Acaba de ser lançada pela Sic Edições mais uma coletânea de poemas de Eloésio Paulo, professor do curso de Letras da UNIFAL-MG e escritor conhecido por sua irreverência, sagacidade e obra caracterizada por elementos de ironia e humor. “Por que não vou a Sodoma” reúne cerca de 50 poemas escritos na segunda metade da pandemia.
Esse é o 10º livro de poemas lançado pelo autor, que também já publicou obras de críticas literárias e contos infantis. Seus primeiros poemas foram publicados em 1983 e embora seu trabalho tenha evoluído ao longo dos anos, a ironia e a síntese continuam presentes na sua escrita. “Vejo-me como um poeta de público bem restrito, pois não escrevo pelos ditames de nenhuma moda literária. No momento, por exemplo, devo contar com animada antipatia do chamado ‘politicamente correto’, e isso, para usar de extrema franqueza, bastante me alegra”, comenta.
O escritor cita o poeta norte-americano Ezra Pound para argumentar a maneira como vê a poesia. “Meu lema sempre foi e sempre será o do poeta norte-americano Ezra Pound: a poesia é uma conversa entre pessoas inteligentes, e não vivemos uma época muito propícia a isso”, enfatiza.
Aproximadamente mil poemas publicados fazem parte da trajetória literária de Eloésio Paulo, o que permite ao escritor enfatizar com propriedade: “Gosto de pensar meus poemas, como resultados de uma prática permanente da antropofagia tal como definida por Oswald de Andrade. Realmente, concordo que ‘só a antropofagia nos une’, a nós, povo brasileiro ou o que restou dele.”
“Por que não vou a Sodoma” foi dedicado ao amigo mais antigo do autor, Alexandre Augusto Barbosa, e em memória do dramaturgo alfenense Waldir de Luna Carneiro. “Gosto de prestar homenagens aos amigos, e felizmente tenho muitos, embora poucos desse calibre”, compartilha, ao mencionar Alexandre Barbosa.
Ao falar sobre Waldir de Luna Carneiro, Eloésio Paulo afirma se tratar do ‘intelectual mais importante da história de Alfenas’. “O grande Waldir era também um amigo cujo enorme talento de escritor era temperado sempre de humor e tolerância. Viveu quase cem anos e deixou um enorme legado literário e humano. Eu fiquei devendo a ele uma homenagem, e só a faço postumamente por ter certeza de que ele gostaria muito desse livro”, revela.
Nas palavras do autor, a obra pode interessar “a quem gosta da poesia que resulta do vaguear de uma mente ‘experta’, como diria Camões, e sem peias ideológicas, acrescento eu, pelos espaços da memória, da História e de uma contemplação ao mesmo tempo atenta e distraída do mundo e das pessoas.”
A seguir, confira na íntegra um dos poemas que constam nessa obra:
Aquela manhã
Agora que me aposentei de viajar
todas as viagens ficaram uma só
Não mais busco em cada aeroporto ou estação
aquela manhã da infância dentro
da qual um menino tímido era feliz
só porque o sol estava
dando de chapa na parede do velho armazém
onde ele podia se encostar
e gozar o calorzinho
porque não havia nada que fazer nem por fazer
e os avós estavam vivos
e os tios e tias estavam todos por ali
e o pai estava trabalhando longe mas voltava
e a mãe fritaria bolinhos de chuchu para o almoço
Aquele instante desisti de procurá-lo
com a barba que me cresce por fora
e o tempo do relógio que apodrece por dentro
Chega um dia em que a gente se conforma
Não existe mais qualquer manhã
para a qual se possa regressar
O livro pode ser encontrado na loja virtual da editora, neste link. A expectativa de Eloésio Paulo é realizar um lançamento presencial entre os meses de maio e junho.