O planeta ultrapassou um limiar crítico com 2024 registrando recordes de calor com um aumento médio de 1.6°C de aquecimento global em relação ao período pré-industrial. Os dois primeiros meses do ano já demonstram um verão com temperaturas acima da média e os climatologistas estão atentos para determinar se essa tendência se consolidará como um novo padrão. Para entender melhor os desafios que essa nova realidade impõe, a equipe do Jornal UNIFAL-MG conversou com o professor Paulo Henrique de Souza, geógrafo, especialista em Climatologia e professor do Instituto de Ciências da Natureza (ICN).
No bate-papo, divulgado na íntegra na editoria Entrevista, o professor explica como as alterações climáticas estão modificando padrões atmosféricos, aumentando a ocorrência de eventos extremos e colocando em risco setores fundamentais da economia e da vida cotidiana.
O ‘novo normal’
Para caracterizar os eventos como um ‘novo normal”, de acordo com o professor, é necessário acompanhar os dados climáticos ao longo de toda a estação. No entanto, Paulo Henrique de Souza chama a atenção para a possibilidade, caso as mudanças continuem ocorrendo. “Caso essas alterações térmicas e pluviométricas permaneçam, estaremos sim diante de um ‘novo normal’, mesmo que não seja desejado. A princípio, temos a sensação de que essa é uma realidade já plenamente estabelecida, mesmo que indesejada”, comenta.

Eventos extremos e saúde pública
O especialista também enfatiza que as mudanças climáticas não se resumem apenas ao calor extremo, uma vez que a desregulação climática pode provocar estiagens severas, tempestades intensas, ventanias e até tornados. “A imprevisibilidade é a previsão, por mais paradoxal que isso pareça. O cotidiano da população sofrerá com carências e desgastes para os quais não estamos preparados”, alerta.
Inevitavelmente a saúde também é impactada. Conforme aponta Paulo Henrique de Souza, ondas de calor e oscilações climáticas favorecem o aumento de doenças respiratórias e arboviroses, além de afetar o metabolismo humano. “Mesmo com todo o avanço civilizatório e tecnológico, o homem ainda se apresenta como presa fácil das manifestações atmosféricas”, observa.
Impactos no Sul de Minas
O Sul de Minas Gerais, conhecido por sua forte atividade agropecuária, já sente os impactos dessas mudanças com o setor cafeeiro, um dos principais da economia regional, entre os mais afetados. “Toda e qualquer oscilação climática pode prejudicar a agricultura e a pecuária, pois altera os ciclos naturais das plantas e animais. Isso resulta na diminuição da produção, aumento dos custos e perda de empregos e renda”, destaca o especialista.
Paulo Henrique de Souza também menciona a hidrografia da região, segundo a qual é impactada pela redução das chuvas e pelo aumento das temperaturas, visto que alteram o caudal dos rios e compromete o abastecimento de água, a produção de energia no Lago de Furnas e a sobrevivência de espécies aquáticas.
Confira a entrevista na íntegra, acessando aqui.