Ler mais

O escritor antropófago, sem retoques

A melhor maneira de conhecer Oswald de Andrade é lendo sua obra. A segunda melhor maneira é percorrer as 286 páginas da fotobiografia O salão e a selva (1995), de Maria Eugênia Boaventura. O livro, que está a merecer reedição, documenta com dezenas de imagens a vida e a produção artística – além dos “escândalos … Ler mais

Do estilo à gramática, ida e volta

Engana-se quem supõe que a Literatura e os estudos linguísticos são irreconciliáveis inimigos figadais. Existem áreas em que a colaboração de ambos é imprescindível; uma delas, como demonstra o livro A Estilística (1991), de José Lemos Monteiro, professor aposentado da Universidade Federal do Ceará, é o ramo da Linguística que figura no título. O ótimo … Ler mais

Pequeno museu de novidades

Morto no final do ano passado, Olavo Romano foi um escritor privilegiado, daqueles que só precisam escrever na medida do prazer que a atividade lhes causa e pode proporcionar a seus leitores. Mineiro nascido no distrito de Morro do Ferro, em Oliveira, trabalhou na Fundação João Pinheiro e como professor de inglês em colégios, tendo-se … Ler mais

O outro nome do Apocalipse

Platão, em seu diálogo Fedro, deplora a invenção da escrita. O filósofo associava-a à decadência intelectual, em sua opinião decorrente de os pensadores não precisarem mais decorar nada, pois que tudo podia ser conservado por meio dos textos, e em consequência as pessoas não mais saberiam o suficiente sobre o mundo e os problemas humanos. … Ler mais

Estrabuleguice araxaense

Por estranha que pareça a expressão, Grogotó (2000) é uma encruzilhada de sínteses. Não por acaso o poeta e crítico José Paulo Paes usou as palavras ideograma e epigrama para tentar definir os minicontos de Evandro Affonso Ferreira; a escrita chinesa e a inscrição lapidar grega têm em comum o caráter extremamente sintético, sendo por … Ler mais

Pronto-socorro filosófico

O escritor norueguês Jostein Gaarder propôs a si mesmo, com O mundo de Sofia (1991), um duplo desafio: contar uma história imaginária e, dentro dela, resumir toda a filosofia ocidental. Saiu-se melhor na parte mais importante, a do resumo; realmente, seu livro apresenta um verdadeiro pronto-socorro filosófico para leigos nessa matéria ao selecionar, com didatismo … Ler mais

Goiano entre aspas

O escritor goiano José J. Veiga publicou quase duas dezenas de livros de ficção, carreira iniciada em 1959 com os ótimos contos de Os cavalinhos de Platiplanto. Sua forma narrativa preferida acabou sendo a novela, de que deu à literatura brasileira exemplares notáveis como A hora dos ruminantes (1966) e Sombras de reis barbudos (1972), … Ler mais

Mágico vampiro

Dalton Trevisan, 98 anos, é o mais importante escritor brasileiro vivo. Pratica sistematicamente, em seus contos, uma cruel inversão hiper-realista dos dois temas mais batidos do Romantismo, o amor e a morte. A ficção do “vampiro de Curitiba” (apelido devido ao título de um de seus livros) é feita de poucos elementos, explorados de modo … Ler mais