Nosso primeiro contista

Para um jovem que imagina – é bem comum – estar reinventando o mundo, ler Noite na taverna (1855) pode ser um bom negócio. O livro de contos de Álvares de Azevedo é um pequeno tratado de transgressões que ainda assustam muita gente: necrofilia, incesto, canibalismo, blasfêmia. Apresenta o leitor a certas virtualidades do humano … Ler mais

Um Torga dos melhores

Somente por um dos 13 contos que compõem Rua (1942) já valeria a leitura dessa coletânea do português Miguel Torga, dono de um dos mais bonitos estilos do idioma. A sétima história, intitulada “Música”, iguala ou até supera os contos machadianos que têm musicistas como personagens; é de uma tristeza pungente, além de pôr em … Ler mais

Escrita criativa (2)

Sob quase todos os aspectos superior à obra anteriormente comentada, o pequeno manual Escrever com criatividade, de Luciano Martins, começa por ser muito mais bem escrito. A esse autor, que também publicou obras literárias, não se pode negar o dom da criatividade: seu texto é poroso, cheio de surpresas e inclui um inteligente sistema de … Ler mais

Escrita criativa

Alguns livros são úteis porque, de tão insatisfatórios, obrigam a gente a imaginar o que o autor poderia ter feito para que fossem melhores. É o caso de Escrita criativa – O prazer da linguagem (2008), de Renata Di Nizo, e Escrever com criatividade (2001), de Luciano Martins, este já na quinta edição. Eles contêm … Ler mais

Concisa obra-prima

Lição profunda e tocante sobre a condição humana, A morte de Ivan Ilitch (1886) está muito longe de certas arengas superficiais que andam passando por ficção ultimamente. Seu autor, Liev (= Leão) Tostói, figura entre os maiores escritores de uma literatura que não os deu poucos – a russa. Seus monumentais romances Guerra e paz … Ler mais

O desconcerto Bartleby

Aí estão as mesas digitalizadoras, os scanners portáteis e os programas estatais de renda mínima para mostrar, com quase dois séculos de atraso, que o personagem de Melville não era tão desparafusado como parece ao narrador. Bartleby, protagonista da novela que tem seu nome no título, deve ter compreendido que o trabalho de escrevente não … Ler mais

Nariz extraviado e outros despautérios

Durante a leitura do volume no qual se incluem “O nariz” e “Diário de um louco”, é nítida a sensação de estar lendo Franz Kafka, apesar de os dois contos do russo Nikolai Gógol terem sido publicados na primeira metade do século XIX, ou seja, quase um século antes de surgir a obra do escritor … Ler mais

Projeto de Extensão “UMA MOSTRA – Galeria Virtual” abre inscrições para artistas

O Projeto de Extensão “UMA MOSTRA – galeria virtual” está com inscrições abertas para a 4ª edição da galeria virtual, que ocorrerá entre 2024 e 2025. Artistas da comunidade interna e externa da UNIFAL-MG podem submeter suas produções artístico-culturais de autoria própria, abrangendo diversas práticas, linguagens e estéticas, em formato de imagem. As inscrições são … Ler mais

Desconstrução apressada

Foi muita coragem de Paulo Puterman meter-se a desmontar a noção frankfurtiana de indústria cultural. A ousadia já fica patente no título de seu estudo, que não deixa dúvida: para o autor, o conceito posto em circulação por Adorno e Horkheimer na Dialética do Esclarecimento (1947) estava, meio século depois, em “agonia”. Revertamos ao provérbio: … Ler mais

Minimal e desbocada

Quando publicou Az mulerez – grafado assim mesmo, mais um til sobre o l que demanda ginástica impossível ao teclado do notebook – Natércia Pontes contava apenas 24 anos. Formada em radialismo, a escritora cearense é filha de Augusto Pontes, que foi secretário estadual de Cultura em seu Estado e assina o interessante prefácio desse … Ler mais

JHWH reloaded

Numa cena do magnífico filme A missão (1986), de Rolland Joffé, dois padres jesuítas estão discutindo e um deles lembra ao outro que a Igreja é uma monarquia, não um estado democrático. É tal pressuposto que falta a muitas passagens do livro Os dez mandamentos para o século XXI, publicado em 2004 pelo filósofo espanhol … Ler mais

Um modelo de economia narrativa

Ratos e homens (1937), de John Steinbeck, é um paradigma de eficácia narrativa. O enredo é enxuto e se concentra nos diálogos; os personagens são poucos, cada qual executa seu papel e, por assim dizer, desaparece da cena quando deixa de ser necessário — como numa boa peça de teatro. Nada falta, nada sobra nesse romance … Ler mais

A fé possível aos ateus

Era uma vez um santo comunista. Ainda jovem, deixou de lado as promessas de uma profissão na época rendosa, a odontologia, e dedicou-se de corpo e alma ao jornalismo num periódico mantido por militantes que consideravam o socialismo albanês um bom modelo. Era uma fé questionável como qualquer outra, mas esse rapaz sacrificou seus melhores … Ler mais

Umas prosas de Zeca Baleiro

Mesmo cometendo pecadilhos como chamar suas crônicas de “textículos” – um dia isso terá sido engraçado – e ocasionalmente tropeçando na gramática (mas nada muito grave…), Zeca Baleiro fez um bonito livro quando reuniu em Bala na agulha (2010) o material produzido para o blog publicado em sua página na internet (zecabaleiro.com.br). O volume, atravessado … Ler mais

O canto do cisne afásico

Sarcasticamente, o escritor argentino Julio Cortázar disse numa crônica que Samuel Beckett e outros artistas europeus do pós-guerra estavam “tirando traças do colete” enquanto a imprensa e a academia os consideravam a última palavra em termos de elaboração estética. Com tal opinião parece concordar o segundo narrador da novela Molloy (1951), que a páginas tantas … Ler mais