No seu mais recente livro, Elisa Zwick, professora da UNIFAL-MG Varginha, apresenta inquietações existentes no campo da Administração, em especial, nas pesquisas voltadas à Gestão Pública a respeito da raridade de estudos fundamentados em perspectivas críticas que apontem as mazelas do campo como realmente são. Essa é a tônica da obra “A Gestão Pública Danificada: uma análise crítica à luz da dialética negativa de Theodor Adorno”, lançada pela editora Paco.
O livro é resultado da tese de doutorado, realizado na área de Administração pela docente do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), e estabelece uma leitura crítica das teorias e das práticas da Gestão Pública a partir do encontro com a Dialética Negativa (Negative Dialektik). Tal obra foi composta em 1966 pelo filósofo alemão Theodor W. Adorno, expoente da primeira geração da Teoria Crítica, escola iniciada por um conjunto de pensadores de diversos campos do conhecimento em 1923, em Frankfurt.
Ao longo das 394 páginas, Elisa Zwick analisa três importantes constelações da Gestão Pública Danificada: a Colonialidade, o poder e a ideologia, cujas categorias analisadas em cada uma delas resultam de processos históricos, de conteúdo interconectado e vivo na realidade brasileira atual. “Trata-se do primeiro estudo de análise da Gestão Pública brasileira pela perspectiva metodológica da dialética negativa, que é explorada como perspectiva metodológica no primeiro capítulo do livro”, explica a autora.
Quem assina o prefácio é o professor doutor José Henrique de Faria, fundador e atual presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Organizacionais (Sbeo), titular sênior da Universidade Federal do Paraná (UFPR), instituição em que foi reitor (1994-1998) e pró-reitor (1990-1994), e que atualmente pesquisa o tema Lawfare, tendo estudado ao longo da carreira sobre a Economia Política do Poder. “Chega em um momento oportuno para nossa reflexão crítica”, descreve o professor.
Ele continua: “Exatamente em um momento em que a Gestão Pública brasileira foi atingida pela concepção política conservadora e autoritária, em que a credibilidade dos poderes foi colocada em cheque, em que as narrativas sem lastro na verdade fenomênica se tornaram práticas comuns, em que as redes sociais são manipuladas por especialistas em criação de um mundo imaginoso, em que a hipocrisia é naturalizada, em que a tragédia humana é ignorada, em que as convicções são mais relevantes que os fatos, em que a defesa de interesses mesquinhos é expressa sem nenhum pudor. Esses fatos estão aí para nos lembrar da Gestão Pública danificada e das lutas que precisam ser conscientemente enfrentadas pelos trabalhadores em direção a uma sociedade política, econômica e socialmente emancipada.”
No primeiro capítulo, a autora apresenta a dialética negativa como abordagem metodológica, respondendo as questões sobre os caminhos percorridos pela dialética clássica até a dialética negativa, e a apresentação dos pressupostos desta, que dirigem o levantamento de constelações e categorias-chave à análise dos capítulos centrais.
Elisa Zwick compõe, no segundo capítulo, uma leitura adorniana sobre “as bases da recusa do não idêntico” que tem como pano de fundo elementos históricos que sustentam as práticas contemporâneas de condução da Gestão Pública no Brasil, subsidiados pelos estudos pós-coloniais.
Voltado para a “análise dialética negativa do poder burocrático”, no terceiro capítulo a autora investiga amplamente a constelação do poder político-burocrático do Estado brasileiro, apontando aspectos de sua constituição administrativa que, conectados aos aspectos econômicos e políticos, afetam sobremaneira os delineamentos sociais do Brasil.
No último capítulo, os leitores terão um embasamento da “crítica dialética negativa à naturalização gerencialista”, segundo a qual, “implica no aprofundamento em categorias constitutivas da ideologia em si e da ideologia da Gestão Pública brasileira em particular, diagnosticando como se cria uma identidade naturalizada no campo associada à assimilação da ideologia gerencialista na própria formação dos gestores públicos, a saber, uma semiformação, como conceituado por Theodor Adorno.”
Para a autora, essa é a tríade constelatória que revela a conceituação da Gestão Pública danificada. “É uma remissão ao conceito de vida danificada (beschädigten Leben) do filósofo Adorno, o qual resulta da análise da sociedade administrada, em que a consciência é moldada para se adaptar às exigências técnico-econômicas. Assim, pensar no que constitui a Gestão Pública danificada permite, pela perspectiva metodológica da dialética negativa de Theodor Adorno, a denúncia da formação histórica e político-social conservadora e autoritária do Brasil”, ressalta.
O livro é composto por 394 páginas e foi lançado nacionalmente durante o 8º Congresso Brasileiro de Estudos Organizacionais (VIII Cbeo), realizado em Florianópolis-SC, um dos eventos mais destacados no campo dos estudos organizacionais no Brasil, que abrange temáticas críticas desenvolvidas nos estudos da Administração no Brasil. Releia a matéria divulgada aqui pelo Jornal UNIFAL-MG.
A abordagem da obra é interdisciplinar e está destinada a leitores não acadêmicos que tenham interesse em compreender criticamente os caminhos percorridos ao longo da história pela Gestão Pública no Brasil. No campo acadêmico, versa sobre interesses de pesquisa nas áreas da Administração, Gestão Pública, Filosofia e Sociologia e Ciência Política.
O lançamento na UNIFAL-MG será nesta quinta-feira, 3 de outubro, no campus Varginha.
Interessados podem adquirir o livro pelo site da editora neste link, pelo Instagram da editora, em lojas on-line ou junto à autora em contato pelo e-mail: elisa.zwick@unifal-mg.edu.br.