A UNIFAL-MG campus Poços de Caldas está avançando cada vez mais nas pesquisas que envolvem sustentabilidade. O Laboratório de Aproveitamento de Resíduos, Subprodutos e Biomassa (LARSBIO), do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT), sob a coordenação das professoras Grazielle Silva Santos Andrade e Melina Savioli Lopes, está desenvolvendo filmes biodegradáveis de alta performance a partir de resíduos agroindustriais, com potencial para impactar a indústria de embalagens.
A iniciativa busca dar um novo propósito a materiais que seriam descartados, como o bagaço de soja (okara) e a água residual da produção de óleo essencial de alecrim. Segundo as docentes, os filmes desenvolvidos no LARSBIO não são apenas biodegradáveis; eles incorporam propriedades funcionais como proteção contra raios UV e atividade antioxidante, contribuindo significativamente para a economia circular e a redução do impacto ambiental. Para a professora Melina Savioli Lopes, coordenadora do LARSBIO, desenvolver pesquisas que promovem a sustentabilidade e a valorização de resíduos é “extremamente gratificante”. Ela ressalta que esses projetos refletem um compromisso que “vai além do desenvolvimento de materiais inovadores; eles estão diretamente conectados à formação de recursos humanos qualificados, conscientes do seu papel na construção de uma sociedade mais sustentável”.
O projeto conta com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), por meio do Processo APQ-01392-23, e uma parceria estratégica com o laboratório INNPULSED da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), coordenado pelo professor Eric Kevin Silva.
Os trabalhos que deram origem a essa linha de pesquisa foram desenvolvidos entre 2023 e 2024, durante os mestrados de José Vitor Scarcella Assunção e Elisa Othero Nahas no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPGEQ) da UNIFAL-MG campus Poços de Caldas. O sucesso dessas pesquisas já estimulou a geração de novos projetos, que estão em fase de desenvolvimento pelo grupo, empregando outros resíduos agroalimentares, como bagaço de malte de cervejarias e cascas de frutas.
Reconhecimento e impacto na formação
De acordo com as professoras, a relevância científica do trabalho do LARSBIO foi confirmada com duas publicações de alto impacto no International Journal of Biological Macromolecules. Uma delas, com José Vitor Scarcella Assunção como primeiro autor, aborda a valorização do bagaço de soja (okara) na produção de fibras dietéticas solúveis para filmes biodegradáveis (Volume 280, 2024, Artigo 136032). A outra, com Elisa Othero Nahas como primeira autora, trata do uso de compostos fenólicos presentes na água residual da produção de óleo essencial de alecrim em filmes bioativos (Volume 311, 2025, Artigo 143411).
Para os estudantes envolvidos, a experiência foi transformadora. Elisa Othero Nahás, egressa do PPGEQ/UNIFAL-MG, relata: “Fazer parte desse projeto foi uma experiência muito importante pra minha formação. Poder trabalhar com pesquisa que ajuda o meio ambiente e pensar em soluções sustentáveis me fez entender como a ciência pode realmente fazer a diferença”. José Vitor Scarcella Assunção, também egresso do PPGEQ/UNIFAL-MG, complementa: “Participar dessa pesquisa foi uma experiência transformadora, não só para minha formação acadêmica, mas também para minha visão sobre o papel da ciência no Brasil. No nosso trabalho, mostramos que é possível transformar um resíduo que antes era descartado, como o okara, em um material sustentável, que contribui para reduzir o uso de plástico e para promover a economia circular. Isso prova que investir em ciência não é gasto, é investimento no futuro.”
A professora Grazielle Silva Santos Andrade ressalta o esforço coletivo e o impacto na formação de novos profissionais. “Essas publicações são resultado de um trabalho construído a muitas mãos, com dedicação, rigor científico e, sobretudo, muito entusiasmo por transformar desafios em soluções. A valorização de resíduos agroindustriais e o desenvolvimento de filmes biodegradáveis representam não apenas um avanço científico, mas também uma oportunidade de formar profissionais preparados para atuar em um mercado que demanda, cada vez mais, soluções sustentáveis. Ver nossos alunos participando ativamente de todas as etapas do processo, é, sem dúvida, uma das maiores recompensas desse trabalho”, conclui.
