Entre janeiro e fevereiro, os municípios de Conceição dos Ouros e Toledo, localizados no Sul de Minas, receberam equipes da UNIFAL-MG participantes do Projeto Rondon, oportunidade em que universitários e professores promoveram ações de educação, saúde, cultura e direitos humanos junto às comunidades locais. Esta é a primeira vez que são realizadas missões na região sul-mineira.
O Projeto Rondon é uma iniciativa do Ministério da Defesa em parceria com as instituições de ensino superior e tem como objetivo possibilitar aos estudantes a vivência prática dos conhecimentos acadêmicos. As operações ocorrem duas vezes ao ano, geralmente no início e no meio do ano, em regiões específicas do Brasil.
Operação Sul de Minas I: Conceição dos Ouros

Na cidade de Conceição dos Ouros, a missão foi cumprida por uma equipe formada por oito estudantes dos cursos de Biomedicina, Medicina, Nutrição e Odontologia da UNIFAL-MG, coordenada pelos professores Tomaz Araújo (Instituto de Ciências Biomédicas) e Ramon Alves (Faculdade de Ciências Farmacêuticas).
Realizada entre os dias 18 e 30 de janeiro, a “Operação Sul de Minas I” envolveu cerca de 60 ações de extensão, as quais alcançaram 828 pessoas por meio de cursos, palestras e oficinas, além da emissão de 265 certificados pela Universidade. A equipe também participou de seis programas pela rádio comunitária Minas Sul FM 104.9, transmissão que alcançou um público aproximado de 14 mil ouvintes.

Durante o encerramento, no dia 31 de janeiro, na cerimônia sediada em Pouso Alegre, que contou com 252 rondonistas de 24 instituições de ensino superior, vindos de nove estados e do Distrito Federal, além de autoridades, o professor Tomaz Araújo foi homenageado como o docente com o maior número de operações realizadas, totalizando 19 participações até o momento.
“A participação da UNIFAL-MG na Operação Sul Minas I foi a 27ª participação da Instituição em ações do Projeto Rondon desde 2005”, conta o professor Tomaz Araújo.
Segundo o coordenador, ao longo desses anos muitos professores, técnicos e estudantes contribuíram para que milhares de pessoas pudessem participar de cursos, palestras e oficinas que levam até eles a excelência do que é produzido na UNIFAL-MG, na área da Extensão.
“Centenas de nossos alunos participaram dessas atividades e tiveram a oportunidade de ter contato com a população carente e excluída do nosso país”, comenta, acrescentando que os universitários nas operações puderam compartilhar a sua formação acadêmica e igualmente a aprenderem com os moradores das comunidades.

“É uma troca de experiências e saberes que enriquece a todos os envolvidos. Agradecemos à Reitoria e ao pró-reitor de Extensão pelo apoio e incentivo constante às equipes da UNIFAL-MG que participam do projeto Rondon”, enfatizou.
Para o professor Ramon Alves, desempenhar a função de coordenador-adjunto, foi uma experiência desafiadora. Ex-participante da Operação Canudos em 2013, quando ainda era estudante do curso de graduação em farmácia na UNIFAL-MG, ele agora retornou ao projeto como professor.
“O Projeto Rondon contribui diretamente para o desenvolvimento da cidadania nos universitários. Busquei motivar nossos estudantes a realizarem suas atividades da melhor maneira possível, promovendo impactos positivos no desenvolvimento regional. É um privilégio termos acesso a uma universidade pública, gratuita e de qualidade, e cabe a nós compartilharmos esse conhecimento com a sociedade”, disse.
Segundo ele, na operação, procurou ressaltar junto aos acadêmicos, a importância do trabalho coletivo, do cuidado e atenção com o ser humano. “Essa é uma abordagem fundamental para cada participante, desde o preparo até a execução das atividades. Agradeço pela hospitalidade e pela troca de experiências com os ourenses”, finalizou.
(Fotos: Arquivo/Coordenação UNIFAL-MG – Operação I)
Operação Sul de Minas II: Toledo

