Depois, vêm a anta e o curupira

Sorte que não havia, entre os arquitetos do recente surto neofascista brasileiro, ninguém mentalmente apto como Plínio Salgado, líder do movimento integralista, que foi a versão local do fascismo de Mussolini. O escritor modernista (sic), nascido em São Bento do Sapucaí (SP), terminou seus dias como deputado da ARENA, o partido da ditadura militar cujos … Ler mais

Tempo de suaves desatinos

Um adjetivo que Humberto Werneck não recusa ao texto alheio é o melhor para definir o seu próprio: delicioso. É assim, da primeira à última página, O desatino da rapaziada (1992), sua pequena história do jornalismo em Belo Horizonte. O subtítulo “Jornalistas e escritores em Minas Gerais” amplia um pouco demais o escopo dessa história, … Ler mais

A civilização pelo corno

Mesmo quem não é grande admirador de Jorge Amado precisa reconhecer-lhe uma qualidade: o escritor baiano foi capaz de notável evolução desde seus primeiros romances, apoiados sobre bisonhos esquemas ideológicos atrelados ao realismo socialista ditado pela política “cultural” de Stálin e de seu ministro Jdanov, o congênere soviético de Goebbels. Recordemos que Amado, mesmo tendo … Ler mais

Como não ser senhor de engenho, por Eloésio Paulo

O título de Banguê (1934), que no futuro será fatalmente pronunciado errado pela maioria das pessoas, graças à estupidíssima extinção do trema em nossa mais recente reforma ortográfica, também desfiguradora de belas palavras devido à bagunça que fez com o hífen, não deve atrair muitos leitores para o livro de José Lins do Rego. Afinal, … Ler mais

Graciliano como personagem, por Eloésio Paulo

  Um escritor que também é teórico corre, ao escrever ficção, sério risco de transformá-la em ensaísmo. Não escapou a esse risco o crítico Silviano Santiago, mineiro de Formiga, no caderno de notas imaginário Em liberdade (1981), que mesmo assim é seu melhor romance e um dos mais relevantes escritos sob o regime militar de … Ler mais

Bicentenário da Independência do Brasil, por Mário Danieli Neto

No Bicentenário da Independência do Brasil, convidamos para uma reflexão acerca de um dos personagens mais marcantes de nossa História: José Bonifácio de Andrada e Silva. Nascido em Santos (SP) em 1763, estudou na Universidade de Coimbra, onde formou-se em filosofia e direito e, posteriormente, formou-se em mineralogia pela Universidade de Freiburg. Faleceu em Niterói … Ler mais

Somente diversão, mas da boa, por Eloésio Paulo

Algum crítico literário dos anos 80 – teria sido José Paulo Paes? – reclamou que faltava literatura de entretenimento no Brasil. Sua tese era que, não havendo leitura por diversão em larga escala, dificilmente se formaria um público suficiente para o florescimento de uma literatura nacional vigorosa. O argumento é bem plausível, e, particularmente no … Ler mais

Lá ao longe, uma ditadura, por Eloésio Paulo

As meninas são três: Lia, Lorena e Ana Clara. Esta, também chamada Ana Turva pelas colegas, devido a seu modo de viver, mais para a escuridão do que para a claridade. Elas são, ou foram, estudantes que moram num pensionato de freiras em São Paulo. A época, os anos mais trevosos do regime militar imposto … Ler mais

Retornando a um genocídio, por Eloésio Paulo

Os que desejam apagar a história recente do Brasil têm razão. Sim, pois uma razão pervertida continua a ser – ao menos na superfície – razão. Veja-se, a propósito, o mais recente livro de Frei Betto: ele recupera, com base em farta documentação, um episódio que os apologistas do nosso capitalismo caboclo prefeririam deixar no … Ler mais

A importância de não ser Franz, por Eloésio Paulo

Não é que o escritor conte uma história sem pé nem cabeça. É que os pés e a cabeça, como num quadro cubista, talvez não estejam nos lugares previstos. O agressor (1943) já foi comparado também a Beckett e Dostoiévski, mas seu parentesco mais evidente no tronco da literatura ocidental é Kafka. Há mesmo um … Ler mais

Oswald nos andaimes, por Eloésio Paulo

A primeira informação importante sobre Oswald de Andrade é que ele detestava ser chamado de “Ôswald”, o “horrível proparoxítono” (como o definiu Antonio Candido). Estabelecido isso, por que alguém leria Os condenados ou A trilogia do exílio, obra escrita entre 1917 e 1921? As três narrativas que se encadeiam para relatar a crise espiritual e … Ler mais

O absolutismo pobre da Cidade de Deus, por Eloésio Paulo

O estilo de Paulo Lins contém impurezas e tropeços, como os continham os de Balzac e Dostoiévski. Mesmo um leitor entusiasmado da primeira hora, o crítico marxista Roberto Schwarz, não deixou de notar certas “desigualdades literárias” em Cidade de Deus (1997), tratando, no entanto, de conferir a elas um status de funcionalidade estética. Houve também … Ler mais

Crônicas de vidas erradas, por Eloésio Paulo

Resumo de Ana (1998), de Modesto Carone, é composto de duas narrativas que se entrelaçam e espelham. A Ana do título e Ciro, protagonista da outra história, são mãe e filho. Se lidas superficialmente, os textos revelam-se como o relato objetivo de uma história real: Ana foi a avó materna do autor; Ciro foi seu … Ler mais

O zênite de Graciliano, por Eloésio Paulo

  Infância (1945) é, em geral, considerado um livro de memórias. Mas essa catalogação plana deixa de observar várias pistas de propósito incluídas nele, como a declaração de que o menino Graciliano muito cedo ganhou “afeição às mentiras impressas”. O volume é dividido em capítulos intitulados um pouco à maneira de Vidas secas; no início … Ler mais

Com a palavra, o verme, por Eloésio Paulo

  Quem está à beira do corpo? Inicialmente se pensa que é o verme, estranho narrador da primeira parte desse romance estranho. Mas, na segunda parte, o outro narrador nos dirá que é Vicente. A história propriamente é boa: o relato de um adultério e da vingança do “conje” traído. De novo, a velha obsessão … Ler mais