Tecnologias Móveis em Saúde: uma estratégia inovadora para a promoção do autocuidado de pessoas com diabetes mellitus no contexto haitiano

Imagem ilustrativa. (Foto: Reprodução/Freepik)


A Diabetes Mellitus (DM) configura-se como uma condição crônica de alta complexidade, caracterizada por distúrbios metabólicos decorrentes da hiperglicemia persistente (OMS, 2025). Sua crescente incidência e prevalência em escala global a posicionam como um grave problema de saúde pública, com elevadas taxas de morbimortalidade (OPAS, 2025). Projeções da International Diabetes Federation (IDF) são alarmantes, estimando que, até 2050, uma em cada oito pessoas viverá com a doença, totalizando aproximadamente 853 milhões de indivíduos. Atualmente, a DM já representa a oitava principal causa de incapacidade no mundo (IDF, 2025).

Nesse contexto, o panorama da DM no Haiti é, particularmente, desafiador. Estima-se que 50% da população acometida desconheça o próprio diagnóstico, evidenciando uma falha nos sistemas de rastreamento e educação em saúde (Kwan et al., 2020). Dados da Fundação Haitiana de Diabetes e de Doenças Cardiovasculares (FHADIMAC, 2022) indicam uma prevalência de 9% na população adulta, o que corresponde a cerca de 400 mil pessoas.

 A ausência de um manejo clínico adequado da DM acarreta riscos elevados para o desenvolvimento de complicações, como retinopatia, nefropatia, neuropatia, doença arterial coronariana, doença cerebrovascular e doença arterial periférica (Neves, 2023). Dentre essas, destaca-se a doença do pé diabético, principal causa de amputações não traumáticas de membros inferiores. A gravidade dessa complicação é demonstrada por dados globais, tendo em vista que, anualmente, 18,6 milhões de pessoas com DM desenvolvem úlceras nos pés, sendo que 34% apresentam alto risco de amputação (Armstrong et al., 2018).

 No contexto haitiano, a situação é crítica. Até o presente momento, não há dados epidemiológicos consistentes que quantifiquem o número de amputações decorrentes do pé diabético. Entretanto, conforme relatado por Amelus (2016), o diabetes mellitus representa um custo médio mensal de 19 dólares americanos por pessoa. Além disso, a condição foi responsável por cerca de 5.026 óbitos em 2019, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2023).

 O controle inadequado da DM no Haiti é um fenômeno multifatorial, influenciado por barreiras sistêmicas de ordem política, socioeconômica e estrutural. Entre as principais barreiras, destacam-se o acesso geográfico limitado aos serviços de saúde, a carência de unidades de referência, o déficit de profissionais qualificados, o alto custo da assistência privada, a escassez de medicamentos e insumos essenciais, o diagnóstico tardio e, fundamentalmente, o baixo nível de literacia em saúde da população. Tais fatores contribuem para a baixa adesão ao tratamento e uma autogestão ineficaz da doença.

Diante desse cenário, e como pesquisadora haitiana com linha de investigação focada na DM, minha atuação se concentra no desenvolvimento de tecnologias educacionais em saúde que sejam culturalmente sensíveis e adaptadas à realidade local. Acredito que a superação das barreiras das barreiras de acesso à informação seja um pilar para a otimização a gestão e do cuidado.

Nesse sentido, a construção de uma tecnologia móvel “off-line” para pessoas com DM no Haiti alinha-se, diretamente, com a necessidade de informar e educar de forma acessível e contínua. O desenvolvimento dessa ferramenta poderá desempenhar papel um fundamental na prevenção de complicações, na sensibilização das pessoas para o autocuidado e para importância da adesão ao plano terapêutico. Trata-se de uma abordagem estratégica para capacitar as pessoas a se tornarem agentes ativos na gestão da própria saúde, promovendo melhores desfechos clínicos e maior qualidade de vida.

Cabe destacar que este trabalho foi realizado sob a orientação da professora Dra. Silvana Leite e coorientação da professora Dra. Isabelle Pinto Costa, no âmbito da promoção de cuidados integrais e humanizados.

.Nydie Gervais é haitiana e mestranda em mobilidade no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UNIFAL-MG pelo convênio do Programa Bolsas Brasil PAEC de cooperação entre o Grupo de Cooperação Internacional de Universidades Brasileiras (GCUB) e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Bolsista da FAPEMIG, a acadêmica é orientanda da professora Silvana Maria Leite Fava e coorientanda da professora Isabelle Cristinne Pinto Costa. No âmbito da aprendizagem do português como idioma adicional (nível intermediário) é discente da professora Maria Eduarda Campese Ribeiro, graduanda em Letras/Língua Portuguesa (Bacharelado) da Universidade.

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