A Operação Sul de Minas II ocorreu de 23 de janeiro a 8 de fevereiro e beneficiou 12 municípios da região com 1.829 oficinas práticas em diversas áreas. As atividades contaram com a participação de 495 universitários e professores, vindos de dez estados, além do Distrito Federal. Nesta missão, a UNIFAL-MG foi responsável pela equipe A, em parceria com a Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), que coordenou a equipe B, ambos na cidade de Toledo.
Sob a liderança dos professores Marília Gabriella Alves Goulart Pereira e Jessie Martins Gutierres, ambos do Instituto de Ciências Biomédicas, oito estudantes universitários dos cursos de Biomedicina, Enfermagem, Medicina e Odontologia promoveram oficinas, abrangendo saúde, educação, tecnologia e cultura. Foram eles: Alexânia da Silveira, Bárbara Rezende Marciano, Juliana Caproni, Maria Eduarda Paiva, Maria Júlia Ferreira Borges Pereira, Mateus Ferreira, Paulo Silva e Vitor Gonzaga.
“A operação contou com as cores azul e branco, inspirada nos símbolos e na identidade do Sul de Minas, refletindo a tradição, a cultura e a beleza da região”, conta a professora Marília Pereira. Conforme a coordenadora, Toledo é uma cidade conhecida pelo turismo ecológico e tradições culturais, e recebeu ações voltadas à capacitação e bem-estar da população.
As oficinas na área da saúde abordaram temas como primeiros socorros, amamentação e saúde do idoso. Na educação, os professores da educação municipal foram envolvidos em dinâmicas sobre mediação de conflitos e inclusão escolar. Também houve debates sobre direitos humanos, com foco na política de cotas e no enfrentamento ao trabalho infantil. “Para garantir a eficácia das oficinas, foi necessário adaptar a linguagem para atender às necessidades de cada público-alvo, o que permitiu que as oficinas fossem eficientes e contribuíssem para o desenvolvimento de habilidades essenciais para profissionais da saúde, tais como oratória, liderança, comunicação e adaptação”, narra.

Conforme a coordenadora, os temas ofertados levaram atualizações e provocaram reflexões importantes em sala de aula, com repercussão positiva entre os professores que participaram das atividades com a equipe rondonista. “Acreditamos e confiamos no feedback dos professores que esses momentos foram de grande conhecimento e trouxeram novas abordagens para o meio educacional”, disse. “Para nós, rondonistas e acadêmicos, foram momentos de desafio, cooperação e aprendizagem, fomos agraciados com o acolhimento e ganhamos enorme experiência com as trocas e com os direcionamentos propostos pelos nossos ouvintes”, completa.
As temáticas das oficinas de direitos humanos e justiça social tiveram como objetivo garantir a todas as pessoas, independentemente de origem, raça, gênero ou religião, o direito à vida, liberdade, segurança e dignidade. “Essas oficinas enfatizaram a importância da dignidade humana e das condições básicas de vida. O trabalho infantil, por exemplo, fere gravemente os direitos fundamentais da criança. A exploração sexual evidencia o abandono de crianças e adolescentes por diversos setores da sociedade. Já o feminicídio foi abordado como uma violência progressiva, que começa com agressões constantes e, se identificada a tempo, pode ser prevenida e evitar tragédias”, compartilha.

Na área de cultura, a professora Marília Pereira conta que a equipe dedicou um carinho especial para as crianças, ao promover atividades como o Cine Rondon e a Tarde de Brincadeiras Tradicionais. “Os filmes ministrados foram ‘Turma da Mônica: Laços’, no sábado na praça, e na segunda semana o filme ‘Encanto’, exibido em um bairro rural de Toledo, chamado Pereiras”, detalha.
As crianças também foram envolvidas em uma tarde repleta de pinturas, desenhos, brincadeiras divertidas como corda, pega-pega e várias outras atividades no domingo.
“A rádio Ômega foi de extrema importância para a divulgação do projeto, além da programação diária, foi realizado um podcast sobre ‘Neurociências e Saúde Mental’, que foi de grande contribuição para a população de um modo geral”, salienta a coordenadora.
A equipe da UNIFAL-MG também ajudou a implementar novamente a biblioteca municipal de Toledo. “Nossa equipe trabalhou na seleção dos livros, organização, pintura e limpeza do local, tudo isso com o intuito de proporcionar às crianças um local para cultivar a leitura e o aprendizado, onde os professores possam ainda mais estimular essa busca pelo conhecimento”, revela.
(Fotos: Arquivo/Coordenação UNIFAL-MG – Operação II)
Impressões dos rondonistas
Nos relatos dos acadêmicos que participaram das operações é unânime o sentimento de transformação proporcionada pela experiência.

Para Angela Perlamagna, estudante de Medicina, que esteve na Operação Sul de Minas I, a experiência foi um divisor de águas: “Sempre nos disseram que ninguém volta do Rondon sendo a mesma pessoa. No início, essa ideia parece abstrata, mas ao viver essa jornada, entendemos o que realmente significa: é impossível olhar o mundo da mesma forma depois de ter visto, sentido e vivido tanto”, afirma.
A acadêmica disse que os estudantes não são apenas agentes de transformação, uma vez que são eles mesmos transformados. “Descobrimos forças e talentos que nem imaginávamos possuir. De repente, nos vemos como dançarinos improvisados, cantores de todos os estilos musicais possíveis, cozinheiros que se reinventam, radialistas entusiasmados e, acima de tudo, ouvintes atentos às histórias de quem tanto tem a dizer.”

