“Indicado somente para maiores de 40”, por Eloésio Paulo sobre o livro “Cabeça de Papel” de Paulo Francis

Há muitas maneiras de julgar um livro. Se for julgado pela riqueza das reflexões que suscita, Cabeça de papel (1977), de Paulo Francis, terá que ser considerado um grande livro. Para o leitor comum, porém, o mais provável é que a leitura consista num garimpo expectante das tiradas geniais do narrador, que replicam de modo … Ler mais

“Tentando a subida, desceu”, por Eloésio Paulo sobre o livro “A estrela sobe” de Marques Rebelo

O tema de A estrela sobe (1939) seria bem característico da ficção do século XIX, não fosse pelo detalhe de naquele século ainda não existir o rádio. Leniza, a protagonista de Marques Rebelo, é uma típica heroína oitocentista, se também descontarmos o cenário, que é o Rio de Janeiro dos anos 1930, e a linguagem … Ler mais

“O relato de uma mulher infeliz”, por Eloésio Paulo sobre o livro “A imaginária” de Adalgisa Nery

Devia haver uma lei universal obrigando todos os autores de livros a rever suas obras, senão antes de publicá-las, pelo menos a cada nova edição. Determinados deslizes são imperdoáveis, e não adianta colocar a culpa no revisor. A narradora de A imaginária (1959), por exemplo, a certa altura passa a dizer que tem “filhinhos”, mas … Ler mais

“Memórias guiadas pela ternura”, por Eloésio Paulo sobre o livro “Quase memória” de Carlos Heitor Cony

O quase do título remete à consciência, incontornável para qualquer escritor lúcido, de que não é possível separar totalmente ficção e memória. Já o reconhecia o velho Bento Santiago no início de Dom Casmurro, sua tentativa de recapitular a própria vida: “Pois, senhor, não consegui recompor nem o que foi nem o que fui.” Nesse … Ler mais

“Drama sentimental e denúncia da grilagem, no melhor livro de Jorge Amado”, por Eloésio Paulo sobre a obra “Terras do sem-fim”

Sem ser ainda uma obra-prima, Terras do sem-fim (1942) é, se visto por critérios exclusivamente literários, o ponto alto da obra de Jorge Amado. O enredo, tocado com mão de mestre, entrelaça os destinos de diversas personagens tendo como tela o drama coletivo social e ecológico da destruição de uma floresta no Sul da Bahia … Ler mais

“Ventania, uma aldeia onde não havia ateus”, por Eloésio Paulo sobre o livro “Os reis da terra” de José Vicente

Um louco de pedra, dirá a maioria dos leitores, arriscando-se à sanção implacável do mimimi politicamente correto, que já não hesita em cobrar publicamente de alguém o exercício de uma linguagem “não-binária”, exatamente como as ortodoxias religiosa e estalinista de antanho. Mesmo assim, transparece em Os reis da terra (1984) um inegável talento literário, qualidade … Ler mais

“Nem tudo foi Jorge Amado na região baiana do cacau”, por Eloésio Paulo sobre o livro de Euclides Neto “Comercinho do Poço Fundo”

A poesia é, por natureza, sintética. A ficção, ao contrário, é essencialmente analítica. Nos grandes escritores, muitas vezes o equilíbrio entre ambas atesta a presença do gênio. É o caso de Guimarães Rosa, que em certos momentos, porém, desequilibrou-se para um dos lados — caso de Tutameia, onde o pendor barroquizante da prosa poética chega … Ler mais

Resenha do livro “Não verás país nenhum” de Ignácio de Loyola Brandão: “Profecia assustadora de um Brasil devastado”, por Eloésio Paulo

As cenas descritas na primeira página de Não verás país nenhum (1981), com pessoas portando “máscaras obrigatórias” e caminhões despejando carregamentos de cadáveres, já introduzem a grande força do romance: sua assustadora profecia de um futuro em que o Brasil já não conta com uma única árvore, pois até a Amazônia foi devastada completamente. O … Ler mais

Resenha do filme “A Bruxa”: “Transgressor, intenso e dramático na medida certa para quem aprecia terror psicológico”, por Bianca Maia Roque

Antes de mais nada, é bom deixar claro que A Bruxa não é uma produção baseada em jumpscare¹. Esse é um filme com muitas camadas, que entrega um roteiro dramático e intenso, porém lento, o qual pode não agradar os fãs do terror explícito e visceral como visto em Pânico e Atividade Paranormal, exemplos de … Ler mais

Crônica: “De Alfenas a Alfena: crônica de uma viagem entre cidades irmãs de diferentes mundos”, por Flaviane Faria Carvalho

Nasci na cidade sul-mineira de Alfenas. Morei – e meus pais ainda moram – na Rua Martins Alfenas. Desde pequenina, abria bem os olhos e apurava bastante os ouvidos quando alguém contava “causos” sobre a origem da minha terra. Passo agora a cumprir esse papel com vocês, leitoras e leitores, fazendo uma breve expedição por … Ler mais

Resenha “Memórias do Cárcere”: “Incômodo retrato do Brasil de Vargas, feito ao avesso por Graciliano Ramos”, por Eloésio Paulo

As Memórias do cárcere (1953) podem ser lidas como um romance. E talvez o devam ser. A primeira edição saiu no mesmo ano da morte do autor, e o livro ficou incompleto; segundo o relato de Ricardo Ramos, filho de Graciliano, faltava apenas o capítulo final, em que seriam tratadas as reações do prisioneiro recém-libertado … Ler mais

Jogo eletrônico Never Alone (Kisima Inŋitchuŋa), por Walter Francisco Figueiredo Lowande

Eu descobri o videogame Never Alone (Kisima Inŋitchuŋa) quando li o livro Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene (Duke University Press, Durham, 2016), de Donna J. Haraway. Por isso, acho importante também começar aqui pela história que nos é contada por ela, pois foi o seu livro que me permitiu compreender o … Ler mais

“O som e a fúria, tudo e nada, São Paulo: Eles eram muitos cavalos“, por Eloésio Paulo sobre o livro de Luiz Ruffato

Na literatura brasileira, pelo menos desde Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, faz parte da própria concepção de um romance digno do nome o questionamento da própria forma narrativa. A autoconsciência do status ficcional está de tal maneira entranhada na obra machadiana que se tornou, em face do caráter paradigmático do maior escritor … Ler mais

Um caso sui generis de édipo textual, por Eloésio Paulo sobre o livro “Armadilha para Lamartine”

Um rapaz de 21 anos cuja crise existencial desemboca na internação em hospício, instituição que se revela terrivelmente opressiva e capaz de destruir alguém por meio do seu “tratamento”. A semelhança do enredo com o do filme Bicho de sete cabeças não é mera coincidência: Armadilha para Lamartine (1976) é contemporâneo do livro Canto dos … Ler mais