Desde 2012, o projeto de extensão “Atleta sem Dor” da UNIFAL-MG tem se dedicado ao atendimento a pacientes que procuram a Clínica de Fisioterapia da Universidade para tratamentos de lesões esportivas. O suporte preventivo e reabilitativo é realizado por estudantes dos cursos de Fisioterapia, Nutrição e Medicina, sob a supervisão de professores, tornando-se essencial para a preparação física de atletas, incluindo o paratleta Vitor Gonçalves Gomes, que sonha com voos mais altos no atletismo paralímpico.
Coordenado pelos professores Adriano Prado Simão e Leonardo César Carvalho, do Instituto de Ciências da Motricidade (ICM), o projeto realiza mais de 600 atendimentos gratuitos mensais. “O projeto oferece gratuitamente atendimentos preventivos e reabilitativos para lesões desportivas na Clínica Escola de Fisioterapia, onde são empregados vários protocolos de tratamentos para as lesões esportivas mais recorrentes”, conta o professor Adriano Simão.
Como um dos pacientes assistidos pelo projeto, Vitor Gomes, de 14 anos, de Alfenas, começou a ser atendido na Clínica de Fisioterapia por estudantes do estágio de Neuropediatria, supervisionado pela professora Tereza Cristina Carbonari. Vitor, que inicialmente demonstrou interesse no basquete em cadeira de rodas, apresenta uma paraplegia com hipertonia espástica em membros inferiores, com perda sensitiva e da função muscular na metade inferior do corpo, incluindo ambas as pernas, leve déficit no controle de tronco e uma discreta escoliose toracolombar. Tal condição compromete o movimento e a sensibilidade nas pernas, e na parte inferior do corpo, além de tornar os músculos das pernas mais rígidos e tensos do que o normal.
“No ano de 2023, o então bolsista do projeto José Roberto da Silva Júnior, atendeu o Vitor no estágio de Neuropediatria e trouxe a proposta de iniciarmos um atendimento mais específico, visando adaptar exercícios para a prevenção de lesões e a melhora do desempenho no basquete, a ideia foi prontamente aceita”, conta o coordenador do projeto.
Em abril de 2024, a equipe adaptou o tratamento, uma vez que o adolescente havia passado em um teste para o atletismo voltado para cadeirantes, nas modalidades de lançamento de dardo, peso e disco na cidade de Três Corações-MG. “Devido ao seu desempenho, o treinador o convidou para começar a disputar estas modalidades. Então, desde abril, passamos a estudar os movimentos executados para cada categoria e direcionamos novos exercícios voltados para as posturas e movimentos executados nestas três modalidades esportivas”, explica o professor.
Vitor é atendido pela equipe duas vezes por semana, oportunidade em que realiza exercícios de controle do tronco e equilíbrio na posição sentada. “Também são aplicados exercícios resistidos para membros superiores e tronco, exercícios com resistência elástica visando o gestual esportivo de cada modalidade, exercícios proprioceptivos e pliométricos para membros superiores”, detalha, dizendo que em caso de dor ou desconforto muscular, o grupo aplica técnicas de relaxamento e liberação muscular.
O coordenador relata que no caso do Vitor, o principal desafio no tratamento foi a adaptação dos exercícios para o gestual esportivo das três modalidades. “É fundamental entender as particularidades das condições do paciente e como elas afetam as técnicas e o desempenho”, argumenta. “Com essas informações, foi possível criar planos de treinamento e reabilitação mais eficazes e ajustados às necessidades do Vitor”, reforça.
No mês de julho, o paratleta participou dos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG), na cidade de Governador Valadares-MG, disputando as três modalidades, nas quais conquistou ouro em todas elas, além de bater o recorde de 10 metros do arremesso de disco.
Na primeira foto, o paratleta com os acadêmicos do curso de Fisioterapia que participaram de seu atendimento e com o coordenador do projeto: Laura Melo, Alisson Megda, o professor Adriano Simão e Matheus Santos; nas demais, o registro do treino de gesto esportivo das modalidades de arremesso de peso e disco na areia da Clínica de Fisioterapia, com atendimento de Laura Melo. (Fotos: Arquivo/Projeto Atleta sem Dor)
Ao comentar o trabalho da equipe no treinamento e na reabilitação de Vitor, o professor Adriano Simão afirma que vai além do suporte técnico e físico, pois também promove a inclusão e a excelência esportiva. “Acreditamos que a avaliação e o diagnóstico personalizado, bem como o treinamento físico voltado para as necessidades específicas do Vitor na execução dos movimentos de cada modalidade disputada, tenham gerado mais segurança e consequentemente surtido efeito no seu desempenho”, salienta.
O próprio Vitor relata com entusiasmo sua evolução: “Quando eu comecei a praticar o atletismo, eu vi que não estava bem, mas quando eu comecei a treinar com o projeto, vi que minha evolução foi grande, comecei a bater metas e quebrar meus próprios recordes. No JEMG ganhei ouro nas três modalidades e agora estou ansioso para o nacional”, comemora. “Daqui pra frente, quero ir para o mundial e para fora do Brasil. Meu sonho é ir para as Paraolimpíadas”, revela.
Para o professor Adriano Simão, testemunhar a felicidade de Vitor ao atingir seus objetivos logo no primeiro campeonato e conquistar as medalhas de ouro nas três categorias traz uma sensação de orgulho e de realização do projeto. “É muito gratificante ver que o trabalho que realizamos está fazendo a diferença”, compartilha. “Foi um momento que celebrou não apenas a vitória individual do Vitor, mas a eficácia do suporte integral e especializado oferecido pelo projeto Atleta sem Dor”, conclui.
O projeto
O projeto Atleta sem Dor foi criado no ano de 2012 pela professora Ana Cláudia Bonome Salate (in memorian) em parceria com o professor Leonardo César Carvalho, atualmente, o coordenador adjunto da ação. Como projeto de extensão multidisciplinar, a ação visa proporcionar aos discentes dos cursos de Fisioterapia, Nutrição e Medicina da UNIFAL-MG a oportunidade de contato direto com suas respectivas atuações na área esportiva. Dessa forma, favorece a aplicação dos conhecimentos adquiridos ao decorrer da graduação em benefício dos atletas profissionais e amadores da cidade de Alfenas e região.
Mais de 40 acadêmicos participam das atividades, que envolvem também atendimentos à beira de quadra ou de campo e no pré e pós-competições durante os eventos esportivos na cidade de Alfenas e região.
Projetos como TREME e INTERMED, das Atléticas dos cursos de Medicina da UNIFAL-MG e da UNIFENAS também contam com o suporte da equipe do projeto, assim como o Time JUVENTUDE Alfenas durante o Campeonato Mineiro das categorias de Base e Copa Alterosa; a Escolinha de Futsal CT-FALCÃO no Campeonato Regional e Municipal sub 15 e sub 17 e o Time do FAAL-Futebol dos Amigos de Alfenas na Copa Alfenas de Futebol Amador série A.
O Atleta sem Dor também promove ‘lives’ e reuniões virtuais abertas que contam com a presença de profissionais convidados das diversas áreas de atuação no esporte. Tais encontros fomentam a troca de informações com os discentes de graduação e pós-graduação, assim como com a sociedade esportiva.
Para conhecer mais sobre o projeto, acompanhe o perfil do grupo no Instagram neste link