“Foi por meio dos projetos de extensão que descobri os temas que mais me interessavam estudar”, revela Giulia Ferrari, egressa do curso de Ciências Sociais e hoje pesquisadora de mestrado na UFMG

Cientista social compartilha sua trajetória marcada pela prática crítica e pelo olhar sensível
Giulia Simões Ferrari - egressa do curso de Ciências Sociais (Licenciatura). (Foto: Arquivo/Giulia Ferrari)

Ver o mundo com mais criticidade, sem perder a gentileza no olhar. Foi assim que a graduação em Ciências Sociais (Licenciatura) na UNIFAL-MG transformou a trajetória de Giulia Simões Ferrari, não só como pesquisadora, mas também como pessoa. Hoje, a egressa que concluiu a graduação em 2023, é mestranda em Sociologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e investiga os processos socializadores que influenciam estudantes da rede pública a desejarem o ingresso no ensino superior.

“Penso que, assim como para mim, a localização da UNIFAL-MG é um facilitador no ingresso à universidade”, conta.

Ao relatar a sua história acadêmica, Giulia Ferrari comenta que a motivação por ter escolhido cursar graduação na UNIFAL-MG se deu por ser uma universidade federal conceituada, com políticas de assistência estudantil, localizada no interior, uma combinação que, segundo ela, funciona como um verdadeiro facilitador para democratizar o acesso ao ensino superior. “Penso que, assim como para mim, a localização da UNIFAL-MG é um facilitador no ingresso à universidade”, conta.

Durante a graduação, Giulia viveu experiências marcantes que consolidaram seu interesse pela educação e pela pesquisa. Participou de projetos de extensão, atuou na Residência Pedagógica com turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e desenvolveu um olhar sensível sobre o papel da escola nas diferentes trajetórias de vida. A vivência em sala de aula com trabalhadores, pessoas casadas e com filhos, que estudavam à noite após o expediente, foi decisiva para sua formação.

“Era visível o quanto estavam dispostos a aprender, a vontade que tinham de compartilhar experiências, relacionar os temas com suas próprias vivências e trazer suas dúvidas”, compartilha. “A vivência escolar para eles tinha um significado diferente, e poder reconhecer isso durante a experiência foi, e continua sendo, extremamente importante para mim, tanto profissional quanto pessoalmente”, acrescenta.

Registro de uma revisão de sociologia para o Exame do Ensino Médio (Enem), na escola em que Giulia atuava como bolsista da Residência Pedagógica. (Foto: Arquivo/Giulia Ferrari)

Nos projetos de extensão, a egressa teve contato com temas que permeiam até hoje o seu trabalho como pesquisadora. “Foi por meio deles que descobri os temas que mais me interessavam estudar, aprofundei meus conhecimentos em Ciências Sociais e escolhi o tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Além disso, tive a oportunidade de utilizar, na minha pesquisa, um banco de dados que ajudei a construir durante um desses projetos e continuo pesquisando esse tema mesmo após a graduação”, narra.

Um desses projetos foi destaque em uma matéria divulgada pela UNIFAL-MG em 2021. Intitulada “Os passos do ensino médio até o ensino superior”, a iniciativa levava oficinas temáticas a escolas públicas para orientar estudantes sobre o ingresso na Universidade. Giulia não só participou do projeto em Alfenas, como também propôs à Escola Estadual Dr. Lauro Corrêa do Amaral, em Guapé-MG, onde ela mesma cursou o ensino médio.

“Pensei que seria uma ótima oportunidade para os alunos de cidades próximas à Universidade terem contato com o conteúdo, como uma tentativa de diminuir as desigualdades quanto ao acesso ao ensino superior”, contou à época.