Cecília Dário Orlando, da Biomedicina, também participante da Operação Sul de ‘Minas I, enfatizou a troca de vivências e o crescimento pessoal, refletindo que “pequenas ações geram grandes impactos”. “Desde o primeiro dia, fui acolhida com carinho e pude sentir a grandeza desse trabalho, que vai muito além de levar conhecimento: é sobre trocar vivências, aprender com as comunidades e crescer como ser humano”, comentou.
Para ela cada olhar, cada sorriso e cada história compartilhada deixaram marcas profundas. “O Projeto Rondon nos ensina que pequenas ações geram grandes impactos e que a verdadeira mudança acontece quando nos conectamos genuinamente com o outro.”

O acadêmico César Augusto Moreira Domingues, do curso de Odontologia, relatou como a recepção calorosa da comunidade de Conceição dos Ouros fez com que ele aprendesse tanto quanto ensinou. “A educação vai além dos livros”, destacou. “Mais do que ensinar, aprendi muito com a população local, que, com muito respeito e simpatia, sempre participava e colaborava com as oficinas. Como disse Albert Einstein: ‘A educação é o que resta depois de esquecermos o que aprendemos na escola’. Essa vivência no Projeto Rondon foi muito além do aprendizado teórico que os livros didáticos podem oferecer, pois se baseou nas experiências e trocas com as pessoas ao nosso redor”, compartilhou.

Isabella Amália Abreu Dutra de Moraes, também do curso de Odontologia, ressaltou a importância da coragem para fazer a diferença e a necessidade de estar presente para acolher aqueles que mais precisam. “Madre Teresa de Calcutá disse: ‘O que eu faço é uma gota no meio do oceano, mas sem ela o oceano seria menor.’ Guimarães Rosa em um outro momento, afirmou: ‘O que a vida quer da gente é coragem’, e foi com essa coragem que embarquei no Projeto Rondon, sem saber o impacto que causaria, mas com a esperança de fazer a diferença. Talvez tenha sido em um conhecimento compartilhado, em um conselho ou em um abraço. O que sei é que cada desafio enfrentado valeu a pena”, reforçou a rondonista que participou da Operação Sul de Minas I.
Entre os universitários que participaram da Operação Sul de Minas II em Toledo, estiveram Alexânia da Silveira, do curso de Medicina, e Mateus Ferreira Lopes, do curso de Odontologia. Ambos enfatizaram a oportunidade de aprendizado que tiveram durante a missão.

Na visão de Alexânia da Silveira, o Projeto Rondon proporcionou crescimento, tanto pessoal quanto profissional. “Durante os meses de preparação e o tempo que passamos em Toledo não apenas aprimoramos habilidades como trabalho em grupo e comunicação, mas também aprendemos a verdadeira essência da convivência. Aprendemos a olhar para o próximo, oferecendo ajuda, companheirismo e apoio em momentos de necessidade”, disse. “Essa experiência deixou uma marca inapagável em minha vida. As conexões que fiz, tanto com meus colegas de equipe da UNIFAL – equipe A e da UFR – equipe B, quanto com os militares e a calorosa população de Toledo, são tesouros que levarei comigo para sempre”, afirmou.
Mateus Lopes nomeou a participação no Projeto Rondon como “o projeto de nossas vidas”. “Chegamos à cidade de Toledo e, logo de início, a experiência se revelou inesquecível. Em cada canto da cidade, éramos recebidos com o calor humano típico do povo mineiro: um copo de café fresquinho e uma boa prosa. Entre as diversas vivências todas certamente ficarão gravadas em nossas memórias. Contudo, há um ponto que se destacou para mim, o mais importante de todos: a possibilidade de troca e transformação de vidas”, salientou.

Segundo o rondonista, a experiência contribui não apenas para a formação acadêmica aos futuros profissionais, mas também para a formação como seres humanos. “Entendo que, assim como defendia Carl Jung, devemos conhecer todas as teorias, todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, ser apenas outra alma humana. Essa experiência no Projeto Rondon me fez perceber a verdadeira essência do nosso trabalho. No final, mais do que a entrega de conhecimentos, o mais importante foi o aprendizado humano e a transformação que ele promoveu em todos nós”, concluiu.
Para saber mais sobre as atividades, acesse o perfil das Operações I e II no Instagram: Operação Sul de Minas I – Conceição dos Ouros e Operação Sul de Minas II – Toledo