Loucura é considerar Trump louco!

Atualizado em 26 de fevereiro de 2025 às 12:00

Donald Trump. (Foto: Evan Vucci/AP Photo)

Mal assumiu seu novo mandato, o presidente dos Estados Unidos da América Donald Trump não saiu do noticiário internacional. Sua técnica é simples: bravatas, promessas vazias, provocações e decisões absurdas.

No campo da guerra cultural, proibiu atletas mulheres trans de participarem de competições esportivas femininas, cortou o financiamento de pesquisas científicas cujos temas não lhe agradam, renomeou o Golfo do México como “Golfo da América”, readmitiu o uso de canudinhos de plástico, pois os de papel eram “ecologicamente corretos”. Também pôs fim à política inclusiva na contratação de servidores públicos implementada por Joe Biden, alegando ser coisa da “cultura woke”. Abandonou acordos ambientais internacionais e segue atacando a comunidade LGBTQIA+, enquanto policia e censura livros didáticos. Apostando no velho nacionalismo, converteu a deportação de imigrantes ilegais (que sempre houve) em espetáculo midiático, cogitou colocar a Faixa de Gaza sob custódia norteamericana e ameaçou, em tom de ironia, anexar o Canadá e a Groenlândia. Economicamente, acenou (e retrocedeu) com altas tarifas de importação sobre produtos canadenses, mexicanos e chineses, além de outras especulações na contramão do padrão internacional do sistema capitalista. Tudo isso em aparições performáticas, nas quais ele se porta como num reality show, sempre assinando papéis com aquele ar descomprometido e debochado (como se hoje ainda se despachasse com papel e caneta).

Trump não é um delirante, um louco. Quem acha suas falácias meras infantilidades, ignora que são premeditadas. Quem acredita que suas especulações econômicas são irracionais, desconsidera que elas não são econômicas, mas políticas. Pareceriam estúpidas, financeiramente, caso concretizadas, mas, enquanto meras ameaças e provocações, são eficazes para manter uma massa excitada, enfurecida e engajada. Sua atuação cênica funciona porque, repercutida pelas redes sociais, provoca emoções extremas, uma vez que provoca medos, revoltas, indignação e insegurança. O eleitorado, aturdido, assiste a tudo, desorientado, sem saber o que está acontecendo de fato e com dificuldades de distinguir o que é verdadeiro ou falso.

Esta é a arma dos assim chamados “tecnopopulistas”. Governar, apenas, dá muito trabalho e pouco resultado. Muito esforço e pouca visibilidade. Fazer alianças, compor coalizões, executar agendas, viabilizar políticas públicas, destinar verbas… isso não interessa a ninguém. Por outro lado, atritos, bobagens, insultos e polêmicas fúteis são mais eficientes, pois mantêm-nos falando dele, conservando-o, portanto, no centro do debate público. Ou seja: uma eterna campanha eleitoral. Fabricar agitação constante é uma técnica política eficaz. Como Javier Milei, ameaçando construir um muro na fronteira da Argentina com a Bolívia, ou usando seu tempo de fala no Fórum de Davos para associar homossexuais a pedofilia. Como Bolsonaro, que passou a “combater o combate” à pandemia de Covid-19 quando não pôde mais simplesmente negá-la. Como vereadores brasileiros que se descuidam dos problemas reais de seus municípios para combaterem imaginários kits gays e banheiros unissex nas escolas. É mais fácil impressionar o eleitorado com “ideologia de gênero” do que com contenção de barragens, saneamento básico ou merenda escolar.

As big techs, donas das redes sociais e a cujo modelo de negócio interessa o caos informativo, fazem vista grossa. A elas convém o compartilhamento de conteúdo, os cliques e a formação de bolhas de informação. Não por acaso, seus donos estavam na tribuna de honra durante a cerimônia de posse de Trump.

A democracia está passando a funcionar conforme a mesma lógica das redes sociais: fisgar uma audiência distraída e produzir engajamento em massa. Nas eleições municipais de 2024, tivemos Pablo Marçal, o primeiro candidato digital. Sem partido, sem plataforma, sem nada; apenas viralização e burla da legislação eleitoral por meio de estratégias imprevistas pela lei. “Governantes influencers” ficarão cada vez mais comuns, enquanto as instituições republicanas têm pela frente o enorme desafio do resgate da política.

Thiago Antônio de Oliveira Sá é professor do curso de Ciências Sociais do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG. Dedica-se às áreas de Teoria Sociológica, Sociologia da Educação e Pensamento Social Brasileiro.

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