A ação teve repercussão positiva entre os estudantes da escola, alguns dos quais passaram a buscar informações sobre o curso de Ciências Sociais e os caminhos para entrar na Universidade, um reflexo direto do compromisso social que Giulia leva consigo desde a graduação. Confira aqui: Oficinas temáticas guiam estudantes de escolas públicas pelo caminho a ser percorrido para ingressar no ensino superior; conheça a iniciativa de um projeto do curso de Ciências Sociais da UNIFAL-MG

Temas trabalhados pela egressa em aulas que ministrou durante a graduação. (Imagens: Arquivo/Giulia Ferrari)

Mas a transição para a pós-graduação foi mais desafiadora do que ela imaginava. Acostumada com os ritmos da graduação, precisou aprender a se enxergar como pesquisadora em formação, e não mais como estudante de base. “Achei que seria um processo mais tranquilo por estar habituada à dinâmica acadêmica, prazos, leituras, entrega de trabalhos. No entanto, foi justamente essa familiaridade que tornou mais difícil me enxergar como uma profissional da área. Demorei a me desvincular da identidade de graduanda e a me reconhecer como uma cientista social em formação no mestrado”, revela.

“Minha maior realização profissional, até aqui, é poder dar continuidade à pesquisa sobre desigualdade educacional, um tema que me mobiliza desde os primeiros anos da graduação”, afirma.

Aos poucos, passou a reconhecer o valor da bagagem construída na graduação e a aplicar esse conhecimento com mais autonomia. “Minha maior realização profissional, até aqui, é poder dar continuidade à pesquisa sobre desigualdade educacional, um tema que me mobiliza desde os primeiros anos da graduação”, afirma.

Segundo Giulia, mais do que um campo de interesse, o tema parte de uma realidade que vivenciou, o que a possibilita compreender os processos sociais ao redor. “É muito significativo perceber que o senso crítico que construí ao longo da minha formação na UNIFAL-MG não ficou restrito à sala de aula: ele atravessa a forma como reflito sobre minha própria trajetória escolar, como penso a pesquisa, escolho os temas que investigo e compreendo meu papel na produção de conhecimento”, relata.

A continuidade para o mestrado confirma que a experiência universitária da cientista social não ficou restrita aos temas que escolheu investigar ou ao tempo como graduanda na UNIFAL-MG – também segue viva na maneira como Giulia constrói sua pesquisa e compreende seu papel como pesquisadora. “Aplicar esse olhar no mestrado, de forma mais autônoma e aprofundada, me faz reconhecer a coerência entre aquilo que me formou e o que desempenho hoje como pesquisadora em formação”, descreve.

Giulia mostra o crachá de sua participação no Congresso Brasileiro de Sociologia, sediado pela USP, no mês de julho, quando apresentou trabalho. (Foto: Arquivo/Giulia Ferrari)
Em 2024, a mestranda esteve no Colóquio Internacional Paulo Freire, apresentando outro estudo que contou com sua coautoria. (Foto: Arquivo/Giulia Ferrari)

Como mestranda, a agenda de Giulia é movimentada por participações em eventos acadêmicos de renome em sua área, nos quais também apresenta trabalhos.

No mês de julho, a cientista social participou do 22º Congresso Brasileiro de Sociologia, sediado pela USP, oportunidade em que o trabalho “Entre Descapitalização e Reconversão: Os Capitais de Bourdieu em Contextos Imigratórios”, que conta com sua coautoria, foi apresentado no “GT10 Migrações Internacionais Contemporâneas. Novos fluxos e perspectivas de análise”.

Em 2024, a mestranda também marcou presença no 12º Colóquio Internacional Paulo Freire, que aconteceu no Centro Paulo Freire, em Recife-PE, apresentando outro trabalho de sua coautoria sobre o tema “O algoritmo da juventude amazônidas: as mídias sociais podem ser um difusor de educação ambiental emancipadora?”, no eixo temático “Sustentabilidade Socioambiental”.

Para quem está prestes a se formar, Giulia deixa um conselho importante. “Calma”, recomenda, acrescentando: “Você não tem que ter toda a sua vida profissional planejada e resolvida, você não tem que saber de tudo e é normal sentir nesse começo que não tem conhecimento suficiente mesmo que tenha aprendido. Com o tempo, você vai conseguir enxergar e aplicar tudo que aprendeu. É normal se sentir deslocado ou sem rumo. Não se compare a outros colegas, cada pessoa teve e tem uma trajetória. Seja gentil com você”, finaliza.

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