A mágica da simplicidade aparente

O argentino Mempo Giardinelli, nascido em 1947 na cidade de Resistencia, capital da província de Chaco, é um daqueles escritores imprescindíveis a sua sociedade. Não só produziu uma bela obra literária, composta de duas dezenas de livros de ficção – contos e romances –, mas tem sido um combatente pela justiça social e pelo direito … Ler mais

Como desperdiçar uma bela ideia

Alguns podem conhecer Long John Silver de lugares menos recomendáveis, mas a origem do nome é o personagem do livro de aventuras A ilha do Tesouro (1883), do escocês Robert Louis Stevenson. Essa obra, com seus tesouros imaginários enterrados em ilhas remotas e sinalizados por mapas esquecidos em baús, encantou gerações de meninos; foi transposta … Ler mais

A volta ao dia em 80 mundos

Uma homenagem e uma inversão: eis a fórmula do título desse livro do argentino Julio Cortázar, celebrado autor do romance O jogo da amarelinha (1963) e dos contos de Bestiário (1951), pontos altos da vasta obra que transformou o escritor num quase popstar durante os anos 1970. Ambas, inversão e homenagem, remetem ao francês Jules … Ler mais

As origens do “kafkiano”

Quando Franz Kafka tratou da publicação de seu primeiro livro – foram dois projetos de edição malogrados –, previu a reunião de seu primeiro conto importante, “O veredicto”, com a novela A metamorfose mais um terceiro texto. Este, na primeira tentativa editorial, era “O foguista”, e depois mudou para “Na colônia penal”. Como A metamorfose … Ler mais

Enchente de chifres

Que país rural, meu Deus! Há quadrúpedes por toda parte. (Samuel Beckett, em texto de 1951) [/perfectpullquote] Senão primeiro, o goiano José J. Veiga foi dos primeiros escritores a reagir, por meio de uma obra literária, ao golpe militar de 1964. Sua novela A hora dos ruminantes (1966) é uma clara alegoria da captura do … Ler mais

Uma fábula e dois prefácios

Sem ser, do ponto de vista estritamente literário, um grande livro (e seu autor sabia disso), A revolução dos bichos (1946) conquistou lugar indiscutível como clássico da literatura moderna. Chegou a ser incluído pela revista estadunidense Time numa lista dos 100 melhores romances de língua inglesa. Mas isso de listas e eleições, em literatura, nunca … Ler mais

Direito à preguiça, como assim?

Como o Elogio da Loucura (1511), uma das obras mais representativas do pensamento humanista, o famoso panfleto de Paul Lafargue, mestiço nascido em Cuba que se tornou estrela do movimento socialista europeu, tende ao exagero satírico. Outro mestre seu deve ter sido o irlandês Jonathan Swift, que, mais de dois séculos depois da obra de … Ler mais

O visgo do passado

Como um dos protagonistas de “Zezé e Dinim”, penúltimo dos 38 textos que compõem Inferno provisório (2016), Luiz Ruffato é dono de uma memória incomum. Ela é o principal ingrediente de sua poética narrativa que, posta em movimento com Histórias de remorsos e rancores, em 1998, logo tornou reconhecido o escritor nascido em Cataguases, como … Ler mais

Apóstolo da tolerância

Há muitas qualidades invejáveis no texto do escritor espanhol Fernando Savater, nascido em 1947 e autor de dezenas de obras filosóficas e, às vezes, literárias. Mas a qualidade mais rara, que não está muito em moda hoje em dia, é a tolerância; tanto que Savater, nascido numa cidade basca, jamais se nomeia pelo gentílico identitário, … Ler mais

Enciclopédia antropófaga

Quarenta anos depois de sua publicação, permanece praticamente ignorado pelos leitores e, o que é pior, pelos estudiosos da área, o romance No coração dos boatos, de Uilcon Pereira. O autor, paulista nascido em Tietê, morreu em 1996, sem ver sua obra ser levada a sério a não ser por meia dúzia de amigos e … Ler mais

O escritor antropófago, sem retoques

A melhor maneira de conhecer Oswald de Andrade é lendo sua obra. A segunda melhor maneira é percorrer as 286 páginas da fotobiografia O salão e a selva (1995), de Maria Eugênia Boaventura. O livro, que está a merecer reedição, documenta com dezenas de imagens a vida e a produção artística – além dos “escândalos … Ler mais

Do estilo à gramática, ida e volta

Engana-se quem supõe que a Literatura e os estudos linguísticos são irreconciliáveis inimigos figadais. Existem áreas em que a colaboração de ambos é imprescindível; uma delas, como demonstra o livro A Estilística (1991), de José Lemos Monteiro, professor aposentado da Universidade Federal do Ceará, é o ramo da Linguística que figura no título. O ótimo … Ler mais

Pequeno museu de novidades

Morto no final do ano passado, Olavo Romano foi um escritor privilegiado, daqueles que só precisam escrever na medida do prazer que a atividade lhes causa e pode proporcionar a seus leitores. Mineiro nascido no distrito de Morro do Ferro, em Oliveira, trabalhou na Fundação João Pinheiro e como professor de inglês em colégios, tendo-se … Ler mais

O outro nome do Apocalipse

Platão, em seu diálogo Fedro, deplora a invenção da escrita. O filósofo associava-a à decadência intelectual, em sua opinião decorrente de os pensadores não precisarem mais decorar nada, pois que tudo podia ser conservado por meio dos textos, e em consequência as pessoas não mais saberiam o suficiente sobre o mundo e os problemas humanos. … Ler mais