“UAICAIS com ensaios de nocaute” – Eloésio Paulo & Marcos de Carvalho

Brevidade, simplicidade, contemplação e boa dose de humor são elementos marcantes nas páginas do novo livro de Eloésio Paulo, escrito em parceria com Marcos de Carvalho, ambos professores do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG. “UAICAIS com ensaios de nocaute”, lançado pela editora Sic Edições, é essencialmente uma coletânea de haicais, que para quem não conhece, trata-se de uma forma poética de origem japonesa caracterizada por três versos: o primeiro e o terceiro com cinco sílabas cada e o do meio com sete.

Autor de outros livros de poemas, como “O teu que é mais azul” e “O amor é um assunto imbecil”, Eloésio Paulo conta que o projeto da nova coletânea teve origem há mais de 30 anos, quando ele e Marcos de Carvalho publicaram um livro juntos. “Em 1988 nós publicamos a coletânea ‘Decurso’, que já continha a proposta de fazer dialogar nossos modos diferentes de fazer poesia”, afirma.

Eloésio Paulo e Marcos de Carvalho – cada um dos autores reuniu mais de 100 haicais na coletânea marcada pela brevidade dos versos e forte ligação com a natureza.  (Fotos: Arquivo Pessoal)

Segundo o escritor, por coincidência, os dois amigos das Letras se encontravam experimentando as possibilidades do haicai recentemente, o que contribuiu para o projeto do livro ser concretizado. “No meu caso, o que mais interessa é a brevidade do haicai e a ligação do haicai com os elementos da natureza, que sempre tiveram forte presença em meus poemas”, explica Eloésio Paulo, que ressalta o fato de um haicai ortodoxo precisar conter referência a uma estação do ano.

A brevidade e a ligação com a natureza é o que aproxima a poesia de Eloésio Paulo à poesia de Marcos de Carvalho, também autor dos livros “Breviário da neve nos trópicos” e “Subúrbio da Arte”. “Resolvemos chamar os poemas de ‘uaicais’, pois nossa visão da natureza é a de dois sul-mineiros — um de Alfenas, outro de Areado —, que cresceram em contato constante com plantas e animais, evidentemente não é a de dois japoneses”, observa.

Eloésio Paulo menciona que haicai é uma forma extremamente difundida no Japão e muito identificada com o budismo, desde seu primeiro grande cultor, Matsuo Bashô, que viveu na época da cultura japonesa contemporânea ao século X depois de Cristo. “Desde o século XIX, o haicai teve adeptos no Brasil. Alguns dos mais importantes foram, no passado, Guilherme de Almeida e Millôr Fernandes. Hoje existem alguns poetas que se dedicam exclusivamente ao haicai, casos de Alice Ruiz e Rodolfo Gutilla.”

Mas como ao ser escrito em português, um haicai foge das regras originais japonesas para adaptar à língua, Eloésio Paulo comenta que ele e Marcos de Carvalho cometeram algumas “transgressões”. “O haicai inevitavelmente sofre adaptações ao ser escrito numa língua que não a japonesa. Daí começamos com uma lista de transgressões: se for possível seguir estritamente as regras, muito bem; se não for, resta algo do espírito do haicai. E, às vezes, elementos muito pessoais como a memória afetiva e o humor fazem o poema transbordar totalmente do que seria um haicai ‘raiz’. Por isso uaicai, está sob nosso controle estabelecer o que seria um haicai mineiro”, narra.

O processo de desenvolvimento dos “uaicais” envolveu troca de e-mails entre os escritores, que perceberam a possibilidade de reunir os muitos poemas escritos e compartilhados nas conversas eletrônicas. De acordo com Eloésio Paulo, como o humor faz parte da natureza dos dois, essa conversa se mostrou muito divertida.

“Como cada um de nós já contava com dezenas desses poemas, começamos a exercitar um diálogo por correio eletrônico: um dos dois manda um uaicai, o outro acha um dos seus que vale como resposta ou escreve um novo. Assim, chegamos a um conjunto de pouco mais de 100 uaicais de cada, qualquer leitor percebe que aquilo é uma conversa”, pontua.

São 224 páginas que reúnem 106 haicais ou “uaicais” de cada autor, abrangendo temas que vão de memórias de infância à semelhança entre a pescaria e a iluminação budista. “É um livro para pessoas que se deixem distrair, mas com disposição para levar algum susto existencial. Daí o subtítulo ‘com ensaios de nocaute’”, enfatiza Eloésio Paulo.

A obra é dedicada ao professor João Cruz, de Alfenas, amigo de ambos os autores. “O professor João Cruz tem exercido por décadas o magistério em Alfenas e, além de fazê-lo de modo exemplar e invejável, foi sempre um grande incentivador da leitura de textos literários para ao menos duas gerações de alunos, entre os quais nos contamos: Marcos foi seu aluno no ensino médio e eu na faculdade de Letras”, completa. 

Os autores aguardam o final da pandemia para realizar o lançamento presencial da obra, mas quem tiver interesse em já adquirir, basta acessar a loja virtual.

 

 

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